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 | 28/06/2006 12h02min

Ricardo Freire: passagem da Varig agora é dor de cabeça

Blogueiro e turista profissional participou de entrevista online no clicRBS

Viajar é com ele mesmo. Por isso, não poderíamos deixar de ouvir a opinião de Ricardo Freire, blogueiro e autor do guia Viaje na Viagem, sobre a crise da Varig. Com 50 mil milhas acumuladas no Smiles, Freire admite que ainda não fez a troca por duas passagens domésticas ou para a América do Sul por pura preguiça e "por achar, pessimisticamente, que mesmo as passagens emitidas com milhas vão micar".

Ainda acreditando que a companhia terá um "jeitinho", Freire diz que a crise da Varig já prejudica o turismo brasileiro há muito tempo. Ele lembra com saudade das lojas da Varig nas principais avenidas do mundo, que funcionavam como embaixadas brasileiras, e que acabaram fechadas. E diz que a diferença de viajar Varig é ter a sensação de estar "em casa":

– É uma sensação que pode ser dada por qualquer boa companhia brasileira. Mas a Varig tem uma simpatia que é difícil reproduzir.

Questionado se compraria uma passagem da Varig hoje, Freire afirmou:

– Não compraria não. Esperaria passar essa crise. Pra que arranjar dor de cabeça à toa?

Confira abaixo a íntegra da entrevista que foi conduzida pela jornalista Rafaela Grazziotin, e contou com a participação de internautas moderada por Samantha Bonnel.

clicRBS: Como você escolhe a companhia aérea para suas viagens?

Ricardo Freire: A que oferece o melhor preço e/ou o melhor horário. Num segundo momento, entra a questão das milhas – mas só num segundo momento...

clicRBS: Você tem milhas acumuladas no Smiles?

Ricardo Freire: Tenho – 50 mil na conta.

clicRBS: O que você pretende fazer com elas??

Ricardo Freire: Se eu seguisse os meus próprios conselhos, eu deveria trocar imediatamente por duas passagens domésticas ou para a América do Sul

clicRBS: Mas se não seguisse...?

Ricardo Freire: Eu só não segui ainda os meus conselhos por preguiça – e por achar, pessimisticamente, que mesmo as passagens emitidas com milhas vão micar.

Pergunta de internauta: Como que a crise da Varig afeta do turismo brasileiro?

Ricardo Freire: A crise da Varig já prejudica o turismo brasileiro há muito tempo. Não dá mais para um turista estrangeiro comprar um Varig Air Pass, por exemplo, porque a companhia voa para cada vez menos destinos brasileiros. Menos mal que a TAP, com suas inúmeras ligações diretas da Europa com o Nordeste, se tornou a mais importante companhia aérea "brasileira" no Exterior – ou, pelo menos, na Europa.

clicRBS: Você acha que a companhia não tem mais salvação?

Ricardo Freire: Eu ainda acredito num jeitinho que dê a companhia meio que de presente para esse consórcio que (dizem) comprou a VarigLog.

Pergunta de internauta: A marca e a imagem da Varig é importante para o turismo? Como ela é vista no Exterior?

Ricardo Freire: Não acredito que a Varig seja "conhecida" no Exterior por um turista que nunca tenha vindo ao Brasil.

clicRBS: Durante suas andanças, você consegue identificar o momento em que a crise começou a ser aparente nos vôos da Varig?

Ricardo Freire: Nos últimos anos tenho viajado mais pelo Brasil. Mas já há algum tempo a gente vinha notando os sinais dos tempos – as lojas nas principais avenidas do mundo (que funcionavam como embaixadas brasileiras, ai que saudades) foram fechando, o staff nos aeroportos estrangeiros deixou de ser próprio e passou a ser terceirizado (às vezes com funcionários que não falavam português...).

Pergunta de internauta: Qual a diferença de viajar Varig?

Ricardo Freire: Para mim a diferença de viajar Varig é estar "em casa". É uma sensação que pode ser dada por qualquer boa companhia brasileira. Mas a Varig tem uma simpatia que é difícil reproduzir.

clicRBS: Você tem algum souvenir da companhia?

Ricardo Freire: Devo ter algum kit-viagem numa gaveta em que guardava todos os kits que recebia... hoje não faço mais isso ;-) Mas não, nunca afanei nenhum copo ou talher, se é isso que você queria saber ;-)

clicRBS: Por que não faz mais isso?

Ricardo Freire: Ah, depois de um tempo não têm mais graça (e eles eram melhores antigamente...).

clicRBS: Qual sua opinião sobre serviço de bordo? Você acha realmente necessário comer algo em uma viagem de duas horas? Não é só para manter o charme da viagem?

Ricardo Freire: Mais do que charme (nunca achei charmosa nenhuma refeição a bordo, nem mesmo lá na frente), o serviço de bordo serve para entreter o passageiro, fazer o tempo passar mais rápido.

