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 | 11/02/2011 11h28min

Exército egípcio apoia reforma do regime de Mubarak e pede fim da revolta popular

Para irritação e frustração dos manifestantes, presidente afirmou que não se afastará do cargo

O Exército egípcio se comprometeu a garantir as reformas anunciadas pelo regime de Hosni Mubarak e pediu o fim da revolta popular, mas não conseguiu acalmar o clamor das ruas, que nesta sexta-feira, dia de oração muçulmana, são cenários de novos protestos.

Mais cedo, os militares anunciaram que garantirão as reformas democráticas prometidas pelo regime de Mubarak, entre elas "eleições livres e transparentes", ao mesmo tempo em que pediu ao país que retorne à normalidade, advertindo contra qualquer ataque à segurança nacional.

Em um comunicado lido por um coronel do Exército para os manifestantes reunidos em frente ao Palácio Presidencial, o conselho supremo das Forças Armadas assegurou que garante as reformas prometidas por Mubarak, que na véspera anunciou sua intenção demanter-se no cargo apesar da rebelião que exige sua renúncia.

Os manifestantes expressaram revolta pelo apoio dos militares à tentativa de Mubarak de permanecer no poder. As pessoas reunidas diante do palácio tinham a esperança de que os militares atuassem para derrubar o presidente de 82 anos, que está há três décadas no poder. Um deles tirou o microfone do oficial para criticar a atitude.

— Vocês nos decepcionaram, vocês eram nossa esperança — afirmou, em meio aos gritos da multidão contra Mubarak.

— Não, não, isto não é um golpe — protestou o coronel, antes de insistir que o Exército não tomaria o poder, mas se esforçaria para garantir que a vontade popular seja refletida no programa do regime civil.

Para irritação e frustração dos manifestantes, Mubarak afirmou na quinta-feira que delegará poderes a seu vice-presidente, Omar Suleiman, mas não se afastará do cargo até setembro, quando ocorrerão as eleições gerais — para as quais ele prometeu que não se candidatará.

Coincidindo com o feriado muçulmano, nesta sexta-feira — que já está sendo chamada de Sexta-feira da Ira pelos manifestantes — foi convocado um novo protesto após as orações do meio-dia (8h de Brasília). Na Praça Tahrir, do Cairo, centro nervoso dos protestos contra o regime, milhares de pessoas passaram a noite na rua, indignadas com a obstinação do presidente, que se agarra ao poder. O número de barracas na praça aumenta a cada dia.

Mosaico: os protestos no Egito em imagens:

 


>>>Confira a cronologia dos incidentes:

Dia 24 de janeiro:

Um homem de 50 anos toca fogo em si mesmo em frente ao Parlamento, no Cairo, numa possível reprodução do suicídio de um jovem tunisiano em meados de dezembro que desencadeou a revolta e subsequente derrubada do presidente Zine El Abidine Ben Ali. Nos dias seguintes, mais três egípcios fazem o mesmo — um deles, de 25 anos, não resiste aos ferimentos e morre.

 
Foto: Martin Bureau, AFP

Dia 25:

Insuflados pelo líder da oposição, Mohamed ElBaradei, milhares de pessoas tomam as ruas do Egito pedindo a renúncia do presidente do país, Hosni Mubarak. Nos confrontos com a polícia, dois manifestantes morrem em Suez e um policial é morto no Cairo.

Dia 26:

As manifestações se espalham dos grandes centros para cidades menores, aumentando em número e violência. No Cairo, um policial e um manifestante são mortos, enquanto em Suez 55 protestantes e 15 homens da força anti-motim são feridos.

Dia 27:

Diante do saldo violento, com mais um jovem morto em Sinai, a Casa Branca cobra providências do governo do Cairo para evitar os embates, enquanto a União Européia chama atenção para o direito de protestas da população.

Dia 28:

O saldo da violência chega a 13 mortos, centenas de feridos e quase mil presos. Os protestos aumentam e manifestantes tocam fogo no prédio do governo em Alexandria e na sede do Partido Democrático Nacional. Os serviços de internet são derrubados e ElBaradei diz que está pronto para liderar a transição, enquanto Mubarak impõe toque de recolher e promete reformas.


 
Foto: Reprodução, Egyptian TV

Dia 29:

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, designou um vice-presidente, o chefe da inteligência Omar Suleiman, pela primeira vez em 30 anos, e um novo primeiro-ministro, ambos com cargo de general, para tentar sufocar a rebelião já deixa mais de 90 mortos.

Dia 30:

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, visitou um centro de operações do exército e ordenou que o toque de recolher no Cairo, Alexandria e Suez seja ampliado em uma hora. O toque de recolher, instaurado na sexta-feira devido aos protestos da população para exigir a renúncia de Mubarak, foi gradualmente ampliado, mas não é respeitado pela população. Neste domingo, as autoridades egípcias ordenaram à polícia antimotins que volte a atuar em todo o país, depois de dois dias nos quais esteve virtualmente ausente, quando ocorreram diversos saques enquanto o exército lidava com uma revolta popular.

Dia 31:

O movimento contra o regime convocou uma greve geral por tempo indeterminado. Durante a manhã, a emissora estatal egípcia anunciou a formação de um novo governo no país, substituindo o governo dissolvido na sexta-feira. Na mudança mais significativa, o criticado ministro do Interior — responsável pelas forças de segurança — foi substituído.

