Agricultura | 21/06/2011 07h10min
Um alerta para o futuro. Assim os autores de um estudo feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com a Unicamp, encaram os resultados da projeção que aponta estimativas do impacto causado pelo aquecimento global na agricultura brasileira até o final deste século.
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Trabalhando com dois cenários (um pessimista, em que temperatura aumenta de 2°C a 5,4°C até 2100, e outro otimista, com alta variando entre 1,4°C e 3,8°C no mesmo período), a pesquisa mostra que é preciso agir de forma incisiva para reduzir prejuízos ambientais e econômicos nas próximas décadas. Considerando apenas as safras de grãos, as perdas podem ficar em torno de R$ 7,4 bilhões já em 2020.
- A proposta é que o mundo todo se mobilize e comece a reduzir as emissões de gás carbônico. Estimativas mostram que as emissões chegaram a 30,6 gigatoneladas de CO2 no ano passado. Se chegarmos a 32 gigatoneladas, estaremos muito próximos do teto de aumento de 2°C que estamos querendo evitar. Em termos científicos, não sabemos o que pode acontecer quando chegarmos nesse limiar - afirma Eduardo Delgado Assad, secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental e um dos coordenadores do estudo Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira.
Baseando-se no aumento de temperatura previsto pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), os pesquisadores chegaram à estimativa de que existe o risco de ocorrer uma grande redução na área apta ao plantio em todo o país caso os níveis de emissão se mantenham ou não sejam suficientemente diminuídos. A outra consequência seria a migração de culturas de uma região para outra.
- Nunca falamos em previsão. O modelo não prevê, ele projeta o futuro em um cenário. São cenários irreais, baseados no desenvolvimento da sociedade, no que pode ocorrer ou não. Se a sociedade se comportar de determinado jeito, o modelo pode ser melhor. Ou pior - explica o engenheiro florestal agrometeorologista Giampaolo Queiroz Pellegrino, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária.
Giampaolo Pellegrino ressalta que as estimativas da pesquisa consideram apenas as variedades existentes atualmente, sem levar em conta novas variações genéticas. Conforme o pesquisador, o sul brasileiro poderá ter 39% do total de sua área apto para o plantio da cana-de-açúcar já em 2020. Em 2070, o percentual pode atingir 93%.
Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon acredita que canaviais acabarão se espalhando por diferentes recantos gaúchos. Ele aposta que a cana será a cultura com maior crescimento na região nos próximos anos.
- O Rio Grande do Sul precisa de 400 mil hectares de cana para ser autossuficiente na demanda pelo etanol. Hoje, temos apenas 37 mil hectares plantados - avalia Pillon.
À cana, pode se somar um aumento no cultivo de frutas cítricas, como a laranja e a tangerina, e tropicais, como o mamão e a manga. Maçãs, peras e pêssegos poderão ser afetados pelo aumento das mínimas, já que precisam de um número determinado de horas de frio.
Para o superintendente do Ares - Instituto para o Agronegócio Responsável, Ocimar Villela, o impacto de uma possível elevação da temperatura na cultura da soja será minimizado pelos avanços nas pesquisas de novas variedades mais resistentes ao calor. Villela defende que o tema do aquecimento seja debatido de uma maneira mais abrangente e acessível a diferentes segmentos da sociedade.
- É bem claro que diminuiu drasticamente o desmatamento na Amazônia. E isso tem grande influência nos fenômenos climáticos que atingem a Região Sul. O setor produtivo não concorda, por exemplo, com os recentes desmatamentos ilegais que ocorreram no Mato Grosso. Estivemos na Inglaterra recentemente para ver o que está sendo feito lá em relação às mudanças climáticas, e ficamos bem impressionados com o comprometimento de produtores, pesquisadores e governo - afirma.
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