| 24/01/2009 23h06min
A nova convocação de Dunga não contém novidade. Ele sorri como se fosse mesmo uma conquista, eu sorrio porque imagino que o gaúcho Ronaldinho está na lista a ser divulgada nesta segunda-feira para o amistoso contra a Itália, dia 10 de fevereiro, em Londres. Evita-se assim uma discussão, talvez duas teses. Luís Fabiano, que sempre faz gols, e Adriano, que tem vigor, serão convocados. Amauri não vai. E quem mais?
Alista toda é bem conhecida, com uma ressalva na lateral-esquerda, que pende entre Kléber, que deve estar sendo contratado pelo Inter, e o jovem Marcelo, que também deu resposta, mas sofre restrições no Real Madrid. É da vida e dos laterais.
Na belíssima Garopaba, aproveitando preciosos dias de férias, eu e o técnico da Seleção
retomamos na sexta-feira conversa alinhada na quinta-feira
depois do futevôlei e que, não se percebeu porque fechou uma invejável escuridão sobre o mar, terminou quase à meia-noite, cada um escorado na mureta da casa do Roberto, um dos grandes amigos da praia.
Falamos de tudo, na confiança e na reaproximação dele, técnico da Seleção desde 2006 — logo depois da grande crise de Parreira, jogadores e comissão técnica, além do fracasso na Copa e da culpa de muitos colegas da imprensa que estiveram na Suíça e na Alemanha, mas calaram —, e esse escriba nem tão eventual.
Foi também uma visita protocolar com uma solicitação não menos protocolar: se ele estaria disposto a conversar sobre a convocação que havia encaminhado à CBF depois de todas as consultas. O presidente Ricardo Teixeira à frente, por telefone, que quase tudo circula assim de Garopada para o mundo.
Não impus nenhum privilégio, apenas me vali da circunstância de estar nas proximidades, também de bermuda e chinelinho de dedo no regozijo quieto e
preguiçoso de férias.
Sugeri ao
David e ao Boró que poderia conversar com Dunga se não estivesse quebrando nenhum protocolo de férias. Não estaria, me garantiu o técnico da Seleção não sem antes devolver, de chapa, sobre a rede a bola insistente do futevôlei. Todos os amigos foram convidados, intrometeram-se um casal paraguaio e três argentinos, que foram bem recebidos e sorriam para as fotos.
Há uma foto histórica, que reúne quase todos com suas certezas triunfantes. O caçula Matheus, que bate com as duas e tem olhos azuis, mais o meu neto Gabriel e seu honrado pai, o Felipe, todos sorrindo juntos. O empresário Roberto Mottini, de célebre família de desportistas, ex-atleta do Grêmio na década de 50, é o anfitrião, sua magnífica casa abre as janelas e as portas, o pátio contíguo é o dobro quase da quadra do futevôlei — uma rede rebaixada e uma torcida que bebe vinho para abrir o apetite e se diverte com os erros e também com os acertos, porque o mais importante é a corneteada, condição de existência de todos ao redor.
A
descoberta da praia de Garopaba, bem depois dos pescadores terem delimitado a sua ponta do sul com casinholas para os barcos e os apetrechos de pescaria, foi por reorientação deles: os gaúchos queriam fazer mergulho naquelas águas cristalinas, escolheram uma das ilhotas de Itajaí, e Reinaldo Salomão, ex-preparador físico do Inter, lembra o espanto do nativo com a gauchada desbravadora.
— Mas vocês não virão a Garopaba?!
No ano seguinte, fins de 60, já estavam acampados, perto do vilarejo, que tudo o mais era mato, mesmo ali onde estão agora com suas casas de alvenaria e a certeza de que não saem mais, afinal os filhos já chegaram e os netos jogam bola.
Amam a praia e advertem para uma circunstância rara na costa brasileira: é a única baía com orientação norte-sul, ficando-se de frente para o mar, a mão direita é onde nasce o sol, a esquerda onde ele se põe majestosamente.
Uma foto do Ricardo Duarte (o famoso Maionese) junta
quase todos, fazendo pose, abraçados ao Dunga,
interrompendo o jogo. Faltaram alguns ilustres: Paulo Appel, Roberto Franchini, Marco Osório, Pedro Seelig e o velho e venerável Alduino Zílio. Referência sentida foi feita a Michel Motta Seelig que entre os seus títulos terá sempre o de ter atraído Dunga para o futevôlei, interpretando corretamente seu olhar cobiçoso dois passos adiante da quadra, ainda na rua.
Levaria um bom tempo para que o novo integrante das equipes móveis dos Morrinhos viesse a ser o Dunga de hoje, técnico nacional. Foi comentarista, consultor até ser chamado pelo presidente Ricardo Teixeira, dois meses depois da Copa, numa segunda-feira, para revitalizar toda a Seleção Brasileira. Dunga não fala disso, mas se sabe bem que ele foi o interventor no futebol brasileiro. É o que continua fazendo. A Seleção que anuncia no Rio já é bem mais do que metade do que ele quer na África do Sul depois do que falta das Eliminatórias, que nunca foram fácéis. Ele reconhece olhando a quebra-mar.
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