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Transportes  | 22/02/2011 10h20min

Em busca da logística de baixo carbono

Em artigo, Eduardo Baltar defende reformulação do transporte no Brasil

Eduardo Baltar  |  eduardo@enerbio-rs.com.br

Embora sejamos um país com uma das maiores experiências no uso de etanol e biocombustíveis, o setor logístico nacional tem importante participação nas emissões de gases do efeito estufa do Brasil. De acordo com o segundo Inventário Nacional de Emissões de Gases do Efeito Estufa, o transporte de cargas e passageiros é responsável por 8,1% das emissões do país. O modal viário responde por 7,5% desse total, o aéreo por 0,3% e outros modais por mais 0,3%.

As emissões desse setor cresceram aproximadamente 69% entre 1990 e 2005, fruto do crescimento econômico nacional que exige maior movimentação de cargas e gera mais recursos disponíveis à população. Isso, em conjunto com crédito facilitado, proporciona uma corrida à compra de veículos.

Todo o quadro é agravado pela falta de infraestrutura. A reduzida malha ferroviária do país e a precariedade portuária direcionam o escoamento da produção do setor privado via rodovias, meio de transporte mais poluente.

A falta de transporte público decente e a ausência de ciclovias na quase totalidade grandes cidades brasileiras fazem com que a população tenha de se deslocar com veículos próprios, gerando, além de maiores emissões de gases do efeito estufa, o caos no trânsito que quase todos enfrentamos.

Recentemente, desenvolvemos um estudo que mostrou a grande quantidade de redução de emissões de gases proporcionada por uma empresa do setor de Navegação de Cabotagem em 2010. À medida que a logística de cargas é efetuada por transporte marítimo e ferroviário em detrimento do rodoviário, menos impacto às mudanças do clima é gerado.

Diante desse fato, a ONU consolidou, no ano passado, uma metodologia que proporciona créditos de carbono para empresas que realizam investimentos em infraestrutura logística, visando essa troca.

Interessante que, na semana passada, ao viajar em um avião de uma grande companhia nacional, li o pronunciamento do presidente dessa empresa comemorando o fato de a organização ter realizado, em 2010, um voo de teste, utilizando biocombustível. O voo experimental teve partida e chegada no aeroporto Tom Jobim/Galeão e durou 45 minutos. O desempenho foi considerado excelente.

A matéria-prima utilizada foi o pinhão-manso, 100% nacional. A empresa tem o objetivo de, no longo prazo, substituir 20% do querosene vindo do petróleo por bioquerosene. As reduções de emissões podem chegar a 80%.

O que tem de ser comemorado é o fato de grandes players da logística nacional estarem despertando para ações de combate às mudanças do clima. Isso é extremamente importante também para o nosso setor industrial, pois as emissões proporcionadas pela logística de produtos e matérias-primas fazem parte do ciclo de vida de seus produtos.

Contudo, reverter a tendência de crescimento de emissões do setor de transportes nacional passa necessariamente por investimentos em infraestrutura logística de cargas e passageiros que possibilite a mudança de comportamento necessária da população e do empresariado para uma economia de baixo carbono.

*Eduardo Baltar é diretor da Enerbio Consultoria, responsável por diversos projetos de créditos de carbono e estratégias empresariais de combate à mudança do clima. Criador do Programa Emissão Zero de Carbono, participou da COP-15 e da COP-16 pela delegação brasileira.

ZERO HORA
Divulgação / 

Setor rodoviário é opção mais poluente
Foto:  Divulgação


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