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 | 13/02/2005 18h44min

Polícia resgata corpo na área em que freira foi morta no Pará

Adalberto Xavier Leal foi morto em frente à mulher e aos filhos

A Polícia Civil do Pará resgatou neste domingo, dia 13, o corpo de um trabalhador de uma fazenda assassinado sábado à noite, no município de Anapu, no Pará, a cerca de 300 metros do local da execução da freira norte-americana Dorothy Stang, morta na manhã de sábado.

Adalberto Xavier Leal foi morto por oito homens armados que invadiram o barracão dele e o executaram com um tiro de espingarda em frente à esposa e aos seus cinco filhos, segundo a Polícia.

– A princípio podemos achar que há ligação entre os casos, mas não podemos afirmar se foi vingança – disse o delegado da Polícia Civil, Rilmar Firmino Souza.

A Polícia informou que Adalberto trabalhava para um fazendeiro conhecido como Tati. Testemunhas que presenciaram o assassinato foram levadas para prestar depoimento na delegacia de Anapu. O delegado geral da Polícia Civil do Pará, Luis Fernandes, disse que já foram identificados os suspeitos de envolvimento no assassinato da missionária Dorothy Stang, mas preferiu não revelar nomes. A Polícia Federal também abriu inquérito para investigar o caso.

O secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, confirmou a existência de suspeitos. Um fazendeiro que ameaçava expulsar os pequenos agricultores do acampamento é suspeito de planejar o assassinato, segundo o ministro.

– Tudo aponta para isto, as ligações dos pistoleiros, a história de mortes encomendadas na região. É apenas uma questão legal, você não pode dizer um nome sem provas contra ele – disse Miranda.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que ministros e a Polícia Federal entrassem no caso, o que aumentou as tensões entre pequenos agricultores, madeireiros e latifundiários, enquanto eles lutam pelo domínio da floresta. O acampamento onde Stang foi morta é ligado a um grande projeto governamental de desenvolvimento sustentável.

Madeireiros e fazendeiros têm invadido a área reservada para os pequenos fazendeiros. Stang, conhecida como o "anjo da Transamazônica" por seus apoiadores e de "a terrorista" pelos fazendeiros que se opõem a ela, encorajou pequenos fazendeiros a manterem suas terras. Fazendeiros de Anapu a acusam de armar os camponeses. Mas companheiros da missão da Ordem das Irmãs de Notre Dame de Namur, que tem cerca de 2 mil freiras espalhadas pelos cinco continentes, afirmam que os alegações são "absurdas e falsas". A morte de Stang ocorre apenas nove dias depois dela ter advertido Miranda sobre as ameaças que ela e os pequenos agricultores vinham recebendo.

– Eles nada fizeram para protegê-la. Este governo protege os grandes fazendeiros, é por isso que eles agem dessa forma. – disse Antonio Canuto, secretário nacional da Comissão da Pastoral da Terra, um grupo católico de direitos humanos para o qual ela trabalhava.

O corpo da freira norte-americana foi levado na tarde de domingo para a Belém, onde passa por autópsia. Desde a manhã de domingo, mais de 200 pessoas passaram pelo Instituto Médico Legal da cidade, aguardando a chegada do corpo. O corpo deve passar a noite na Igreja Santa Maria Goreti, em Belém, e depois segue para Altamira, onde será velado. Dorothy Stang será enterrada em Anapu.

– Foi o desejo dela ser enterrada no local onde ela já vinha desenvolvendo o trabalho social. A família dela já foi informada sobre isso – disse a freira norte-americna Betsy Flynn, uma das coordenadoras da Congregação Irmãs de Notre Dame no Brasil.

Depois de passar o final de semana acompanhando o caso no Pará, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, seguiu no domingo para Brasília. Pela manhã, ela se reuniu em Altamira com o ministro Nilmário Miranda (Secretaria de Direitos Humanos), o presidente do Incra, Rolf Hackbart, e com lideranças políticas do Partido dos Trabalhadores no Pará. Durante a reunião, Marina anunciou que vai defender a intensificação das ações do governo federal na região e a implantação do Programa de Desenvolvimento Sustentável na Amazônia.

– O Incra e o Ministério do Meio Ambiente vão aprofundar as ações na área do conflito, o que, no nosso entendimento, provocou a morte dela. O governo federal não vai retroceder nenhum milímetro por causa de atentado a pessoas – afirmou o chefe da Ouvidoria da Secretaria de Direitos Humanos, Pedro Montenegro, que acompanhou a reunião.

Marina Silva deve agendar uma reunião para a próxima terça-feira, em Brasília, com José Dirceu, para discutir o assunto.

As informações são da agência Reuters.

 

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