Nosso Mundo | 31/01/2011 14h21min
O etanol já é considerado o biocombustível menos poluente do mundo. A eletricidade a partir do bagaço da cana também é exemplo de energia renovável. Boa parte da energia que abastece cidades como São Paulo é gerada pela queima do bagaço da cana-de-açúcar. Contudo, as pesquisas científicas não param de buscar novidades. Acredite: no futuro, prédios podem ser feitos a partir da cinza da queima do bagaço da cana.
A ideia partiu do pesquisador Almir Sales, professor da Universidade Federal de São Carlos. Ele usou a cinza do bagaço, para fazer o concreto. E assim reduziu em até 50% o uso da areia. A pesquisa mostrou que cada tonelada de bagaço gera 25 quilos de cinza. Só em 2010, foram mais de quatro milhões de toneladas deste subproduto da cana, que nem sempre é aproveitado. Evitar prejuízos ao meio ambiente é uma das principais propostas do projeto.
– Você tem um duplo ganho ambiental, que é a diminuição da extração da areia dos leitos dos rios, a diminuição da necessidade de aterros sanitários para dispor as cinzas e o ganho tecnológico. Com o concreto feito com a cinza substituindo a areia você consegue um ganho de 15% a 17% na resistência desse concreto. Então você consegue agregar valor no concreto produzido com esse resíduo – afirma o pesquisador.
Atualmente, a maioria das usinas usa as cinzas que sobram da queima do bagaço como fertilizante na lavoura. No entanto, especialistas afirmam que o resíduo é pouco eficiente como adubo. Apesar disso, na Usina São João de Araras, levar a cinza para o canavial ainda é a solução.
– Ela é misturada à torta, que é um resíduo sólido da produção de açúcar e álcool. Depois, é levada ao campo só mesmo para aproveitar o meio de transporte. Ele não é um resíduo que tenha interesse como fertilizante. O aproveitamento como fertilizante é bastante pequeno e o próprio volume dele é pequeno em relação aos outros resíduos – afirma o gerente agrícola da usina, Humberto Carrara.
A esperança do setor é que aconteça com a cinza o mesmo que já ocorreu com o bagaço. Antes, eram montanhas do resíduo que não serviam pra nada. Atualmente, a queima do bagaço gera energia capaz de suprir 600 mil residências durante um ano.
Indústria acredita
O uso da cinza na construção civil, por enquanto, está nos laboratórios. Contudo, a indústria acredita na ideia.
– Se houver uma viabilidade econômica da utilização da cinza onde ela cria um valor de mercado maior do que hoje nós temos com o custo da distribuição, da logística de aplicar isso no campo, com certeza seria mais um subproduto que hoje é um resíduo. E poderia trazer receita e agregar mais resultado no fluxo de caixa das usinas – diz Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
Transformar cinzas de bagaço em concreto é apenas mais uma, entre dezenas de pesquisas voltadas a sutentabilidade na cana-de-açúcar. Campo e cidade ainda mais integrados, presente e futuro cada vez mais próximos, conforme acredita Tadeu Andrade, diretor de pesquisa do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).
– Eu não tenho dúvidas de que é a cultura do futuro de sustentabilidade, social, ambiental e principalmente num aspecto muito importante a cana de açúcar é a opção para gerar produtos que hoje nós dependemos do petróleo – diz Andrade.
Cana no Brasil
No Brasil, são mais de três milhões de hectares de cana, 25 bilhões de litros de etanol, 60% do total consumido no mundo. O país também é o maior produtor mundial de açúcar. Do bagaço que sobra, vem a energia elétrica. Quantidade suficiente para quem sabe, no futuro, superar a usina de Itaipu.
Há dez anos, apenas 1% dos veículos era movido a etanol. Depois da descoberta do motor flex, atualmente são mais de 86%. O etanol brasileiro é reconhecido no mundo todo como um dos que mais contribui para redução na emissão de gases que causam o efeito estufa.
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