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 | 28/06/2008 05h34min

Os capitães do clássico: Edinho

Aos 25 anos, volante encara seu mais recente desafio de vida: substituir Fernandão

Diogo Olivier  |  diogo.olivier@zerohora.com.br

Em breve, os gaúchos conhecerão um novo Edinho. O do carrinho e do cartão amarelo cederá espaço para o refinado, que vai ao Cirque du Soleil. O gozador, às vezes até confundido com infantil, se dividirá com o homem sério, que amealha patrimônio sólido aos 25 anos e dá palestra. A natural exposição da braçadeira de capitão revelará outro Édimo Ferreira Campos. Para urticária de seus críticos.

A forma de lidar com os críticos, aliás, é um traço marcante da personalidade deste filho único de pai funcionário público e mãe dona- de-casa. Edinho apenas sorri para eles. E não é de escárnio ou cinismo. É de felicidade.

— Quando me vaiam ou o pai me fala de alguma crítica por telefone, olho para trás e passo o filme da minha vida. É batata: me dá vontade de sorrir. Essas coisas são fichinha perto do que passei — diz Edinho.

Depois de ser reprovado em vários clubes — ele nem lembra direito quantos, antes de o Inter surgir no seu caminho em 2002 — , de passar fome na França e de percorrer 30 quilômetros todos os dias para estudar, ser chamado de tosco é canção de ninar diante do mais recente desafio de vida: substituir "deus", como o próprio Edinho se refere a Fernandão.

Há sete anos, o volante passava fome em Paris, enganado por um empresário. Terminou sem lugar para treinar, abandonado em um apartamentinho de periferia que rapidamente consumia seus euros. No metrô, pulava a roleta nas estações, para não pagar passagem. Comia no Carrefour: ia até o setor de frutas e saciava a fome ali mesmo. Pensava em desistir quando soube de um brasileiro que jogava em Marselha, no Olympique. Pegou um trem e conheceu o homem de quem herdaria, por travessura do destino, a braçadeira.

— Ele me colocou em hotel, me deu referências, me ajudou em tudo. Fernandão é deus para mim.

Contra o Vitória, a braçadeira foi de Clemer, por longevidade e hierarquia no vestiário. Com a volta de Renan, o volante retoma a condição de capitão.

— Por uma questão de hierarquia construída no vestiário, é a vez do Edinho — avisa o técnico Tite.

Para se ter idéia do que significa a "hierarquia" referida por Tite, basta dizer que Magrão recusou o posto. Por respeito a Edinho.

— Ele merece ser o capitão não só pelos títulos, mas pelas barras que passou. É um vencedor — diz Magrão, que exerceu a função no Corinthians.

— É um exemplo vivo de superação. Quando fala no vestiário, tem legitimidade. Tanto que a primeira palestra no Japão foi do Edinho. Pedi a ele que contasse a história da França. Combinamos de só revelar o nome do Fernandão no fim. Foi emocionante. Aquilo nos ajudou a acreditar que sim, era possível — revela o motivador Evandro Mota.

Assim, com os holofotes sobre o novo capitão, o Edinho antes restrito ao vestiário vai ganhando a rua. O homem sério, casado há sete anos com Michelle, namorada que conheceu quando ganhava R$ 700 nos juniores e era sua vizinha de prédio. O investidor previdente que, aos 25 anos, é dono de dois apartamentos, uma loja de material esportivo e um sítio com campo de futebol de dimensões oficiais em Araruama, cidade onde cresceu no litoral do Rio - ele nasceu em Niterói. O jogador avesso às baladas normalmente associadas ao binômio juventude/bons salários - o Inter paga de 15 em 15 dias, vale lembrar. O evangélico, que passa o tempo livre na loja na qual os funcionários são a mulher, o sogro, Etti, e a sogra, Lurdes.

Edinho também curte ir com Michelle a espetáculos como o Cirque du Soleil. O raçudo Edinho se enterneceu com a delicadeza do Cirque.

— Dei força para ele aceitar a nova tarefa. Só deixei bem avisado que, em casa, vou seguir sendo capitã — entrega Michelle, publicitária que mantém a forma lutando boxe, combustível delicioso para brincadeiras de toda a espécie com o marido reconhecido por entrar em divididas até com trem desgovernado, se for o caso.

Edinho, sentado ao lado, ri. Mas em seguida incorpora o novo perfil e avisa, sério:

— Naturalmente, as pessoas vão perceber outros aspectos meus, mas não vou mudar o jeito de ser ou de jogar por ser capitão. Se é para mudar o que fui até hoje, então não quero — avisa Edinho, já com ares do novo e desconhecido Edinho, o capitão.

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