| 02/02/2011 11h45min
Um grupo que saiu em passeata para demonstrar apoio ao presidente egípcio Hosni Mubarak entrou em conflito nesta quarta-feira com os manifestantes que protestam há mais de uma semana exigindo sua renúncia na Praça Tahrir, no centro do Cairo. Há dezenas de feridos, segundo testemunhas. Milhares de manifestantes dos dois lados estavam na praça, epicentro das passeatas contra o governo, que hoje completam nove dias. A oposição acusa policiais à paisana de se infiltrar no protesto na praça Tharir.
— O PND (Partido Nacional Democrata) pró-Mubarak e a polícia secreta vestida à paisana invadiram a praça para acabar com o protesto — afirmou o manifestante Mohammed Zomor, de 63 anos.
Manifestantes dos dois lados se enfrentam com violência, atirando pedras uns contra os outros, sob o olhar de soldados que assistem a tudo sobre os tanques mobilizados na praça, sem intervir. Imagens da rede americana CNN mostram partidários de Mubarak atacando os manifestantes com cassetetes e pedaços de pau, montados sobre camelos e cavalos. Alguns deles foram derrubados de cima dos animais e arrastados por entre a multidão, enquanto eram espancados.
Um deles foi carregado inconsciente, e muitos aparecem com sangue escorrendo da cabeça. Horas antes, o Exército havia lançado um apelo pedindo às pessoas que abandonassem as manifestações e voltassem para casa.
— O Exército pede aos manifestantes que retornem a suas casas para restabelecer a segurança e a estabilidade nas ruas — declarou o porta-voz militar.
O pedido das Forças Armadas foi feito um dia depois de Mubarak ter anunciado que não vai disputar as eleições presidenciais de setembro, mas que está decidido a cumprir a totalidade de seu mandato. O discurso de Mubarak foi rejeitado pelos manifestantes. Milhares de pessoas passaram a noite na Praça Tahrir, no centro do Cairo, desafiando o toque de recolher, e nesta quarta-feira retomaram os protestos para exigir a renúncia do presidente egípcio.
>>> Mosaico: os protestos no Egito em imagens:
>>>Confira a cronologia dos incidentes:
De 17 a 20 de janeiro:
Um homem de 50 anos toca fogo em si mesmo em frente ao Parlamento, no Cairo, numa possível reprodução do suicídio de um jovem tunisiano em meados de dezembro que desencadeou a revolta e subsequente derrubada do presidente Zine El Abidine Ben Ali. Nos dias seguintes, mais três egípcios fazem o mesmo — um deles, de 25 anos, não resiste aos ferimentos e morre.
Foto: Martin Bureau, AFP
Dia 25:
Insuflados pelo líder da oposição, Mohamed ElBaradei, milhares de pessoas tomam as ruas do Egito pedindo a renúncia do presidente do país, Hosni Mubarak. Nos confrontos com a polícia, dois manifestantes morrem em Suez e um policial é morto no Cairo.
Dia 26:
As manifestações se espalham dos grandes centros para cidades menores, aumentando em número e violência. No Cairo, um policial e um manifestante são mortos, enquanto em Suez 55 protestantes e 15 homens da força anti-motim são feridos.
Dia 27:
Diante do saldo violento, com mais um jovem morto em Sinai, a Casa Branca cobra providências do governo do Cairo para evitar os embates, enquanto a União Européia chama atenção para o direito de protestas da população.
Dia 28:
O saldo da violência chega a 13 mortos, centenas de feridos e quase mil presos. Os protestos aumentam e manifestantes tocam fogo no prédio do governo em Alexandria e na sede do Partido Democrático Nacional. Os serviços de internet são derrubados e ElBaradei diz que está pronto para liderar a transição, enquanto Mubarak impõe toque de recolher e promete reformas.
Foto: Reprodução, Egyptian TV
Dia 29:
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, designou um vice-presidente, o chefe da inteligência Omar Suleiman, pela primeira vez em 30 anos, e um novo primeiro-ministro, ambos com cargo de general, para tentar sufocar a rebelião já deixa mais de 90 mortos.
Dia 30:
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, visitou um centro de operações do exército e ordenou que o toque de recolher no Cairo, Alexandria e Suez seja ampliado em uma hora. O toque de recolher, instaurado na sexta-feira devido aos protestos da população para exigir a renúncia de Mubarak, foi gradualmente ampliado, mas não é respeitado pela população. Neste domingo, as autoridades egípcias ordenaram à polícia antimotins que volte a atuar em todo o país, depois de dois dias nos quais esteve virtualmente ausente, quando ocorreram diversos saques enquanto o exército lidava com uma revolta popular.
Dia 31:
O movimento contra o regime convocou uma greve geral por tempo indeterminado. Durante a manhã, a emissora estatal egípcia anunciou a formação de um novo governo no país, substituindo o governo dissolvido na sexta-feira. Na mudança mais significativa, o criticado ministro do Interior — responsável pelas forças de segurança — foi substituído.
O exército anunciou que não usará a força contra os manifestantes e declarou que considera as demandas do povo "legítimas". O último provedor de internet egípcio ainda em funcionamento, o Grupo Noor, caiu nesta segunda-feira, deixando o país sem acesso à rede.
Dia 1º:
No oitavo dia de intensos protestos anti-governamentais, mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas de todo país protestando contra o governo, na chamada "Marcha do Milhão". Os conflitos podem ter deixado cerca de 300 mortos, segundo a ONU. No poder desde 1981, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, garantiu que não irá tentar a reeleição, em discurso transmitido pela emissora de TV estatal.
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