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 | 09/03/2006 17h26min

Movimentos sociais querem nova reforma agrária

Mudanças não devem ser norteadas por princípios liberais

As mudanças defendidas na 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural dependem fundamentalmente do fortalecimento dos Estados e das Nações Unidas para serem implementadas, de acordo com o documento final do Fórum Terra, Território e Dignidade, evento da sociedade civil internacional paralelo à conferência.

– Reiteramos nosso chamado a nossos governos, ao Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e seu mandato fundador, às demais instituições das Nações Unidas, a outros atores que estão presentes na 2ª Conferência, e a nossas sociedades, a comprometerem-se decisivamente com uma Nova Reforma Agrária – afirma o texto.

– O Estado tem que jogar um papel forte nas políticas de reforma agrária e produção de alimentos – segue o documento. – Os Estados têm o direito e a obrigação de definir soberanamente e sem condicionamentos externos suas próprias políticas agrárias.

A formulação opõe-se ao modelo difundido nas últimas décadas por instituições internacionais, como o Banco Mundial, de uma "reforma agrária de mercado", a partir de um apoio público limitado ao financiamento da terra. Em outros pontos, o documento também aponta confronto com as idéias liberais: propõe o combate à privatização de toda espécie de recurso natural, como a água, o mar, a terra.

– Junto à privatização da terra e das zonas costeiras avança a privatização da biodiversidade do planeta. A vida não é uma mercadoria – segue o documento. – O uso dos recursos naturais deve estar primeiramente a serviço da produção de alimentos.

A idéia de "soberania alimentar", outro conceito central no documento, também se confronta com princípios liberais como o livre comércio, que norteia as ações internacionais de diversas instituições financeiras como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial do Comércio. Soberania alimentar é o direito de um povo ou comunidade produzir seu próprio alimento, acima dos acordos internacionais que ele possa fazer para liberar o comércio.

Nos anos 90, como conta o pesquisador inglês Peter Hallward, em artigo disponível na internet, "Option Zero in Haiti", esse país, hoje ocupado por Tropas de Paz das Nações Unidas chefiadas pelo Brasil, passou a aplicar políticas ditadas pelo FMI nesse campo. As orientações do FMI foram impostas como condição para a aceitação do retorno de Jean Baptiste Aristide ao país (o mesmo presidente deposto em 2004). O pacote incluiu, além de ajustes nas contas públicas, cortes nas tarifas para importação de produtos agrícolas. A tarifa sobre o arroz caiu de 50% para 3%, segundo Hallward.

O resultado foi a falência generalizada dos pequenos agricultores do país, gerando o desaparecimento da produção de arroz do país. Com a entrada no país de arroz norte-americano (que recebe subsídios), o Haiti, antes auto-suficiente no produto, passou a importar 220 mil toneladas por ano do grão, em 2002.

No setor de aves, foram perdidos 10 mil empregos, segundo o artigo. Anos antes, o país tinha uma única usina de açúcar, que foi privatizada. O comprador encerrou a produção e passou a importar açúcar subsidiado dos Estados Unidos.

– Como resultado dessas e outras reformas econômicas, a produção agrícola caiu de cerca de 50% do Produto Interno Bruto nos anos 70 para apenas 25% nos anos 90 – afirma Hallward.

Segundo o ministro Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário, o Brasil já vem defendendo esse direito da soberania alimentar nas negociações da Organização Mundial do Comércio.

AGÊNCIA BRASIL
 

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