| 10/03/2009 07h30min
As passagens de Ederson pelo Inter e pelo Juventude, em 2004, foram obscuras. Prejudicado por lesões e pela ansiedade de mostrar serviço em um grande clube, o jovem meia não consegui se firmar na ocasião. Porém, cinco anos depois, aos 23, depois de passagens por clubes do interior da França, ele entra em campo nesta quarta-feira como titular e destaque do Lyon, que enfrenta o Barcelona pelas oitavas-de-final da Liga dos Campeões. Em entrevista a zerohora.com por e-mail, o jogador revelado pelo RS, de Alvorada, fala sobre a passagem pelo futebol gaúcho, a reviravolta na carreira e o desejo de um dia voltar a jogar no Brasil.
Confira:
Zero Hora — A que fatores você atribui o sucesso que tem feito no Lyon?
Ederson — O fato de ter sido muito bem recebido por todos aqui no Lyon facilitou muito minha adaptação no grupo. Os brasileiros (Juninho, Cris, Fred, Fabio Santos, Sonny Anderson) são ótimas
pessoas e também me ajudaram desde a minha chegada, fazendo
com que me sentisse bem e confiante para demonstrar meu futebol em campo. Além disso penso que não é possível ter sucesso pessoal sem um bom rendimento coletivo. Hoje estou muito feliz de estar em um clube como o Lyon que oferece grande estrutura e qualidade de trabalho. Creio que tudo o que conquistei até hoje é o resultado de muito trabalho, determinação e profissionalismo.
ZH — Sentiu muitas diferenças com relação a ambiente, clima e estilo de futebol, ou se adaptou rapidamente?
Ederson — Já faz quatro anos que estou na França, cheguei no Club OGC Nice em janeiro de 2005, com 19 anos, e naturalmente tive algumas dificuldades. No início tudo era diferente, idioma, cultura, clima, e também o estilo de jogo, mas superei tudo isso com muita determinação. Procurei aprender o idioma o mais rápido possível para facilitar minha adaptação cultural e futebolística, e, à medida em que fui aprendendo o idioma, tudo foi
ficando mais fácil. Passei por momentos
difíceis: algumas lesões, a saudade da família e dos amigos, o estilo de jogo do futebol francês, mas sabia que teria que ser forte e superar tudo isso para realizar meus sonhos. Penso que começamos a ver obstáculos quando tiramos de nosso foco os nossos objetivos, por isso que sempre procurei estar sempre concentrado em minhas metas, determinado em alcançá-las. Minha adaptação aqui no Lyon foi mais fácil, em comparação com a minha chegada ao Nice, porque hoje conheço bem o Campeonato Francês, o idioma, e estou tendo a oportunidade de progredir em um clube que disputa a Champions League e que está sempre na briga por títulos.
ZH — Você mudou sua forma de jogar na Europa, como acontece com muitos brasileiros?
Ederson — Inevitavelmente acabei mudando a minha forma de jogar. Quando jogava no Brasil, pensava somente em driblar e jogar pelo prazer. Chegando na Europa, uma das primeiras
coisas que aprendi foi ter que jogar simples e rápido, saber
defender e atacar. O futebol europeu é jogado com muita intensidade e dinamismo em espaços curtos e muitas equipes jogam de forma compacta. Penso que melhorei muito nesses quatro anos, tanto fisicamente como taticamente, e continuo melhorando a cada treino e a cada jogo.
ZH — Leva uma bagagem da sua longa passagem pelo futebol gaúcho (RS, Inter e Juventude)?
