Mudanças Climáticas | 22/02/2011 10h20min
As Nações Unidas revelaram nesta segunda-feira um estudo estratégico que, se colocado em prática, garantirá um futuro sustentável para o planeta através de investimentos no valor de US$ 1,3 trilhão por ano - ou 2% da riqueza gerada pela economia global - em 10 setores-chave.
Essa mudança de paradigma em prol de uma "economia verde" também ajudaria a aliviar a miséria crônica, afirma o Programa Ambiental da ONU (UNEP, na sigla em inglês) em seu relatório, apresentado em uma reunião com mais de cem ministros do Meio Ambiente em Nairóbi.
De acordo com a estratégia da ONU, a renda individual superaria as trajetórias previstas pelos modelos econômicos tradicionais, ao mesmo tempo em que reduziria à metade a "pegada ecológica" per capita da humanidade até 2050.
Entretanto, o UNEP admite que reestruturar a economia global contrariaria uma série de interesses poderosos, e seria um desafio para o mercado de trabalho.
O plano, porém, promete gerar índices de crescimento iguais ou maiores que a abordagem tradicional para os negócios, que - apesar de ter alimentado dois séculos de industrialização vertiginosa - deteriorou pouco a pouco os recursos naturais da Terra.
- Precisamos continuar a desenvolver e expandir nossas economias - disse Achim Steiner, diretor executivo do órgão, ao apresentar o estudo. - Mas esse desenvolvimento não pode vir às custas dos próprios sistemas que sustentam a vida na terra, nos mares e em nossa atmosfera, que por sua vez sustentam nossas economias e a vida de cada um de nós.
As mudanças climáticas cada vez mais rápidas, a dramática redução da biodiversidade, a frequente escassez de comida, o crescente abismo entre a demanda e o fornecimento de água doce, a destruição das florestas tropicais, berços da vida - são todos lembretes de que o equilíbrio e a generosidade da Terra não podem ser considerados eternos, destaca o documento.
Ao mesmo tempo, a crise financeira global de 2008 jogou luz sobre problemas estruturais profundos do sistema econômico.
- Embora as causas de crises como esta variem, em um nível essencial todas elas compartilham uma característica comum: a má alocação de recursos - indicou por sua vez Pavan Sukhdev, analista do Deutsche Bank, que participou do estudo da ONU.
Coragem para inovar
O relatório aponta incentivos "perversos" que encorajam o comportamento não sustentável, incluindo os US$ 600 bilhões de dólares gastos anualmente com subsídios à produção de combustíveis fósseis e os 20 bilhões destinados à indústria da pesca, cada vez mais predatória.
A ONU lançou um apelo aos líderes políticos, para que abram a cabeça e não tenham medo de inovar.
- Os governos têm um papel central na modificação de leis e políticas, investindo dinheiro público na riqueza pública para tornar esta transição possível - ressaltou Sukhdev.
Além disso, ações e iniciativas do setor público certamente "atrairiam trilhões de dólares em capital privado em prol da economia verde", afirmou.
O relatório do UNEP deseja, acima de tudo, combater o que descreve como "mitos" acerca do crescimento sustentável, a começar pela ideia de que a preservação do meio ambiente necessariamente acarreta menor crescimento econômico.
- Hoje há evidência suficiente (para provar) que tornar as economias mais verdes não inibe a criação de riqueza e muito menos a criação de empregos - indica o texto.
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