Energia Limpa | 14/06/2011 07h10min
Com as pernas roçadas pelo pó de terra vermelha e as roupas encharcadas de suor pelo calor em meio a um cenário digno dos descritos por Guimarães Rosa no livro Grande sertão: veredas, Fábio Rosa deparou com uma cena surpreendente até mesmo para alguém que já passara 15 anos levando energia elétrica aos mais profundos rincões do Brasil.
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Curiosos com a instalação de um sistema de eletrificação rural a partir de células fotovoltaicas (energia solar), no fim da década de 90, moradores de uma comunidade no interior da Bahia ficaram sentados nos calcanhares durante horas esperando o final do trabalho realizado pela equipe de instaladores. Por fim, quando viram as luzes se acenderem, ajoelharam-se e choraram copiosamente.
- É uma coisa tão simples para nós, tocar um botãozinho e acender a luz. Mas as pessoas agradeciam, diziam que achavam que nunca iam poder ver aquilo na vida - lembra, ainda impressionado, o engenheiro agrônomo de 51 anos, formado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1982.
Apesar da surpresa com a reação dos habitantes do vilarejo isolado, a vida de Rosa, nas últimas três décadas, tem se resumido a fazer com que lampiões acesos a querosene espalhados pelo país e pelo mundo sejam definitivamente apagados. E é essa obstinação em energizar casas, casebres e taperas no meio rural que faz dele um dos mais importantes empreendedores sociais brasileiros.
Mas o que levou um agrônomo criado na cidade grande se tornar um missionário dos fios de luz? O interruptor do empreendedorismo do jovem recém-formado ligou quando ele assumiu a Secretaria de Agricultura de Palmares do Sul, município distante cerca de 80 quilômetros de Porto Alegre.
Em conversas com agricultores locais, o então secretário percebeu que, naquele momento, o grande causador do êxodo da população rural em direção aos grandes centros era a falta de energia - ou a falta de conforto causada pela ausência dela. Para sanar o problema, Rosa implementou um projeto inovador de eletrificação de baixo custo criado por um professor de uma escola técnica de Pelotas. O sistema monofásico utilizava um único fio para conduzir a corrente, ao custo de US$ 400 por ponto - muito mais barato do que o sistema trifásico convencional, que custava cerca de US$ 8 mil cada ponto.
- Criar infraestrutura para uma casa em uma favela custa US$ 3 mil. Criar um emprego na área industrial custa US$ 8 mil ao governo. Provei que, ao colocar energia por US$ 400 em uma propriedade rural, se tiver algum programa de desenvolvimento local, você não só estabiliza os caras ali, como o que é gerado de imposto pelo impacto de levar energia elétrica é maior do que o investimento. Um ano depois, o cara já comprou TV, geladeira, chuveiro elétrico - afirma.
Mesmo com a resistência inicial da companhia distribuidora, a persistência do secretário forçou a derrubada de barreiras, fazendo com que o sistema não só fosse instalado na cidade como acabasse por ser levado a outros municípios do Estado e do país. Surgia ali um empreendedor social, alguém com ideias para mudar uma realidade social incômoda.
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Por onde andou o homem elétrico
- Levou o projeto de aluguel de sistemas de energia solar para a Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, no Pará
- Desenvolveu projeto de serviço de energia no campo de refugiados de Kakuma, na fronteira do Quênia com o Sudão
- Prestou consultoria em países da América Central e na África do Sul
- Participou quatro vezes, a convite, do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça
- Foi orador nas universidades americanas de Stanford, Harvard e Yale
- Concedeu entrevista em rede nacional na emissora de TV americana CNN, acompanhado dos criadores da Wikipedia e do Google. Foi um dos 12 personagens retratados na série New Heroes, da rede de TV pública americana PBS
- Palestrou no Fórum de Governança Ambiental em Freiburg, considerada a cidade mais verde da Alemanha
- Falou na assembleia da ONU no lançamento do programa de acesso universal à energia
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