| 07/02/2011 08h52min
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, enfrenta nesta segunda-feira novas pressões para deixar o poder imediatamente, depois que a oposição considerou insuficientes as propostas de negociar uma saída que permita ao chefe de Estado permanecer no cargo até setembro. No oitavo dia de intensos protestos anti-governamentais, mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas de todo país protestando contra o governo, na chamada "Marcha do Milhão". Os conflitos podem ter deixado cerca de 300 mortos, segundo a ONU. No poder desde 1981, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, garantiu que não irá tentar a reeleição, em discurso transmitido pela emissora de TV estatal. Dia 4:
Pelo 14º dia consecutivo, a praça Tahrir, no centro do Cairo, continua ocupada pelos manifestantes que exigem que as negociações entre o regime e a oposição iniciadas no domingo não deixem de lado o objetivo de que Mubarak, no poder há 30 anos, deixe a Presidência. Os grupos de jovens que iniciaram a revolta contra Mubarak formaram uma coalizão e anunciaram que não pretendem desocupar a praça Tahrir até que o chefe de Estado renuncie ao poder.
Em um comunicado, a "Direção Unificada dos Jovens Revolucionários Revoltados" promete não abandonar a praça, ocupada por outros manifestantes desde 28 de janeiro, até que suas reivindicações sejam atendidas. A primeira exigência é a "renúncia do presidente".
Homens armados não identificados lançaram quatro foguetes contra um quartel da polícia na cidade de Rafah na manhã desta segunda-feira, deixando um ferido. Os autores do ataque ainda não foram identificados.
Vários ataques com foguetes contra prédios do governo foram registrados na região do Sinai, na fronteira com a Faixa de Gaza. No sábado, um gasoduto que liga o país à Jordânia foi atacado com explosivos.
O presidente americano, Barack Obama, destacou no domingo que o Egito passa por uma mudança política e defendeu a instauração de um "governo representativo" no país árabe, mas não pediu a saída imediata de Mubarak, um aliado de longa data de Washington.
— Só ele sabe o que vai fazer. Não vai tentar a reeleição. O mandato termina este ano — declarou Obama em entrevista ao canal Fox News.
Mubarak prometeu na semana passada que não concorreria a um novo mandato nas eleições de setembro, mas se negou a deixar o poder de maneira imediata, alegando que isto poderia afundar o país no "caos".
O vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, nomeado para o cargo nos primeiros dias da crise, recebeu no domingo representantes de diversos grupos opositores, incluindo o movimento Irmandade Muçulmana, mas os contatos não melhoraram a situação. Depois do encontro, os participantes concordaram em efetuar uma "transição pacífica do poder baseada na Constituição", anunciou o porta-voz do governo, Magdi Radi.
Mas a Irmandade Muçulmana afirmou que as reformas propostas pelo regime eram insuficientes. Uma pessoa presente ao encontro afirmou que todas as reivindicações da oposição foram rejeitadas, especialmente a que pedia que os responsáveis pela violência da semana passada fossem levados aos tribunais.
Quase 300 pessoas morreram desde o início da revolta popular, segundo a ONU. De acordo com o porta-voz do governo, os participantes no diálogo chegaram a um consenso sobre a formação de um comitê, que incluirá o Poder Judiciário e personalidades políticas, para estudar e propor emendas constitucionais e legislativas.
O diálogo contou com a presença de integrantes da Irmandade Muçulmana, dos partidos Wafd (liberal) e Tagamu (esquerda), de membros de um comitê dos grupos pró-democracia que iniciaram o movimento que exige a queda de Mubarak, além de figuras políticas independentes e empresários.
Com a participação, a Irmandade Muçulmana se distancia do Irã, que defende a implantação de um regime islâmico no Egito. O grande ausente do diálogo foi Mohamed ElBaradei, Prêmio Nobel da Paz e figura de destaque da oposição. No domingo, os manifestantes celebraram na praça Tahrir uma cerimônia conjunta entre muçulmanos e cristãos.
>>> Mosaico: os protestos no Egito em imagens:
>>>Confira a cronologia dos incidentes:
De 24 de janeiro a 4 de fevereiro:
Um homem de 50 anos toca fogo em si mesmo em frente ao Parlamento, no Cairo, numa possível reprodução do suicídio de um jovem tunisiano em meados de dezembro que desencadeou a revolta e subsequente derrubada do presidente Zine El Abidine Ben Ali. Nos dias seguintes, mais três egípcios fazem o mesmo — um deles, de 25 anos, não resiste aos ferimentos e morre.
Foto: Martin Bureau, AFP
Dia 25:
Insuflados pelo líder da oposição, Mohamed ElBaradei, milhares de pessoas tomam as ruas do Egito pedindo a renúncia do presidente do país, Hosni Mubarak. Nos confrontos com a polícia, dois manifestantes morrem em Suez e um policial é morto no Cairo.
Dia 26:
As manifestações se espalham dos grandes centros para cidades menores, aumentando em número e violência. No Cairo, um policial e um manifestante são mortos, enquanto em Suez 55 protestantes e 15 homens da força anti-motim são feridos.
Dia 27:
Diante do saldo violento, com mais um jovem morto em Sinai, a Casa Branca cobra providências do governo do Cairo para evitar os embates, enquanto a União Européia chama atenção para o direito de protestas da população.