Ederson — Passei um período importante de minha vida no Rio Grande do Sul, onde encontrei pessoas maravilhosas com as quais tenho contato até hoje, minha madrinha Mariu e sua familia, meu padrinho Edi que foi massagista no Inter e também no RS, meu amigo Renato, Valdir Oliveira "Foguinho", assim como o Paulo César Carpeggiani e sua família. Cheguei ao RS Futebol com 15 anos e tive a oportunidade de trabalhar e aprender muito com os técnicos Júlio Camargo "Julinho", Júlio César "Galego" e também com os preparadores físicos Daniel "Dada" e William Tomas. São
profissionais que admiro muito e que agradeço
por tudo o que me ensinaram. Em 2001, nosso primeiro ano de trabalho juntos, fomos vice campeões do Gauchão sub-17 e depois trabalhamos na equipe profissional do RS. Amadureci mais rápido jogando com o RS torneios internacionais e, a partir dos 16 anos, jogando no time profissional, com os conselhos do Carpegiani. Foi jogando no RS que tive a oportunidade de ser convocado para a Seleção Brasileira sub-17, com a qual fui campeão do mundo da categoria em 2003, na Finlândia. Minha passagem pelo Inter e Juventude foram breves. No Inter estive somente cinco meses, joguei pouco devido a lesões. No Juventude joguei somente quatro meses. Em ambas as equipes tive a felicidade de trabalhar com grandes jogadores, ótimos profissionais e ótimas pessoas. Com certeza trago em minha bagagem a raça e a pegada gaúcha, assim como momentos difíceis, momentos de satisfação, felicidades e alegrias. Tudo isso faz parte de meu aprendizado e da experiência vivida no Rio Grande do Sul.
ZH — Por que
você acha que não
teve uma sequência maior no Inter? Guarda alguma mágoa?
Ederson — Após um ótimo ano de 2003 com o RS, muitos times mostraram interesse em mim, mas acabei dando a preferência ao Inter, para onde fui emprestado no início da temporada de 2004, por um ano. Infelizmente acabei sentindo uma lesão logo no final da pré-temporada. Uma inflamação na inserção do músculo posterior da coxa direita e depois outra na coxa esquerda acabaram me atrapalhando muito. Não conseguia treinar e, consequentemente, acabei jogando pouco. Quando nos aproximamos do meio do ano, RS e Inter entraram em acordo para que eu voltasse ao RS, para aguardar a conclusão de uma transferência para o futebol europeu, que acabou não acontecendo. Não dando certo a transferência para o futebol europeu, alguns meses depois o RS entrou em acordo com o Juventude e em setembro fui emprestado até o final do ano. Não guardo nenhuma mágoa, mas certamente se naquele momento eu tivesse a
maturidade que tenho hoje, não teria
tomado as mesmas decisões. Mas aconteceu assim e me serviu como experiência, e hoje estou feliz com minha trajetória até aqui.
ZH — Você pensa em voltar a jogar no Brasil?
Ederson — Certamente penso em um dia voltar a jogar no Brasil. Os brasileiros que estão aqui dizem que igual o futebol brasileiro não tem. O calor e a paixão do torcedor são muito grandes, é emocionante jogar clássicos brasileiros com estádios lotados. Quero um dia viver tudo isso, mas no momento penso em continuar jogando na Europa.
ZH — O que um jogador precisa para ter sucesso na Europa?
Ederson — Muita disciplina e profissionalismo são fundamentais. Além do talento, é preciso ter determinação, força de vontade e personalidade. Esses pontos são válidos em qualquer parte do mundo, não somente na Europa.
ZH — Da
França, continua acompanhando o futebol gaúcho?
Ederson — Acompanho o futebol
brasileiro e o gaúcho através da internet, programas esportivos na TV, e fico contente quando vejo boas noticias de ex-companheiros de clube e amigos.
ZH — O que acha do atual time do Inter?
Ederson — O time mudou muito do período que estive no Inter. Poucos jogadores continuam no grupo: Clemer, Nilmar e Bolívar. Bolívar esteve aqui na França em Mônaco, grande rival do Nice, e nos enfrentamos algumas vezes. O Inter tem uma ótima estrutura e conta com ótimos profissionais, excelentes jogadores e um grande treinador como o Tite, que admiro muito. Penso que o Inter fará uma boa temporada e seguramente tem o potencial para conquistar títulos.
Confira os jogos desta semana na Liga dos Campeões:
• 10/3/2009 — Terça, 16h45min
Juventus (ITA) x Chelsea (ING)
Panathinaikos (GRE) x Villarreal (ESP)
Bayern, de Munique x
Sporting (POR)
Liverpool (ING) x Real Madrid (ESP)
• 11/03/2009 — Quarta, 16h45min
Porto (POR) x Atlético de Madrid (ESP)
Barcelona (ESP) x Lyon (FRA)
Roma (ITA) x Arsenal (ING)
Manchester United (ING) x Inter (ITA)
"Se eu tivesse no Inter a maturidade que tenho hoje, não teria tomado as mesmas decisões", disse Ederson
Foto:
Divulgação
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