| 01/02/2011 22h05min
O presidente americano, Barack Obama, afirmou ao presidente egípcio Hosni Mubarak que a transição política ordenada e pacífica deve começar "agora" no Egito. Os líderes conversaram por telefone nesta terça-feira, durante cerca de 30 minutos.
Em sua primeira reação após o anúncio de Mubarak de que deixará o cargo após as eleições de setembro, Obama reiterou de que não é papel dos Estados Unidos escolher o líder do Egito.
Obama colocou mais pressão sobre Mubarak, um aliado dos EUA há 30 anos, mas não se juntou às multidões de manifestantes que pedem para que ele saia do poder imediatamente.
— O que está claro, e que eu indiquei hoje ao presidente Mubarak, é a minha crença de que uma transição ordenada deve ser significativa, deve ser pacífica, e deve começar agora — disse Obama, minutos depois de conversar por telefone com o líder egípcio.
Obama também fez um gesto em direção à multidão de jovens egípcios que reagiram com raiva ao anúncio de Mubarak de que permanecerá no poder até setembro.
— Para as pessoas do Egito, particularmente aos jovens do Egito, eu quero ser claro, nós ouvimos as suas vozes. Eu tenho uma convicção firme de que vocês irão determinar seu próprio destino — afirmou Obama na Casa Branca.
Em discurso transmitido pela emissora de TV estatal nesta terça-feira, Mubarak afirmou que irá completar seu quinto mandato cumprindo as exigências da coalizão de forças oposicionistas que o desafiam.
Após o discurso, milhares de manifestantes do Cairo vaiaram o presidente e reiteraram seu pedido para que ele deixe o cargo imediatamente. Nas ruas, ouviam-se gritos de "Saia, saia" dos manifestantes.
País mais populoso do mundo árabe, com 80 milhões de habitantes, o Egito é um aliado do Ocidente e administra o Canal de Suez, essencial para abastecer com petróleo os países industrializados dependentes do combustivel. É, além da Jordânia, um dos países árabes signatários de um tratado de paz com Israel.
No oitavo dia de intensos protestos anti-governamentais, mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas de todo país protestando contra o governo de Mubarak, que está no poder há 30 anos. Os conflitos podem ter deixado cerca de 300 mortos, segundo a ONU.
>>>Confira a cronologia dos incidentes:
De 17 a 20 de janeiro:
Um homem de 50 anos toca fogo em si mesmo em frente ao Parlamento, no Cairo, numa possível reprodução do suicídio de um jovem tunisiano em meados de dezembro que desencadeou a revolta e subsequente derrubada do presidente Zine El Abidine Ben Ali. Nos dias seguintes, mais três egípcios fazem o mesmo — um deles, de 25 anos, não resiste aos ferimentos e morre.
Foto: Martin Bureau, AFP
Dia 25:
Insuflados pelo líder da oposição, Mohamed ElBaradei, milhares de pessoas tomam as ruas do Egito pedindo a renúncia do presidente do país, Hosni Mubarak. Nos confrontos com a polícia, dois manifestantes morrem em Suez e um policial é morto no Cairo.
Dia 26:
As manifestações se espalham dos grandes centros para cidades menores, aumentando em número e violência. No Cairo, um policial e um manifestante são mortos, enquanto em Suez 55 protestantes e 15 homens da força anti-motim são feridos.
Dia 27:
Diante do saldo violento, com mais um jovem morto em Sinai, a Casa Branca cobra providências do governo do Cairo para evitar os embates, enquanto a União Européia chama atenção para o direito de protestas da população.
Dia 28:
O saldo da violência chega a 13 mortos, centenas de feridos e quase mil presos. Os protestos aumentam e manifestantes tocam fogo no prédio do governo em Alexandria e na sede do Partido Democrático Nacional. Os serviços de internet são derrubados e ElBaradei diz que está pronto para liderar a transição, enquanto Mubarak impõe toque de recolher e promete reformas.
Foto: Reprodução, Egyptian TV
Dia 29:
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, designou um vice-presidente, o chefe da inteligência Omar Suleiman, pela primeira vez em 30 anos, e um novo primeiro-ministro, ambos com cargo de general, para tentar sufocar a rebelião já deixa mais de 90 mortos.
Dia 30:
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, visitou um centro de operações do exército e ordenou que o toque de recolher no Cairo, Alexandria e Suez seja ampliado em uma hora. O toque de recolher, instaurado na sexta-feira devido aos protestos da população para exigir a renúncia de Mubarak, foi gradualmente ampliado, mas não é respeitado pela população. Neste domingo, as autoridades egípcias ordenaram à polícia antimotins que volte a atuar em todo o país, depois de dois dias nos quais esteve virtualmente ausente, quando ocorreram diversos saques enquanto o exército lidava com uma revolta popular.
Dia 31:
No início do sétimo dia de protestos que exigem a renúncia do presidente Hosni Mubarak, o movimento contra o regime convocou uma greve geral por tempo indeterminado e uma passeata de um milhão de pessoas para a terça-feira. Durante a manhã, a emissora estatal egípcia anunciou a formação de um novo governo no país, substituindo o governo dissolvido na sexta-feira. Na mudança mais significativa, o criticado ministro do Interior - responsável pelas forças de segurança - foi substituído.O exército anunciou que não usará a força contra as dezenas de milhares de pessoas que se mobilizam no país para pedir a saída do presidente e declarou que considera as demandas do povo "legítimas". O último provedor de internet egípcio ainda em funcionamento, o Grupo Noor, caiu nesta segunda-feira, deixando o país sem acesso à rede.
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