Ambiente | 02/02/2011 17h59min
Depois de pelo menos dois grandes episódios de poluição do ar, que já custaram R$ 18 milhões em multas e indenizações e ameaçam sua licença definitiva, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) anunciou hoje que vai investir R$ 100 milhões em ações para impedir que emissões de poeira de grafite cheguem às comunidades vizinhas do complexo siderúrgico, na zona oeste do Rio.
Desde o ano passado, moradores do bairro de Santa Cruz sofreram com a poluição emitida pela empresa, parceria entre o grupo alemão ThyssenKrupp e a mineradora brasileira Vale. Embora as autoridades ambientais fluminenses tenham punido a empresa por duas emissões de partículas, moradores denunciam que a siderúrgica não tem conseguido controlar a poluição.
Grávida de sete meses, a dona de casa Neiva da Conceição Verlingue, 30 anos, mantém um lençol cobrindo todo o berço que acomodará a criança. O móvel novo de laca branca desbotou salpicado do pó brilhante que chegou à casa dela em meio às primeiras nuvens de poluição emitidas pela CSA, no final de 2010.
Da janela de casa, no fim da Avenida João 23, Neiva observa com apreensão a siderúrgica vizinha, a menos de um quilômetro. O que foi uma área verde, com árvores frutíferas e um manguezal que encontrava as águas da Baía de Sepetiba, agora é uma paisagem dominada pelos galpões da aciaria e os altos-fornos da usina com suas chaminés.
- É esse ar que meu bebê vai respirar? - preocupa-se.
Problemas desde o início
O primeiro incidente foi registrado em agosto de 2010, um mês depois da inauguração da planta. Falhas na máquina de lingotamento impediram que a produção alcançasse a capacidade máxima de 7,5 mil toneladas, levando a CSA a depositar ferro-gusa incandescente em poços ao ar livre. A operação resultou numa nuvem de material particulado sobre Santa Cruz.
Na ocasião, a empresa foi multada em R$ 1,8 milhão pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Em renegociação, o valor foi reduzido em R$ 500 milhões. Em dezembro, a empresa viu-se novamente forçada a verter ferro-gusa nos poços, dessa vez devido a avarias num guindaste da aciaria. Segundo a CSA, ventos fortes arrastaram poeira de grafite para as comunidades vizinhas.
Na entrevista coletiva para anunciar a última multa à CSA, o secretário do Ambiente do Rio, Carlos Minc, afirmou que a lingotadeira da CSA não funciona desde agosto. O equipamento teria sido subdimensionado e não respondeu às tentativas de ajuste. Com a reincidência, a CSA foi punida mais severamente pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Foram R$ 2,8 milhões em multas, das quais a CSA pode recorrer, além de R$ 14 milhões, valor acordado com a empresa que não pode mais ser revisto.
A indenização será aplicada em projetos sociais, como uma unidade de saúde da família para a comunidade. Além disso, a produção da CSA foi restrita a 70% de sua capacidade instalada, até que seja concluída uma auditoria externa, a cargo da concorrente Usiminas. A operação "pente-fino", como chamou Minc, traçará os requisitos que serão exigidos da CSA para a concessão da licença de operação definitiva, que era esperada para este mês.
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