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 | 14/02/2011 14h26min

Crises vitais: momentos de angústia são ritos de passagem comuns a todos

Da adolescência à terceira idade, todos os seres humanos podem sofrer tais crises

CAROLINA KLÓSS  |  carolina.kloss@pioneiro.com

Quem já não quis pintar as paredes do quarto de preto na adolescência, não se descabelou ao procurar o primeiro emprego ou não se sentiu inútil depois de se aposentar? Esses e outros comportamentos podem ser indicativos de que estamos enfrentando um dos diversos momentos de crise que pontuam a vida de todo ser humano.

— Para que as pessoas continuem evoluindo, elas invariavelmente passarão por crises vitais, pois cada nova fase implica em mudança. Além disso, a incerteza quanto ao que está por vir também gera ansiedade e conflitos naturais nas diversas etapas do desenvolvimento humano — analisa a psicóloga clínica Patrícia Luiza Prigol.

É natural, qualquer pessoa passa por fases no seu ciclo vital, desde o nascimento até a morte. Mas cada um tem características próprias, que o distinguem dos demais, e seu próprio ritmo de desenvolvimento. Se por um lado as crises são vistas como momentos perigosos e decisivos, por outro são oportunidades de crescimento e de transformação.

— No desenvolvimento humano, o ciclo vital é constituído por fases ou etapas que implicam, necessariamente, no cumprimento de tarefas específicas, funções que são esperadas a cada nova etapa e dentro de um processo maturacional — explica Patrícia.

Especialista em adolescência, o médico Alberto Scofano Mainieri acredita que as crises são resultado de situações pertinentes ao fato de estarmos crescendo e evoluindo.

— O próprio nascimento é uma crise: fomos gerados e crescemos por meses dentro do útero e lá nos acostumamos a estar. Sair impõe uma série de novas adaptações que começam já pela necessidade de respirar com nossos próprios pulmões — conclui.

As crises evolutivas podem ser experimentadas de diversas maneiras, dependendo dos recursos psíquicos de cada um e das experiências prévias. E a idade cronológica não é o único critério na avaliação do grau de desenvolvimento do indivíduo e na determinação da hora das turbulências.

— Muito mais importante do que a idade são as várias dimensões da maturidade: emocional, social, intelectual e física de cada um — detalha Patrícia.

Há tratamento para todas as crises

As crises do ciclo vital podem afetar as relações familiares e a vida social. Quando o indivíduo apresenta dificuldades na transposição de uma fase para outra, ou quando houver sofrimento, atrapalhando a rotina de vida, é importante procurar ajuda.

— São múltiplas as linhas terapêuticas oferecidas, assim como são inúmeros os pesquisadores e os teóricos do desenvolvimento humano. Cada teoria apresenta sua técnica ou sua ferramenta de trabalho que se fundamenta numa abordagem terapêutica específica. Por isso, é importante que a pessoa que necessita de ajuda busque, primeiramente, informação sobre as modalidades de tratamento — aconselha Patrícia.

A mesma dica é dada pelo geriatra Roberto Bigarella, especialista acostumado a tratar da tão comum crise da velhice. Mas ele faz ressalvas:

— O tratamento médico só é necessário quando a crise resultar em depressão ou quando a ansiedade natural gerada por ela se tornar patológica.

Da adolescência à terceira idade

Dentre todas as crises, a mais comum — ou a mais conhecida, pelo menos — é a da adolescência. Mas essa é uma fase complicada mesmo, segundo especialistas, já que é o período em que o indivíduo deixa de ser criança e deve assumir a idade adulta.

— O processo de adolescer, por si, constitui-se numa crise vital. A forma como cada jovem vivenciará esse processo será diferente. A maioria passará de forma tranquila; outros apresentarão angústias, mas seguirão sem maiores repercussões, e haverá um grupo menor que sofrerá grandes conflitos que se expressarão de forma preocupante — explica o médico Alberto Scofano Mainieri.

Em muitas situações, as crises da adolescência podem deixar os pais em dúvida se são apenas problemas normais ou decorrentes de fatos mais sérios. Para definir isso, Mainieri alerta que os genitores devem sair em busca de apoio profissional.

— Todas as reações devem ser avaliadas. Os adolescentes passam por muitas turbulências e precisam, por vezes, de ajuda. O profissional poderá auxiliar o jovem a se entender e a superar os obstáculos que enfrentará — explica Mainieri, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

No outro extremo
 
A angústia não é exclusiva de quem está iniciando a fase adulta. Aqueles que estão chegando aos 60 anos podem passar pelo mesmo. Atualmente, a maioria das pessoas chega nessa idade no auge da capacidade profissional. No entanto, é uma fase que exige mais capacidade de adaptação do que qualquer outra.

— Muitos veem seu emprego ameaçado pela aposentadoria, e outros sofrem com as mudanças na aparência física, como as rugas e os cabelos brancos. É também uma fase de reavaliação do que foi vivido até agora e de decisões em relação ao que se quer na velhice que se aproxima — avalia o geriatra Roberto Bigarella.

E as causas para essa angústia são diversas, de acordo com o especialista:

— A questão central é a preocupação com um futuro não tão distante de perdas, discriminação e sofrimento. A perda de familiares e amigos torna-se cada vez mais frequente, assim como viuvez, saída dos filhos de casa, doença e morte dos pais, declínio da capacidade física e perspectiva de um tempo cada vez menor para realizar projetos pendentes.

Bigarella afirma que a principal medida para minimizar os efeitos das crises é o planejamento:

— É recomendado destinar parte dos rendimentos para uma reserva, manter hábitos saudáveis, realizar exames médicos preventivos, manter-se ativo para não se tornar obsoleto em um mundo que muda rapidamente, criar e manter uma rede social ampla para evitar o isolamento e, principalmente, não aceitar preconceitos.

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Causas da angústia são diversas, afirmam especialistas
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