| 02/02/2011 01h21min
Cheguei ao Cairo à 1h da manhã desta quarta-feira (21h de terça-feira pelo horário de Brasília) em um voo da Egyptair vindo da Alemanha. Meu voo original, pela companhia Lufthansa, foi suspenso. A situação é de caos no aeroporto da capital egípcia. A maioria das lojas está fechada.
Na área de embarque, onde a situação é mais crítica, há somente uma farmácia, uma lancheria e uma casa de câmbio abertas. Há muitos egípcios tentando sair do país, desesperados, seja para outros países árabes, seja para destinos europeus. Os estrangeiros são poucos no momento.
A situação também não está fácil em relação aos táxis. Não há táxis disponíveis, e os carros que fazem esse serviço de forma privada não vão ao centro da cidade à noite. Quem chega ao aeroporto durante a madrugada, como eu, tem de permanecer aqui ou procurar algum hotel nas imediações.
Há muita gente na área de embarque — uma criança que aparentava ter quatro anos, por exemplo, dormia sobre uma mala. O terminal 3, onde desembarquei, não tinha caos, mas estava semideserto.
Conversei com dois egípcios para saber o que eles sentem em relação ao momento político do Egito. O estudante Mohamed Reda, 22 anos, tentava ir ao Kuwait para visitar a irmã e o cunhado. Ele tinha um voo marcado para a 1h, mas foi remarcado para as 14h30min da tarde de hoje.
— A situação do Egito é nova, mas não pretendo desistir do país. Quero voltar ao Egito e me orgulhar dele. Acredito que os problemas serão resolvidos — disse Reda.
O outro egípcio, Mohamed Atiq, 19 anos, também se disse preocupado com a situação e tentava embarcar para a Holanda.
O olhar estrangeiro, porém, é diferente. Uma canadense com quem conversei ainda em Frankfurt recém havia deixado o Egito e estava muito assustada. Ela passou um dia no aeroporto esperando um voo. Embora a canadense morasse em um bairro mais tranquilo da capital egípcia, ouvia barulhos de tiros à noite.
>>> Mosaico: os protestos no Egito em imagens:
>>>Confira a cronologia dos incidentes:
De 17 a 20 de janeiro:
Um homem de 50 anos toca fogo em si mesmo em frente ao Parlamento, no Cairo, numa possível reprodução do suicídio de um jovem tunisiano em meados de dezembro que desencadeou a revolta e subsequente derrubada do presidente Zine El Abidine Ben Ali. Nos dias seguintes, mais três egípcios fazem o mesmo — um deles, de 25 anos, não resiste aos ferimentos e morre.
Foto: Martin Bureau, AFP
Dia 25:
Insuflados pelo líder da oposição, Mohamed ElBaradei, milhares de pessoas tomam as ruas do Egito pedindo a renúncia do presidente do país, Hosni Mubarak. Nos confrontos com a polícia, dois manifestantes morrem em Suez e um policial é morto no Cairo.
Dia 26:
As manifestações se espalham dos grandes centros para cidades menores, aumentando em número e violência. No Cairo, um policial e um manifestante são mortos, enquanto em Suez 55 protestantes e 15 homens da força anti-motim são feridos.
Dia 27:
Diante do saldo violento, com mais um jovem morto em Sinai, a Casa Branca cobra providências do governo do Cairo para evitar os embates, enquanto a União Européia chama atenção para o direito de protestas da população.
Dia 28:
O saldo da violência chega a 13 mortos, centenas de feridos e quase mil presos. Os protestos aumentam e manifestantes tocam fogo no prédio do governo em Alexandria e na sede do Partido Democrático Nacional. Os serviços de internet são derrubados e ElBaradei diz que está pronto para liderar a transição, enquanto Mubarak impõe toque de recolher e promete reformas.
Foto: Reprodução, Egyptian TV
Dia 29:
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, designou um vice-presidente, o chefe da inteligência Omar Suleiman, pela primeira vez em 30 anos, e um novo primeiro-ministro, ambos com cargo de general, para tentar sufocar a rebelião já deixa mais de 90 mortos.
Dia 30:
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, visitou um centro de operações do exército e ordenou que o toque de recolher no Cairo, Alexandria e Suez seja ampliado em uma hora. O toque de recolher, instaurado na sexta-feira devido aos protestos da população para exigir a renúncia de Mubarak, foi gradualmente ampliado, mas não é respeitado pela população. Neste domingo, as autoridades egípcias ordenaram à polícia antimotins que volte a atuar em todo o país, depois de dois dias nos quais esteve virtualmente ausente, quando ocorreram diversos saques enquanto o exército lidava com uma revolta popular.
Dia 31:
No início do sétimo dia de protestos que exigem a renúncia do presidente Hosni Mubarak, o movimento contra o regime convocou uma greve geral por tempo indeterminado e uma passeata de um milhão de pessoas para a terça-feira. Durante a manhã, a emissora estatal egípcia anunciou a formação de um novo governo no país, substituindo o governo dissolvido na sexta-feira. Na mudança mais significativa, o criticado ministro do Interior - responsável pelas forças de segurança - foi substituído.O exército anunciou que não usará a força contra as dezenas de milhares de pessoas que se mobilizam no país para pedir a saída do presidente e declarou que considera as demandas do povo "legítimas". O último provedor de internet egípcio ainda em funcionamento, o Grupo Noor, caiu nesta segunda-feira, deixando o país sem acesso à rede.
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