Dia 28:
O saldo da violência chega a 13 mortos, centenas de feridos e quase mil presos. Os protestos aumentam e manifestantes tocam fogo no prédio do governo em Alexandria e na sede do Partido Democrático Nacional. Os serviços de internet são derrubados e ElBaradei diz que está pronto para liderar a transição, enquanto Mubarak impõe toque de recolher e promete reformas.
Foto: Reprodução, Egyptian TV
Dia 29:
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, designou um vice-presidente, o chefe da inteligência Omar Suleiman, pela primeira vez em 30 anos, e um novo primeiro-ministro, ambos com cargo de general, para tentar sufocar a rebelião já deixa mais de 90 mortos.
Dia 30:
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, visitou um centro de operações do exército e ordenou que o toque de recolher no Cairo, Alexandria e Suez seja ampliado em uma hora. O toque de recolher, instaurado na sexta-feira devido aos protestos da população para exigir a renúncia de Mubarak, foi gradualmente ampliado, mas não é respeitado pela população. Neste domingo, as autoridades egípcias ordenaram à polícia antimotins que volte a atuar em todo o país, depois de dois dias nos quais esteve virtualmente ausente, quando ocorreram diversos saques enquanto o exército lidava com uma revolta popular.
Dia 31:
O movimento contra o regime convocou uma greve geral por tempo indeterminado. Durante a manhã, a emissora estatal egípcia anunciou a formação de um novo governo no país, substituindo o governo dissolvido na sexta-feira. Na mudança mais significativa, o criticado ministro do Interior — responsável pelas forças de segurança — foi substituído.
O exército anunciou que não usará a força contra os manifestantes e declarou que considera as demandas do povo "legítimas". O último provedor de internet egípcio ainda em funcionamento, o Grupo Noor, caiu nesta segunda-feira, deixando o país sem acesso à rede.
Dia 1º:
Dia 2:
Pela manhã, 500 partidários do presidente egípcio Hosni Mubarak se reuniram no Cairo para manifestar apoio ao governante. O vice-presidente, Omar Suleiman, pediu que manifestantes voltassem para casa devido aos confrontos violentos entre partidários e adversários do presidente. No fim da noite, o Ministério da Saúde do país confirmou três mortos e 639 feridos nos confrontos entre apoiadores e opositores do regime egípcio na Praça Tahrir. Apesar do número oficial, a rede Al Jazeera e jornais como The Guardian e El País falavam em mais de 1,5 mil feridos.
Dia 3:
No 10º dia de protestos no Egito, o presidente Hosni Mubarak, disse em entrevista à rede de TV americana ABC que deseja deixar o poder, mas teme o caos que pode ser criado caso o faça. Já a Coalizão Nacional pela Mudança, que reúne os principais grupos de oposição do Egito, rejeitou qualquer diálogo com o regime antes da renúncia de Mubarak. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, pediu ao governo e à oposição que comecem "imediatamente" negociações sérias para uma transição. No acesso à ponte que leva à Praça de Tahrir, onde estão os manifestantes, foram montadas barreiras. Nas ruas de Cairo, muito civis armados.
Centenas de milhares de egípcios saíram às ruas para participar do dia batizado de "Dia da Partida". Durante a noite, um intenso tiroteio foi ouvido na Praça Tahrir, no centro do Cairo, espalhando pânico na multidão de manifestantes antigovernamentais que se encontram reunidos no local.
Um jornal estatal informou que um jornalista egípcio morreu pelos ferimentos de tiros disparados durante confrontos entre partidários e opositores de Mubarak. O jornal Al-Ahram afirmou que Ahmed Mohammed Mahmud, do jornal Al-Taawun faleceu após permanecer em coma por quatro dias. Ele foi atingido por franco-atiradores há uma semana quando tirava fotografias a partir de seu apartamento, perto da Praça Tahrir.
Dia 5:
A rede americana Fox News anunciou que o vice-presidente do país, Omar Suleiman, sobreviveu a uma tentativa de assassinato. A informação depois foi confirmada pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton. Homens armados teriam disparado contra o comboio de Suleiman e matado dois guarda-costas do vice-presidente. O presidente americano, Barack Obama, afirmou, depois de conversar com lideranças estrangeiras sobre a crise no Egito, que é necessário o início de "uma transição ordeira e pacífica" no governo do país.
Em medida destinada a isolar ainda mais o presidente Hosni Mubarak, o birô executivo do Partido Nacional Democrata anunciou sua demissão. O filho de Mubarak, Gamal, foi afastado da direção do partido. O presidente, por sua vez, reuniu-se com ministros do novo governo, pela primeira vez desde a destituição do gabinete anterior.
Dia 6:
As principais forças de oposição do Egito foram convidads pelo vice-presidente Omar Suleiman para um diálogo com o governo. Foi decidido a criação de um comitê encarregado de realizar reformas constitucionais, a criação de um escritório para receber queixas relativas a presos políticos, o levantamento das restrições impostas aos meios de comunicação e a rejeição a "qualquer intromissão externa nos assuntos egípcios".
As propostas, no entanto, foram consideradas insuficientes pelo dirigente da Irmandade Muçulmana, que afirmou que o encontro de hoje "foi apenas um primeiro passo".
A secretária americana de Estado, Hillary Clinton, admitiu que o governante egípcio pode permanecer mais tempo no poder do que a oposição deseja para garantir a realização de eleições.
Manifestante egípcio da Irmandade Muçulmana reza em frente a soldados, na Praça Tahrir, no 14º dia de protestos
Foto:
Patrick Baz, AFP
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