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 | 28/12/2002 15h45min

Só a duplicação é capaz de desmontar armadilhas da BR-101

O trecho não-duplicado que liga o litoral de Santa Catarina ao do Rio Grande do Sul produziu este ano 116 mortos, vítimas de ultrapassagens proibidas, de imprudência em pontos perigosos e de cruzamentos urbanos

O trecho não duplicado da BR-101 que corta Santa Catarina e Rio Grande do Sul é uma fábrica de mortos. Buracos, acostamentos defeituosos, desníveis na pista e ultrapassagens perigosas que não existiriam num trecho duplicado tiraram a vida de 116 pessoas este ano nestes 348 quilômetros.

A duplicação da BR-101 não traria apenas conforto para os motoristas. Ela cortaria pela metade o número de mortos em acidentes no trecho sul de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul, onde a pista ainda é simples. Estatísticas mostram isso.

No sul catarinense, a média é de uma morte a cada três dias (103 até o final de outubro). No norte catarinense, com rodovia duplicada, a média também é de um morto a cada três dias - mas era 50% maior, um a cada dois dias, antes da ampliação do número de pistas na estrada.

O trecho gaúcho da BR-101 mata, em média, uma pessoa a cada 30 dias - o que representa 10 vezes menos que o trecho catarinense. Foram 13 mortos, 161 feridos e 332 acidentes desde o início do ano na parte gaúcha da rodovia.

São duas as explicações. A principal é que, no Rio Grande do Sul, os motoristas de automóveis podem optar por uma rodovia alternativa para fazer o percurso entre Osório e Torres, a Estrada do Mar (RS-389). Isso não existe em Santa Catarina.

A outra razão é que a BR-101 corta cidades de grande porte e tráfego intenso em Santa Catarina (como Tubarão), enquanto no Rio Grande do Sul as localidades cortadas pela rodovia (como Terra de Areia) são de porte bem menor.

Nem por isso os gaúchos deixam de suspirar pela duplicação. Morrem cerca de 15 pessoas por ano no trecho da BR-101 que corta o Rio Grande do Sul. E os especialistas acreditam que esse número seria reduzido em até 80% com a duplicação.

Oito anos de promessas

Desde 1994, gaúchos e catarinenses convivem com anúncios governamentais de duplicação da BR-101 Sul. Confira:

Junho de 1994

O ministro dos Transportes, Rubem Bayma Denis, anuncia a duplicação da BR-101 entre São Paulo e Florianópolis, a um custo de US$ 600 milhões (R$ 2,2 bilhões). O trecho gaúcho da rodovia é excluído em função da existência da RS-389 (Estrada do Mar), que percorre trajeto semelhante ao da 101, no Rio Grande do Sul.

Setembro de 1994

O então coordenador da campanha de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República, Paulo Renato de Souza (atual ministro), anuncia que o trecho gaúcho da BR-101 será duplicado, caso FH seja eleito.

Fevereiro de 1995

O recém-eleito FH diz que a duplicação da BR-101 até o Rio Grande do Sul é uma das prioridades do seu governo. A obra deveria começar em 1996 e faria parte da chamada Rodovia do Mercosul, a unir o país com os países do Prata.

Outubro de 1997

O governo federal anuncia os passos da duplicação do trecho gaúcho da BR-101 (que está um ano atrasada, segundo o próprio cronograma governamental). São definidas as quatro empresas vencedoras da concorrência.

Fevereiro de 1998

O ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, assina em Osório os contratos para elaboração de projetos de duplicação da 101, que deve ficar pronta em meados do ano 2000.

Junho de 1998

Começam em Osório as obras de duplicação do trecho gaúcho da BR-101. Mas avançam seis quilômetros e param logo.

Agosto de 2000

As obras da BR-101 no Rio Grande do Sul estão paradas, mas o ministro Padilha anuncia nova licitação

Novembro de 2001

Missão do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) vistoria o projeto de duplicação dos 348 quilômetros da BR-101 entre Palhoça e Osório. A duplicação está orçada em US$ 870 milhões (R$ 3 bilhões).

Dezembro de 2001

Recálculo do custo da obra: de U$ 870 milhões, a previsão de gastos passa para U$ 1,15 bilhão de dólares

Fevereiro de 2002

A extinção do DNER - substituído pelo DNIT - atrasa mais uma vez o andamento do processo.