O exército anunciou que não usará a força contra os manifestantes e declarou que considera as demandas do povo "legítimas". O último provedor de internet egípcio ainda em funcionamento, o Grupo Noor, caiu nesta segunda-feira, deixando o país sem acesso à rede.

Dia 1º:

No oitavo dia de intensos protestos anti-governamentais, mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas de todo país protestando contra o governo, na chamada "Marcha do Milhão". Os conflitos podem ter deixado cerca de 300 mortos, segundo a ONU. No poder desde 1981, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, garantiu que não irá tentar a reeleição, em discurso transmitido pela emissora de TV estatal.

Dia 2:

Pela manhã, 500 partidários do presidente egípcio Hosni Mubarak se reuniram no Cairo para manifestar apoio ao governante. O vice-presidente, Omar Suleiman, pediu que manifestantes voltassem para casa devido aos confrontos violentos entre partidários e adversários do presidente. No fim da noite, o Ministério da Saúde do país confirmou três mortos e 639 feridos nos confrontos entre apoiadores e opositores do regime egípcio na Praça Tahrir. Apesar do número oficial, a rede Al Jazeera e jornais como The Guardian e El País falavam em mais de 1,5 mil feridos.

Dia 3:

No 10º dia de protestos no Egito, o presidente Hosni Mubarak, disse em entrevista à rede de TV americana ABC que deseja deixar o poder, mas teme o caos que pode ser criado caso o faça. Já a Coalizão Nacional pela Mudança, que reúne os principais grupos de oposição do Egito, rejeitou qualquer diálogo com o regime antes da renúncia de Mubarak. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, pediu ao governo e à oposição que comecem "imediatamente" negociações sérias para uma transição. No acesso à ponte que leva à Praça de Tahrir, onde estão os manifestantes, foram montadas barreiras. Nas ruas de Cairo, muito civis armados.

Dia 4:

Centenas de milhares de egípcios saíram às ruas para participar do dia batizado de "Dia da Partida". Durante a noite, um intenso tiroteio foi ouvido na Praça Tahrir, no centro do Cairo, espalhando pânico na multidão de manifestantes antigovernamentais que se encontram reunidos no local.

Um jornal estatal informou que um jornalista egípcio morreu pelos ferimentos de tiros disparados durante confrontos entre partidários e opositores de Mubarak. O jornal Al-Ahram afirmou que Ahmed Mohammed Mahmud, do jornal Al-Taawun faleceu após permanecer em coma por quatro dias. Ele foi atingido por franco-atiradores há uma semana quando tirava fotografias a partir de seu apartamento, perto da Praça Tahrir.

Dia 5:

A rede americana Fox News anunciou que o vice-presidente do país, Omar Suleiman, sobreviveu a uma tentativa de assassinato. A informação depois foi confirmada pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton. Homens armados teriam disparado contra o comboio de Suleiman e matado dois guarda-costas do vice-presidente. O presidente americano, Barack Obama, afirmou, depois de conversar com lideranças estrangeiras sobre a crise no Egito, que é necessário o início de "uma transição ordeira e pacífica" no governo do país.

Em medida destinada a isolar ainda mais o presidente Hosni Mubarak, o birô executivo do Partido Nacional Democrata anunciou sua demissão. O filho de Mubarak, Gamal, foi afastado da direção do partido. O presidente, por sua vez, reuniu-se com ministros do novo governo, pela primeira vez desde a destituição do gabinete anterior.

Dia 6:

As principais forças de oposição do Egito foram convidads pelo vice-presidente Omar Suleiman para um diálogo com o governo. Foi decidido a criação de um comitê encarregado de realizar reformas constitucionais, a criação de um escritório para receber queixas relativas a presos políticos, o levantamento das restrições impostas aos meios de comunicação e a rejeição a "qualquer intromissão externa nos assuntos egípcios".

As propostas, no entanto, foram consideradas insuficientes pelo dirigente da Irmandade Muçulmana, que  afirmou que o encontro de hoje "foi apenas um primeiro passo".

A secretária americana de Estado, Hillary Clinton, admitiu que o governante egípcio pode permanecer mais tempo no poder do que a oposição deseja para garantir a realização de eleições.

Dia 7:

Apesar do início do diálogo, a oposição insiste na renúncia imediata de Mubarak no Egito. Pelo 14º dia consecutivo, a praça Tahrir, no centro do Cairo, continua ocupada pelos manifestantes que exigem que as negociações entre o regime e a oposição iniciadas no domingo não deixem de lado o objetivo de que Mubarak, no poder há 30 anos, deixe a Presidência.

Dia 8:

O presidente Mubarak assina um decreto para a formação de uma comissão constitucional que vai revisar emendas constitucionais, e apresentar as emendas legislativas solicitadas. Os protestos continuam.

Dia 9:

Um grupo integrante da rede Al-Qaeda — O Estado Islâmico do Iraque — pede aos manifestantes egípcios que promovam a guerra santa e estabeleçam um governo baseado na lei islâmica, informa o site de monitoração de endereços islâmicos, com sede nos Estados Unidos.

AFP
 
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