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 | 07/02/2006 14h32min

Argentinos protestam contra fábricas de celulose no rio Uruguai

Jovens atravessam rio de caiaque para chamar atenção para poluição

Três argentinos fazem a primeira travessia de caiaque pelo rio Uruguai para chamar a atenção sobre a instalação de duas fábricas de celulose na margem leste desse rio, fronteira natural entre a Argentina e o Uruguai.

– Trata-se da primeira vez que se faz uma travessia que une a nascente do rio Uruguai com sua foz. Isto ocorre dentro das ações para proteger nosso rio e dizer não à celulose – disse o jornalista Andrés Rivas, de 28 anos, um dos promotores de "El Agua Manda", como esta "cruzada" foi batizada.

Os três integrantes da expedição são de Gualeguaychú, cidade argentina à margem do rio Uruguai e em frente à qual está sendo construída uma fábrica de celulose da empresa finlandesa Botnia, perto da cidade uruguaia de Fray Bentos, onde também haverá outra fábrica de celulose, da espanhola Ence.

Estes dois projetos geraram uma controvérsia diplomática entre Argentina e Uruguai, e os moradores de Gualeguaychú adotaram o bloqueio das pontes que ligam os dois países como medida de protesto contra estas fábricas, consideradas altamente poluentes.

– Nós fazemos um relatório de toda a vida que o rio nos oferece, e também registramos dados sobre poluição deste recurso. Nosso desejo é terminar com a política de extermínio do rio – disse Hermann Feldkamp, fotógrafo e escalador de 35 anos.

A equipe de "El Agua Manda" é completada por Juan Martín Rivas, um publicitário de 23 anos, irmão de Andrés. Os três jovens iniciaram sua travessia em 29 de dezembro em Encruzilhada do Sul, localidade no limite do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, na nascente do rio Uruguai, a confluência dos rios Canoas e Pelotas.

A expedição, que está perto da cidade argentina de Paso de los Libres (fronteira com a brasileira Uruguaiana, 800 quilômetros ao norte de Buenos Aires), leva uma câmera de vídeo com a idéia de fazer um documentário.

Os jovens publicam um diário de bordo no site www.elaguamanda.blogspot.com contando o dia-a-dia de sua aventura, no qual os visitantes também deixam suas adesões ao projeto. Entre as mensagens, destaca-se a do escritor uruguaio Eduardo Galeano:

– Nessas seis mãos, muitas mãos remarão. Bem-vinda seja esta aventura. Que transcorra tudo bem nessas conversas com o rio ameaçado.

– No caminho vamos deixando nossa mensagem. Não sabemos o que vai acontecer quando chegarmos à região de Fray Bentos, porque o ambiente não está muito amigável, mas queremos dizer que o rio não é uma fronteira, mas uma forma de comunicação entre dois países que historicamente foram irmãos – disse Feldkamp.

Os expedicionários garantem que esta experiência os colocou "num pêndulo que oscila entre desfrutar a natureza em sua máxima expressão e a tristeza de ver como o rio é maltratado".

A viagem serve para constatar que no rio Uruguai, além do efeito prejudicial que as fábricas da Botnia e da Ence podem causar, já há zonas com índices muito altos de contaminação, com metais como mercúrio e cromo.

– Por sorte, nos enche a alma conhecer pessoas que estão trabalhando sobre estes assuntos. A costa brasileira está toda devastada pelos cultivos de arroz, que não se contentam em destruir o monte nativo, já que a cada cinco quilômetros há grandes canos que sugam enormes quantidades de água do rio – contam os jovens.

Após percorrer mais de 2 mil quilômetros a remo, os três expedicionários prevêem chegar a Buenos Aires na primeira semana de março, quando planejam entregar uma carta ao presidente da Argentina, Néstor Kirchner, com uma mensagem contra as fábricas de celulose.

As fábricas representam um investimento de US$ 1,8 bilhão, o maior recebido pelo Uruguai em sua história, enquanto a Argentina afirma que os projetos acarretarão prejuízos de cerca de US$ 800 milhões anuais por causa da poluição ambiental.

Uma das principais críticas é a utilização de cloro no processo de lavagem da pasta de celulose, cujos resíduos, jogados no rio e no ar, causam nos seres humanos transtornos nos sistemas imunológico, nervoso e reprodutor, além de danos ao meio ambiente.

AGÊNCIA EFE

 

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