Abril de 2002

Aprovado decreto de utilidade pública para a duplicação, importante passo para a realização da obra. Permite, por exemplo, as desapropriações na área por onde a estrada vai passar.

Maio de 2002

O ministro dos Transportes, João Henrique de Almeida Sousa, e o presidente Fernando Henrique Cardoso anunciam que o edital sai em 28 de junho.

Junho de 2002

Ibama concede a Licença de Instalação para a duplicação

Outubro de 2002

Tribunal de Contas da União (TCU) suspende os procedimentos de licitação para contratação de empresas que atuariam nas obras de duplicação e restauração da BR-101 entre Palhoça e Osório.

Dezembro de 2002

O DNIT não pode abrir envelopes com as propostas de empreiteiras interessadas em executar a obra. Uma empresa de São Paulo conseguiu uma liminar na Justiça que concede a prorrogação de 45 dias no prazo para entrega das propostas

Fontes: ClicRBS e DNIT

Saiba mais sobre a estrada

Do km 77 ao km 57

É o trecho de maior movimento no lado gaúcho da rodovia. O perigo está no intenso tráfego de automóveis que rumam de Porto Alegre em direção a Capão da Canoa. A média é de 40 veículos por minuto nos começos de feriado ou nos finais de semana - altíssima, para uma estrada de pista simples como a BR-101. A Polícia Rodoviária Federal tenta contornar o problema colocando cones para reduzir a velocidade nos trevos de acesso a Maquiné e Capão da Canoa, por exemplo. Isso congestiona a rodovia, mas evita mortes. Defeitos na estrada também matam. Uma curva no km 61, em Maquiné, provocou sete mortes entre 1996 e 1997, pois a forma côncava da pista provocava acúmulo de água em dias de chuva intensa e aquaplanagem de veículos. O defeito foi corrigido, mas o asfalto recapeado não está sinalizado - o que significa baixa visibilidade e perigo à noite. A falta de sinalização se repete nos kms 80 e 86.
É comum também o gado pastar na grama que recobre o acostamento malcuidado, um tremendo risco de colisão para os veículos.

km 436

Localizado logo após o trevo de acesso a Sombrio. Uma placa alerta os moradores para o defeito da pista com três quilômetros de extensão provocado pelo excesso de peso dos caminhões que trafegam diariamente na rodovia. Cada pista tem dois trilhos que se constituem em armadilhas para os motoristas de veículos leves que tentam ultrapassar no local. Em dias de chuva, esses veículos podem aquaplanar com facilidade.

Do km 50 ao 34

Intenso tráfego de caminhões, que são impedidos de rodar pela Estrada do Mar e têm de usar a BR-101. O acostamento exibe desníveis de até 30 cm de altura em relação à pista, o que provoca com freqüência capotagem de carretas. O maior problema, no entanto, é que a rodovia divide as duas cidades ao meio, o que provoca atropelamentos. Apesar do intenso movimento de veículos, inexistem passarelas para que os pedestres atravessem a rodovia. Os trevos de acesso aos municípios também são palco de colisões mortais, provocadas pelo excesso de velocidade de motoristas que não se dão conta de que estão num perímetro urbano. Foi o que aconteceu na véspera do Natal de 1999, quando sete pessoas morreram na batida de um caminhão Mercedes-Benz contra um motor-home que atravessou o trevo de Terra de Areia
e ingressou de sopetão na pista da rodovia.
Os dois veículos, embolados, passaram por cima de um Verona.

