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 | 02/12/2006 10h31min

Controladores revelam detalhes do acidente do vôo 1907

Profissional contou que toma remédio para dormir desde a tragédia

Pela primeira vez, controladores de vôo revelam detalhes do acidente envolvendo o Boeing da Gol e o jato da Legacy. A edição deste sábado da revista “Época” traz uma entrevista com dois militares da Aeronáutica, cuja identidade não foi revelada, em que contam o que aconteceu na torre de controle com a equipe responsável por monitorar os aviões, segundo O Globo Online. Eles descrevem também as circunstâncias do aquartelamento decidido em meio à crise e as deficiências dos equipamentos disponíveis.

– Estou tomando remédio para dormir porque a imagem na minha cabeça é o piloto brigando com a aeronave para não cair – diz um deles.

Os dois controladores confirmam a existência de áreas cegas e relatam as diversas tentativas de comunicação entre os pilotos do Legacy e a torre. Quando os profissionais perceberam que o Boeing estava desaparecido, o clima ficou tenso.

– Um dos supervisores falou: "Preciso ligar logo, é uma emergência". Ele estava bem apreensivo. O pessoal no console estava bem diferente, desanimado. Já imaginando que algo havia acontecido, fui ver e entendi a situação. O vôo da Gol havia saído da área de Manaus às 15h35min e deveria entrar na área de Brasília às 15h50min, ou seja, 15 minutos depois. Era só o tempo de passar da zona cega. Deu 17h20min e nada. Vi um dos integrantes da equipe balançando a cabeça, quase chorando. Outros supervisores chegaram a pedir para sair dos consoles em que estavam para tentar auxiliar os dois supervisores. O clima ficou pesado. Gente chorando e pedindo para sair – conta um deles.

– Uma das controladoras da região Rio começou a chorar. Tinha de ter chegado um psicólogo naquela hora, mas não chegou ninguém. Os oficiais presentes não tinham noção da situação. Eles não sabiam como lidar com aquela situação. Teve até discussão entre controladores e oficiais – relata outro.

Para os controladores, o jato cumpria seu plano de vôo normal. O que não funcionava era o transponder, aparelho que poderia evitar a colisão. Segundo um dos controladores, o vôo do Legacy estava normal:

– Só tivemos noção do acidente quando o avião da Gol desapareceu. Quando o Legacy pousou em Cachimbo (Base Aérea de Cachimbo, ao sul do Pará), entrou em contato falando que fez uma descida de emergência porque havia batido em algo. Aí o controlador falou: "Como bateu, se ele estava no 360 (a 36 mil pés)? Não tem como bater". No nosso plano, o Legacy estava a 360. Na apresentação do radar, ele estava a 360. Aí falam que nós e os supervisores não fizemos nada e que o Legacy estava com problemas no transponder (sistema anticolisão). Sabe por que não fizemos nada? Porque nós visualizamos o Legacy a 360 e não a 370 (37 mil pés). Como ele apresentou problema no transponder, não dava para ter os dados do jato, e sim do nosso sistema.

A Aeronáutica chegou a declarar que não havia problemas de comunicação no dia 29. Os controladores dizem que havia.

– Essa época agora de chuva é um caos. Se for no centro de controle de Brasília, agora, vai ver que está uma loucura. O setor de Cuiabá tem três freqüências. Todas funcionam com deficiência. E a comunicação não se torna clara. Isso é muito perigoso. Se a freqüência estiver com deficiência, ela está inoperante. Eu não posso dar uma instrução com eco, não posso falar e receber a resposta pela metade. A instrução tem de ser clara. Um problema que temos é que, quando a freqüência está inoperante, temos de esperar até abrir um chamado de pane. As panes podem durar pouco tempo. No dia do acidente, eles (a Aeronáutica) podem alegar que as freqüências estavam funcionando. Mas, no dia, a freqüência daquela área estava sem transmissão e sem recepção – afirma.

Outro militar disse que a pane só aconteceu naquele momento.

– O discurso da Aeronáutica é que o importante para o controlador não é o radar, mas sim a freqüência. E elas funcionam com deficiência. Um dia desses, um setor inteiro foi interditado por causa da falta de freqüência. Ou seja, tinha controlador, só não tinha onde trabalhar.

 

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