Pergunta de internauta: Você acha que a crise da Varig criou, de uma certa maneira, um monopólio da Gol e da TAM?

Ricardo Freire: Tenho lido que as outras companhias, como Ocean Air, Webjet e BRA, estão reclamando das condições que a Anac quer impor numa eventual redistribuição dos "slots" da Varig. Para evitar o duopólio, seria importante que o governo facilitasse um pouco as coisas para as novas companhias. Mais ou menos como foi feito na época do surgimento da Gol, que ganhou o direito de usar o aeroporto doméstico mais importante do Brasil (Congonhas, em São Paulo) e partiu para ficar do tamanho que está hoje.

Pergunta de internauta: Oi Ricardo, estou no Japão e estou emitindo bilhete prêmio pela Thai Air (Star Alliance), para o final do ano com milhas Smiles. Há algum risco de a Thai não honrar o bilhete em caso de falência da Varig?

Ricardo Freire: Eu acho que algum risco há, sim. Sobretudo se você resolver remarcar o bilhete para outra data. Mas o risco é baixo. Na minha opinião, bem menor do que quem tiver bilhete internacional Varig, e tiver que achar algum lugar em outra companhia com os vôos de/para o Brasil lotados do jeito que estão.

clicRBS: Você acha que as outras companhias nacionais têm condições de absorver a demanda em caso de falência da Varig?

Ricardo Freire: Rafaela, nos vôos domésticos têm, sim. Segundo as últimas estatísticas, a Varig está com apenas 14% dos vôos nacionais. Os vôos internacionais é que são elas. O mercado está muito aquecido com o dólar baixo. Por isso acho que quem ficar com passagem Varig internacional na mão, comprada ou com milhas, vai sofrer.

Pergunta de internauta: Você não acha estranho que no a empresa low cost Gol tenha o preço da TAM e a TAM por sua vez tenha o serviço da GOL?

Ricardo Freire: Muito bem apontado. Essa anomalia começou no malfadado code-share TAM-Varig, que não serviu em nada à Varig (mas fez a TAM sair do vermelho). O que aconteceu durante aquele tempo é que a Gol conseguiu subir seu preço médio quase ao nível de TAM e Varig, e TAM e Varig desceram a qualidade do serviço de bordo quase ao nível da Gol. O que acontece hoje é que as companhias têm preços muito parecidos. Nos horários menos valorizados, preços menores; nos horários de pico, preços cheios. Quem compra com antecedência acha os mesmos preços na Gol ou na TAM. É como diz o comercial da BRA: "a verdadeira companhia aérea de baixo custo é a BRA". E é mesmo...

clicRBS: Na sua opinião, por que demoraram tanto para assumir o problema e tomar uma atitude?

Ricardo Freire: Demorou-se para encarar o assunto porque todo mundo sempre achou que no final das contas o governo ia dar um jeitinho...

Pergunta de internauta: Por quantas empresas aéreas você ja viajou? Qual a melhor? Qual a pior?

Ricardo Freire: Nunca contei por quantas companhias já viajei. Mas a que mais gostei foi a Singapore Airlines, que tem as aeromoças mais gentis e serve champagne na econômica (em copo de plástico, mas serve).

clicRBS: Para descontrair um pouco... Qual foi a situação mais estranha ou engraçada que você já presenciou a bordo de um avião da Varig?

Ricardo Freire: Bom. Em janeiro de 1983 eu fiz a minha primeira viagem com meu próprio dinheiro. Fui ao Nordeste. Eu descobri que eu não tinha dinheiro para ir de ônibus – mas podia ir de avião, porque dava para parcelar sem juros. A rota mais barata de Porto Alegre a São Luís (onde eu começaria o périplo nordestino) envolvia escalas em São Paulo, Uberaba, Uberlândia, Goiânia, Brasília e Imperatriz. Claro que eu escolhi essa, porque eu adorava viajar de avião ;-) Em quase todas as escalas eles serviam um lanchinho num estojo de plástico com uma garrafinha de vinho tinto. Eu guardei uns quatro vinhozinhos. Uma delas acabou quebrando dentro da mala no meio da viagem, entre Natal e Recife...

clicRBS: Que meleca!!!

Pergunta de internauta: Ouvi uma certa vez que os slots de certos aeroportos, como o de Paris, não podem ser "repassados" para outras companhias. Se isso é verdade, o Brasil perderia autorização de pouso em aeroportos importantes?

Ricardo Freire: Eu acho que essa história dos slots é meio terrorismo. Hoje as companhias de uma mesma aliança tem slots próximos, para facilitar as conexões. A TAM acabou de entrar em Heathrow (Londres) e já publicou releases dizendo que consegiu um slot e um horário ótimos...

clicRBS: Uma última perguntinha: Você compraria uma passagem da Varig hoje? Se sim, pra qual destino?

Ricardo Freire: Não compraria não. Esperaria passar essa crise. Pra que arranjar dor de cabeça à toa?


 

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