Ao longo de 13 meses como técnico do Grêmio — assumiu em fevereiro de 2008 —, Celso Roth tem mantido com os torcedores uma relação marcada por períodos de intensa turbulência e pouca paz.

O mérito da surpreendente campanha que fez do time vice-campeão do último Brasileirão não resistiu à derrota do Gre-Nal de 1º de março. Tomados de ira, os gremistas vaiaram até o gol marcado pelo time no jogo seguinte, contra o Ypiranga.

Como havia feito no ano passado, a direção deu ao técnico um voto de confiança. O presidente Duda Kroeff e o assessor de futebol André Krieger apostaram na capacidade do treinador de tirar o máximo do grupo. A vitória sobre o Boyacá, no meio da semana, pela Libertadores, foi a confirmação desse pensamento.

Terminada a partida, todos os jogadores foram abraçar Roth. Estavam fechados com ele. Na véspera da viagem para a Colômbia, Souza desembarcou apressado de sua BMW e entrou no vestiário avisando:

— Eu já tenho a frase para a preleção de quarta-feira.

Sempre antes de um jogo, a comissão técnica e os jogadores escolhem uma frase para ser usada na conversa com o técnico e também como grito de guerra ao entrar em campo. Desta vez, era uma homenagem a Roth.

— Os humilhados serão exaltados completou Souza, que a cada dia divide mais espaço na liderança do grupo com Tcheco.

A exaltação da frase sugerida por Souza ainda deve levar um tempo. A vitória sobre o Boyacá reestabeleceu entre Roth e os torcedores a convivência pacífica. Mas é pouco provável, no entanto, que ele volte a ter seu nome aplaudido quando anunciado no sistema de som do Olímpico, como ocorreu em alguns jogos do Brasileirão.

Até porque ninguém duvida que um mau resultado contra o Sapucaiense, neste domingo, pelo Gauchão, ponha a competência do técnico outra vez à prova. Mesmo que a equipe seja formada por jogadores reservas.

— Vamos seguir com nosso planejamento, priorizando a Libertadores — reforça Roth.

"Agora nada mais presta"

Aliviado com a vitória sobre o Boyacá, Roth mostrou bom humor ao conversar com ZH na sexta-feira. Confira trechos.

Zero Hora — Você não fica incomodado por conviver permanentemente com pressão, estar sempre no fio da navalha?
Celso Roth — Não. De jeito nenhum. Nada.

ZH — No ano passado, você dizia que o pessoal olhava sua cara feia e desistia de abordá-lo em locais públicos. E agora?
Celso Roth — Continua tudo igual, tranquilo. (tergiversa)Fizemos uma viagem boa, tomei café com o presidente, comi um croissant com geleia de morango (referência à matéria de sexta-feira de ZH). Foi tudo ótimo, excelente.

ZH — Até quando você acha que sofrerá contestações?
Celso Roth — No ano passado, vivemos uma situação muito boa. Só houve problemas naquele mês (entre abril e maio, após as eliminações no Gauchão e Copa do Brasil). Agora, tivemos o mesmo problema sem perder nada. Exploram aquelas coisas todas de sempre.

ZH — Você fica incomodado com o rótulo de treinador que faz bons trabalhos mas não conquista títulos?
Celso Roth — Não tenho a mínima noção de quando isso acabará. O importante é seguir com minhas ideias. Fomos vice-campeões no ano passado, mas, agora, nada mais presta. Principalmente o treinador, que escolheu o esquema errado.

ZH — Você acha que essa é uma situação criada externamente?
Celso Roth — Não acho nada. Quem tem que achar são vocês (jornalistas). Eu só treino. E olhe lá. E, na opinião de muitos, treino mal (rindo).

ZH — Você acha que o torcedor é induzido a criticá-lo?
Celso Roth — Não acho nada. Não sei, não acho nada.

ZH— Sua família sofre muito com tudo isso?
Celso Roth — Minha família está fora disso. Felizmente, é uma família firme, que fica fora do futebol, graças a Deus.

Próximo jogo:
Sapucaiense x Grêmio
Data: 15/03 — domingo
Local: Estádio Cristo Rei, São Leopoldo
Horário: 16h
Transmissão: RBS TV

Próximo jogo pela Libertadores:
Aurora x Grêmio
Data: 25/03 — quarta-feira
Local: Estádio Felix Capriles, Cochabamba (Bolívia)
Horário: 21h50min
Transmissão: RBS TV