Do km 30 ao 20

A profusão de curvas e a baixa visibilidade costumam impacientar os motoristas, que acabam se acidentando na tentativa de realizar ultrapassagens arriscadas. Foi o que aconteceu em 25 de dezembro de 1995, quando seis pessoas morreram na colisão de cinco veículos. Uma caminhonete tentou ultrapassar uma carreta, no km 28, em Três Cachoeiras. Não conseguiu e acertou outro caminhão e um Gol. Acidente semelhante aconteceu em 20 de dezembro de 1994, no mesmo município, onde uma carreta Scania-Vabis carregada de material inflamável tentou ultrapassar um caminhão, numa curva e num dia chuvoso, acertando de frente um ônibus de excursão carregado de estudantes. Morreram nove pessoas: os motoristas dos dois veículos que se chocaram e sete crianças que estudavam em Osório e iam excursionar numa praia de Santa Catarina. Outro problema é que o acostamento exibe desníveis de até 30 cm de altura em relação à pista, o que provoca com freqüência capotagem de carretas. Foi o que aconteceu na sexta-feira, 20, com um Scania carregado com 25 toneladas de madeira, que ia de Uruguaiana até o Paraná. O veículo, dirigido por José Nelson Fabiano de Moura, tombou ao sair da pista para o acostamento, no km 13, próximo a Torres. O acostamento ali está completamente desnivelado em relação à pista.

km 340

Trecho do Morro do Formigão. As pistas foram construídas entre dois paredões de pedra e têm a chamada segunda faixa para facilitar a ultrapassagem de carros de passeio sobre veículos pesados. Porém, alguns caminhões não trafegam totalmente na segunda faixa e empurram os veículos leves para o centro da pista, ocasionando colisões frontais.

km 273

O trevo de acesso à praia de Garopaba, em Imbituba, é um dos pontos mais perigosos. O autônomo Gercino Lauro Nunes, 60 anos, disse que há uma média de dois acidentes por semana nesse acesso. O local é o ponto de entrada de muitos veranistas que se dirigem para o município de Garopaba. O trevo fica depois de uma curva, e os motoristas que trafegam com velocidade não conseguem frear quando alguém está atravessando a pista. Duas pessoas já morreram este ano.

km 319

Trecho em curva feito em alta velocidade entre as localidades de Santiago e Laranjeiras. Para os motoristas que trafegam no sentido Sul/Norte é o último ponto autorizado de ultrapassagem antes da ponte sobre o Canal de Laranjeiras (Laguna), com boa visibilidade do sentido contrário (Norte/Sul). Já os motoristas que trafegam no sentido Norte/Sul têm dificuldade de enxergar os veículos no sentido contrário (Sul/Norte). Depois de trafegarem atrás de caminhões e ônibus durante o trecho da ponte, motoristas impacientes tentar fazer a ultrapassagem sem a melhor visão da pista.

km 265

É uma reta no município de Paulo Lopes, onde há uma ponte. As pistas são divididas por tartarugas, que não impedem que os motoristas ultrapassem. Isso já resultou na morte de pessoas, como as quatro que perderam a vida no sábado que antecedeu o Natal. Fora esse acidente, a PRF constatou que já aconteceram 11 colisões fatais no local entre janeiro e outubro.

km 281

É uma reta que antecede o trevo de Imbituba. Um tradicional ponto de ultrapassagens dos motoristas. A velocidade é alta no local. Dos cinco acidentes registrados até outubro, quatro deles foram nessa reta. Quatro pessoas perderam a vida. Também é uma região com residências e movimentação comercial.

km 236 ao km 232

O trecho no Morro dos Cavalos, em Palhoça, não registrou mortes nos 10 primeiros meses do ano. No entanto, foram 86 acidentes com seis feridos graves. Um dos pontos mais perigosos é a cabeceira da ponte do Rio Maciambu, situada no início da subida para o Morro dos Cavalos. Quando o fluxo de veículos é elevado, ocorre fila na subida. Os motoristas que passam a ponte em velocidade são supreendidos com a fila, e ocorrem os chamados engavetamentos, relata o vigilante Fabricio Salles, 22, que mora nas proximidades. Ele disse que já assistiu a dezenas de tragédias no local.

km 218 ao km 216

Trevo de Palhoça, onde termina a duplicação e começa o trecho simples da BR-101 em direção ao sul catarinense. É perigoso porque os motoristas que se deslocam do trecho duplicado estão acostumados à velocidade maior. Eles supreendem motoristas descuidados que tentam atravessar o trevo. Pelo menos 35 dos 49 acidentes em 2002 no trevo foram por descuido do usuário ao passar pelo cruzamento, acredita o chefe da seção de policiamento e fiscalização da Polícia Rodoviária Federal, João Batista Motta.

CRISTIANO RIGO DALCIN E HUMBERTO TREZZI

 

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