O X da Educação | 31/03/2009 08h40min
Aos 47 anos, Antonio Calloni dá vida a César, um pai sem caráter que aplaude as atitudes violentas do filho Zeca (Duda Nagle), estudante encrenqueiro e de péssimo comportamento na escola.
César e Zeca, personagens controversos na novela Caminho das Índias, da Rede Globo, despertam, aos poucos, uma discussão nacional sobre as consequências na permissividade no comportamento de crianças e adolescentes.
Calloni conversou com ZH sobre César, filhos e violência. A seguir, trechos da conversa:
Zero Hora – Como tem sido a repercussão do personagem César?
Antonio Calloni – Por meio do César, você discute a falta de ética, o abuso do poder, a falta de limites da educação de um filho, que tem a ver diretamente com a violência escolar. As pessoas que fiquem indignadas com o personagem, que fiquem indignadas com a ficção, mas, principalmente, que fiquem indignadas com a vida real. Não adianta só ficar indignado, tem de agir. O Brasil precisa de ação. Como pai, a gente pode ajudar estando sempre perto do filho, tendo uma afetividade saudável, não uma afetividade deformada, achando que tudo o que o filho fala é bom. Ele tem de ter limites.
ZH – O senhor fala que o Brasil “precisa de ação”. Que tipo de ação?
Calloni – Uma ação mais efetiva dos poderes públicos. A nossa ação é o nosso trabalho. Com o nosso trabalho, pagamos impostos. Isso já é uma ação concreta. Aliado a isso, a reivindicação perante os poderes públicos de tomarem uma atitude concreta em relação à punição de uma agressão na escola, a resolução definitiva do problema da violência no Brasil.
ZH – De que forma o César pode contribuir para uma discussão nacional sobre violência nas escolas?
Calloni – Pelas próprias atitudes dele. O César é o primeiro mau exemplo. Acho que você também educa através do mau exemplo: não façam como o César! São atitudes atrozes.
ZH – O que as pessoas dizem na rua?
Calloni – A repercussão é maravilhosa. Apesar de não ser vilão, ele é pior do que um vilão porque ele não é mau-caráter, ele simplesmente não tem caráter. As pessoas falam com muita raiva, mas com um sorriso no rosto. Percebem a intenção do trabalho e, ao mesmo tempo, ficam indignadas com o personagem.
ZH – Até que ponto figuras paternas determinam o caráter de um filho?
Calloni – O exemplo masculino inevitável é o pai, né. Então, acho que a educação precisa ser muito mais através de atitudes do que de discurso bonito. Você precisa ter atitudes éticas perante o seu filho, nunca querendo que ele pense que você é um super-herói, mas sempre mostrando os teus defeitos, as tuas fragilidades.
ZERO HORAOs pais querem ter o carro mais moderno do ano, querem que os filhos estudem nas melhores escolas e vistam as melhores marcas. Estes pais não querem filhos, são vitrines inúteis, pais e filhos deste tipo.
Infelizmente os pais perderam a autoridade com seus filhos e isso vem refletir dentro da sala de aula, principalmente no desinteresse pela vida e pela própria busca do conhecimento formal. Para que estudar se a maioria dos pais faz exatamente como o pai da novela?
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