Ambiente | 16/02/2011 16h52min
Oito índios da etnia Zo'é deixaram sua aldeia, na área indígena Cuminapanema, no norte do Pará, e viajaram a Brasília para pedir maior atenção das autoridades com seu povo. Do grupo de sete homens e uma mulher que chegou na segunda-feira à capital, seis jamais haviam deixado sua aldeia.
Ontem o grupo foi recebido pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e pelo presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira. Segundo o coordenador geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai, Elias Biggio, embora os Zo'é tenham se limitado a pedir ao ministro material de caça e pesca, barcos e combustível, eles precisam é que o Estado os proteja da ação ilegal de garimpeiros e, principalmente, de religiosos que atuam na reserva indígena. O grupo deve permanecer em Brasília até hoje e precisou da ajuda de tradutores durante o encontro com o ministro.
- O estado brasileiro deve proteger estes índios, garantindo-lhes a sobrevivência física e cultural - disse Biggio à Agência Brasil.
- A região é alvo de grandes projetos econômicos, como de agropecuária e de extração de bauxita e os Zo'é são extremamente vulneráveis já que seu contato com a nossa civilização é muito limitado e eles não tem conhecimento sobre os riscos a que estão sujeitos - completou.
Para o coordenador da Funai na reserva, o indigenista João Carlos Lobato, a maior ameaça ao modo de vida dos Zo'é, no entanto, é o trabalho desenvolvido por grupos religiosos católicos e evangélicos que chegam a empregar índios de outras etnias para convencer os Zo'é a seguir suas crenças. Isso, de acordo com Lobato, que vive em Cuminapanema há 15 anos, representa um risco de os índios abandonarem seus hábitos e costumes.
De acordo com Lobato, embora já tivessem contatos esporádicos com pessoas de fora da aldeia há muito mais tempo, o encontro dos Zo'és com os missionários ocorreu em 1982 e se intensificou a partir de 1987. Em 1989, uma epidemia de gripe atingiu praticamente toda a aldeia. A Funai foi acionada e os missionários foram retirados da área. Na época, a comunidade indígena havia sido reduzida a pouco mais de 130 pessoas. Hoje, este número subiu para 240. Além disso, os índios recuperaram parte de sua antiga autonomia.
Embora a Funai procure preservar os índios isolados do convívio com outras sociedades - ao contrário de quando adotava a política de contatar e integrá-los -, os próprios Zo'é tem demonstrado interesse em ampliar as relações com a sociedade que os cerca. Para fortalecer a cultura da comunidade e prepará-la para as consequências da maior convivência, a Funai, em parceria com universidades como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Brasília (UnB), tem desenvolvido projetos pedagógicos para fortalecer a autonomia dos Zo'é.
- Os Zo'é hoje querem outras coisas que não tem em sua aldeia, como barcos e armas. Se isso é benéfico ou não é uma outra questão da qual não tratamos, pois a atual política estabelece o respeito à autodeterminação dos povos indígenas. Além disso, podemos impedir que pessoas de fora da comunidade entrem na reserva, mas não que os zo'é saiam, atraídos pela ofertas destes grupos - explicou Lobato, lembrando que qualquer forma de proselitismo com o fim de cooptar grupos indígenas é crime.
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