Arte | 07/02/2011 16h44min
Lisboa é uma elegante cidade com prédios de tons pastel e telhados terracota. Logo, seria um choque ver uma figura de 12 metros explodindo de um deles.
Eu havia acabado de chegar à cidade e estava tomando um táxi para Bairro Alto. Surgindo da escuridão, na Avenida Fontes Pereira de Melo, havia um enorme prédio. Nele, onde deveriam estar janelas, havia apenas um céu estrelado e uma imensa figura negra. Eu a vi de relance e fiquei me perguntando se havia imaginado aquilo.
Refazendo a rota no dia seguinte, encontrei um grande conjunto de edifícios abandonados. Neles, artistas ficaram livres para viajar em paredes e janelas quebradas. Assim como o ladrão de quatro andares, havia uma figura bebendo do planeta Terra, um crocodilo gigante e algumas criaturas sinistras. A escala é de tirar o fôlego.
Essa vasta coleção de arte em grafite é um trabalho do Crono Project, que chama artistas para transformar prédios abandonados. O projeto começou em junho do ano passado e deve ser concluído em julho deste ano, com uma exposição. O próximo trabalho deve surgir pelas ruas entre 15 e 22 de fevereiro.
O jeito de ver o grafite
O grafite pode ser a praga de uma cidade ou parte do que a faz única. Mesmo que você não goste da desfiguração de uma antiga capital, é possível distinguir entre rabiscos e peças de arte urbana.
Lisboa começou a fazer essa distinção como parte de um plano de renovação urbana, operando um grande esforço de limpeza, mas também disponibilizando prédios abandonados para artistas e permitindo que essa arte seja um trunfo.
Galeria a céu aberto
Decidi, então, fazer do grafite o propósito do meu feriado e saí para ver que tesouros conseguiria encontrar. Pequenas lojas ao redor da Rua da Rosa foram decoradas com grafite no lugar da pintura. Galerias têm murais pintados diretamente em seus tijolos. Toda a superfície - um outdoor, um sinal de rua - parece apresentar uma face, um animal ou uma mensagem.
Um slogan dizia "Coma os ricos", um sinal de tempos complicados na economia. Na subida da ruína do Castelo de São Jorge, que oferece uma vista fantástica, o caminho é apontado por um macaco.
Perto do castelo no distrito de Mouraria, um labirinto de ruelas medievais, existe uma arte de rua diferente. Em vez de tinta spray, a artista escocesa Camilla Watson usou fotografia. Ela montou a mostra Tributo, com retratos de idosos impressos nas paredes do Beco das Farinhas, onde eles vivem.
Na sequência do passeio fui até a Galeria de Arte Urbana em Calçada da Glória, que foi criada pelo Conselho de Lisboa para dar aos artistas de rua um lugar legal para operar. Muitos aceitaram o convite e cobriram placas erguidas especialmente para eles com criações fantásticas - uma me lembrou Guernica, de Picasso.
Nas exposições tradicionais
Em Amoreiras, visitei o Hall of Fame, um dos mais antigos murais de Lisboa. Algumas pinturas dos anos 1990 ainda estão lá - são praticamente grafites pré-históricos. Mas a arte urbana de Lisboa não é encontrada apenas nas ruas. Muitos grafiteiros portugueses já começaram a expor em galerias.
A agência de arte Vera Cortes, escondida perto da Praça do Comércio, estava recebendo uma exibição da Underdogs, um coletivo de alguns dos principais artistas do país. O principal deles é Vhils, que começou marcando trens e agora, com apenas 23 anos, é homenageado em galerias ao redor do mundo. Ele é conhecido por seus retratos que são criados, na maior parte, em prédios abandonados a partir de materiais que ele encontra lá mesmo.
Outras galerias em Lisboa também estão envolvidas com arte urbana. Algumas são pequenas e peculiares como a Yellow Pants, mas outras, do grupo de elite, que mostram grafite pela primeira vez. A Berardo Collection, em Belém, um dos grandes museus de arte moderna, recebeu no ano passado o trabalho d'Os Gêmeos, irmãos grafiteiros do Brasil.
Depois de um fim de semana prolongado em Lisboa, me senti devidamente imersa na cultura, ao mesmo tempo em que explorei a cidade e curti o ar fresco. Essa é a beleza da arte de rua: você pode vê-la sem estar confinado em uma galeria.
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