| 24/03/2009 21h39min
Uma tragédia de imensuráveis consequências - emocionais, psicológicas e administrativas - precedida pelos atrasos na definição da eleição presidencial e no início da preparação, e por erros de avaliação em contratações, podem ser relacionados como alguns dos principais fatores que levam o Brasil de Pelotas ao rebaixamento.
Ainda sem vitórias no Gauchão, após 13 rodadas, a equipe retorna à Segundona Gaúcha, de onde saiu em 2004 graças ao uruguaio Claudio Milar. Ídolo morto em um acidente ocorrido no dia 15 de janeiro deste ano, junto com o zagueiro Régis e o preparador de goleiros Giovani Guimarães.
Perder Claudio Milar, símbolo recente do clube, e talvez o maior jogador de todos os quase 98 anos do Grêmio Esportivo Brasil, é certamente um fato ainda não assimilado pelos xavantes.
Na Série C de 2008 ele não repetira as atuações memoráveis da Segundona 2004, ou da Série C 2006. Ainda assim, mesmo sem a mesma velocidade, ou ímpeto nos dribles, Milar ainda era decisivo. Questões técnicas quase irrelevantes se comparadas à importância de sua presença para os torcedores.
Indefinição após a Série C
O Brasil havia começado tarde demais a preparação para o Gauchão 2009. Envolvido no projeto de retorno ao cenário nacional, o clube encarou com visceralidade o octogonal decisivo da Série C do Brasileirão.
E chegou à rodada final, no dia 23 de novembro do ano passado, ainda com chances de se classificar para a Série B nacional. Mas uma goleada de 4 a 1 para o Rio Branco-AC, fora de casa, adiou o plano ambicioso. Só então o Gauchão entrou na pauta.
Da derrota até a eleição presidencial, passaram-se exatos 15 dias. Enquanto a grande maioria dos clubes que iriam participar do Gauchão tinham comissão técnica e elenco definidos, e já disputavam amistosos, o Brasil não contava sequer com uma diretoria.
Em 08 de dezembro, Helder Lopes foi aclamado para o terceiro mandato, e daí em diante precisou se apressar para recuperar o tempo perdido, correndo atrás de jogadores em um mercado já saturado e com escassas opções.
Problemas e erros de avaliação
O Brasil contratou Flávio Campos, que dois dias desistiu, e nem se apresentou. Armando Desessards foi chamado para ser o novo treinador da equipe. Dezembro se encaminhava para o final, e o Xavante tinha quatro jogadores: os zagueiros Régis e Alex Martins, o volante Cléber Gaúcho e o atacante Claudio Milar - quatro ídolos, patrimônios da nação xavante. Mas somente eles. Cleber e Milar, de férias prolongadas, nem haviam se apresentado. Apenas os amigos Alex e Régis faziam corridas no Estádio Bento Freitas.
Com jogadores contratados às pressas, alguns erros aconteceram - tanto que houve dispensas, uma delas em massa, durante o campeonato. Mas Desessards foi aparando arestas no elenco, definindo o time, e programando amistosos.
Sabia-se que o atraso na preparação poderia prejudicar a equipe, mas ninguém arriscava dizer se o Xavante jogaria um Gauchão "para não cair", ou se entraria para chegar às finais dos turnos. Desessards chegava a dizer que o Brasil utilizaria o 1º turno para engrenar, e entrar com tudo no 2º turno.
A tragédia e as promessas
Após o segundo amistoso, dia 15 de janeiro, qualquer projeção lógica sobre o futuro imediato do clube despencou com o ônibus da delegação às margens da rodovia BR-392. Três mortos, diversos feridos, e um elenco dilacerado. Um trauma que levou o Brasil ao dilema: disputar ou não o Gauchão.
De pronto, vários dirigentes de clubes se colocaram à disposição para ajudar. Iriam emprestar jogadores. O Brasil também ponderou, e chegou-se à conclusão que um clube parado não gera receita - nem com bilheteria, nem com patrocínios - as despesas se acumulavam, e a Série C do Brasileirão começaria em breve. Entre o licenciamento e a disputa improvisada do Gauchão, o Brasil decidiu pela segunda hipótese.
Formou-se um novo grupo, ainda mais às pressas, e com ainda mais chances de erros de avaliação nas contratações. As promessas não se cumpriram integralmente, e aos poucos o Brasil foi se vendo novamente sozinho em meio a uma competição onde não haveria piedade dos adversários: o Brasil entrara no Gauchão e se manteria nele apenas com as próprias forças.
A campanha do rebaixamento
Após 13 jogos, o Brasil não conseguiu nenhuma vitória. Foram quatro empates, e nove derrotas. Claudio Duarte, treinador que substituiu Desessards após o acidente, foi embora. Chegou Abel Ribeiro. Jogadores foram dispensados, outros contratados. Houve brigas, confusões, expulsões. E derrotas. Muitas derrotas.
Em casa, o Brasil foi goleado por Ulbra (5 a 2) e Inter (7 a 0). Por alguns instantes, acreditou-se que a raça e o apoio da torcida seriam suficientes para superar o cansaço e os traumas. Mas com oito jogos disputados em 16 dias, recuperando de maneira kamikaze um calendário com prazos definidos, o Brasil sucumbiu.
Rumo à Série C
Para terminar a
temporada de más notícias, a CBF alterou a tabela que prometera para a Série C. A competição agora é curta, contrastando com os contratos mais longos firmados com jogadores pelo clube. E será preciso enfrentá-la, contra adversários regionais, em tiro rápido, ainda sob os traumas das perdas, e a frustração do rebaixamento.
O grupo deve sofrer nova alteração. A maioria dos jogadores não aprovou. A comissão técnica também pode mudar. E a torcida, ironizada pelos inúmeros rivais em função da queda para a Segundona, vai investir toda a sua paixão em uma nova competição, com a esperança de encerrar 2009 com pelo menos um motivo para sorrir. Ou, pela primeira vez, chorar de alegria.
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