| 21/12/2008 08h03min
Eleito presidente do Inter no ano do centenário com impressionantes 91,5% dos votos entre os sócios, Vitorio Piffero esbanja serenidade diante do desafio que tem pela frente. Com as finanças em ordem e um grupo de qualidade montado, o Inter de 2009 vai no rumo do São Paulo: capacidade de investimento e política de futebol capazes de sustentar o clube ganhando títulos. Confira a entrevista concedida em almoço com a Editoria de Esportes de ZH.
Zero Hora — Muitos atribuem os 91,5% de sua eleição ao ex-presidente Fernando Carvalho. Como o senhor interpreta isso?
Vitorio Piffero — O Fernando é unanimidade. Só não fomos 100% porque eu estava junto. Esta conta para baixo é minha (risos).
ZH — Para manter este grupo qualificado e caro, é preciso gastar dinheiro. Como está a situação financeira do Inter?
Piffero — Assumimos em 2002 com faturamento de R$ 34 milhões. Não tínhamos jogador para
vender, era preciso contratar e os guris da base estavam no começo
da formação. A receita começou a crescer a partir de 2005. Em 2007, fomos a R$ 150 milhões, só atrás do São Paulo. Em 2008 foi de R$ 130 milhões.
ZH — Mas a gestão Fernando Miranda sempre se orgulhou de sanear o clube.
Piffero — Um exemplo: fábrica de lata. Teoricamente, tu arrumas a fábrica, mas não tem nada para vender, pedidos para fazer ou máquinas para construir as latas. Tivemos em mãos um clube sem jogador. Sem jogador, não se faz negócio. Sem negócio, não há dinheiro. Sem dinheiro, não tem investimento.
ZH — Não estava saneado, então?
Piffero — Como podia estar saneado se não havia jogador? Hoje, temos dívidas tributárias equacionadas, poder de investimento no futebol e patrimônio em jogadores. Só pegando os valores atribuídos a Nilmar, Alex, D'Alessandro e Guiñazu temos R$ 100 milhões. Não significa dizer que vamos vendê-los, mas isto é ter um clube com ativos.
ZH — A dependência do Inter com a venda de jogadores diminuiu?
Piffero — Sim. Vendemos o Pato, trouxemos Nilmar e sobrou dinheiro para investir. Quando quisermos, lucraremos com o Nilmar. Esta é a lógica que reduz a dependência.
ZH — O Inter montou estrutura para seguir ganhando títulos como o São Paulo? Piffero — Com erros e acertos, creio que sim. O grande segredo é não precisar vender hoje. Sabe aquela coisa de "puxa, não apareceu ninguém querendo comprar, e agora?" No Inter, não tem mais isso.
ZH — O senhor venderia o Guiñazu?
Piffero — Não. Para vender o Guiñazu tem que vir aqui com dois caminhões cheios de dinheiro. Como ninguém fará isso, posso dizer que ele não será vendido.
ZH — Como se sente o dirigente quando percebe que contratou um jogador ruim?
Piffero — Faz o impossível para mandá-lo embora.
ZH — Como agir para não remontar o time
na janela de agosto como em 2008?
Piffero — Não vendendo agora, em tese, teríamos um melhor começo de
2009, mas aí precisaríamos negociar no meio do ano. As peças de reposição, para o nível do Inter, não estão no Brasil, mas lá fora, onde é mais difícil contratar. Fechamos o D'Alessandro no último dia da janela. É um paradoxo.
ZH — Quem vem da base?
Piffero — Sandro (volante), Guto e Walter (atacantes), Taison e Tales Cunha (meias), o próprio Paulinho (volante).
ZH — Quando terminou a resistência a Tite?
Piffero — No momento em que os nomes do Exterior não deram certo para o lugar do Abel, mudamos o rumo. Nesse momento, já tínhamos Tite engatilhado.
ZH — Tinha resistência?
Piffero — Tinha indecisão por causa dos nomes no mercado externo que avaliávamos.
ZH — O senhor disse que sua primeira entrevista foi um terror. Por quê?
Piffero — Não falava em microfone. Sempre fui
tímido, retraído. Então imagina eu, de repente, sendo vice de futebol. Fico na minha. É meu estilo. O Fernando (Carvalho) já
é diferente. Ele tem um carisma inimitável.
ZH — Ele tem mais carisma do que o senhor?
Piffero — Sem dúvida! Na maioria das vezes, sou mais odiado do que querido. Mas isso não me incomoda.
ZH — E as câmeras de TV? Não são piores do que o microfone?
Piffero — O problema é minha cara. Tenho cara de buldogue (risos). Meu avô era assim. Morávamos numa casa de três andares na Alberto Bins e, qualquer um que entrasse, ele ficava olhando para ver se não ia roubar os talheres (risos). Era o gringo escrito. Sou a réplica do velho, que me criou. Ele era desconfiado e brabo. As pessoas me vêem um pouco assim, eu acho. Mas sou mais tímido do que qualquer outra coisa.
Presidente reeleito do Inter conversou com ZH enquanto assava um churrasco:
ZERO HORA
Piffero foi eleito presidente do Inter no ano do centenário com impressionantes 91,5% dos votos entre os sócios
Foto:
Emilio Pedroso
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