Itapema FM | 18/02/2011 11h02min
Terminou de vez a orfandade dos fãs do Oasis. A banda de Champagne Supernova e Wonderwall pode ter acabado no papel, mas segue presente na sonoridade do Beady Eye, liderado pelo cantor Liam Gallagher. O primeiro álbum do novo grupo vazou na internet esta semana e chega às lojas da Grã Bretanha no próximo dia 28.
Na prática, falando estritamente em termos de escalação, o Beady Eye é o próprio Oasis, com outro nome e sem o guitarrista, cantor e compositor Noel Gallagher. O novo grupo começou a ser forjado em 2009 – o ano em que as históricas desavenças entre os irmãos Noel e Liam, que muitas vezes pareciam mais marketing do que qualquer outra coisa, revelaram-se verdadeiras. Eles brigaram feio pouco antes da hora de entrar em cena em um show em Paris, em agosto, e essa foi a deixa para Noel anunciar que estava abandonando o Oasis.
Vendo de fora, o Oasis parecia bem – estava em plena turnê de um de seus melhores discos da década, Dig Out Your Soul (2008). Mas, durante a passagem da banda pelo Brasil, em maio daquele ano, os Gallagher deram pistas de que o clima não era dos melhores. Em entrevista a Zero Hora, Noel manifestou o desejo de tirar longas férias depois daquela turnê. De seu lado, Liam descartava a ideia e garantia que não conseguia ficar perto do irmão – a quem qualificava como “aquele bastardo miserável”. Após o rompimento, Liam garantiu que o grupo continuaria, na estrada e no estúdio, apenas sem o nome Oasis.
No Beady Eye, pouca coisa mudou em relação à última formação do Oasis. Liam canta, Gem Archer toca guitarra, o baixista Andy Bell passou a tocar guitarra também, Chris Sharrock é o baterista e os quatro contam com um baixista e um tecladista de apoio nas performances ao vivo. A trupe lançou seu primeiro single, Bring the Light, em novembro passado, e outras prévias do novo álbum vieram em dezembro (Four Letter Word) e janeiro (The Roller). Todas deixam claro que o Beady Eye não foge muito da matriz – as duas primeiras são rocks de alto calibre, e a última tem inspiração direta na carreira solo de John Lennon.
O nome Beady Eye – expressão que, informalmente, indica “olho vivo” – pode sugerir uma espécie de retaliação ao dissidente Noel. E, naturalmente, muitos dos versos que Liam canta no novo álbum – ironicamente chamado Different Gear, Still Speeding (“máquina diferente, ainda acelerando”) – podem ser lidos como recados ao irmão. É o caso evidente da já citada Four Letter Word, que começa dizendo: “Viva a vida como um sonâmbulo / Se isso te empolga (...) É hora / De sua mente tirar umas férias / Você está crescido / Você nunca quer brincar?”.
Por outro lado, Kill for a Dream parece querer deixar a porta aberta: “A vida é muito curta para não se perdoar / Você pode carregar arrependimentos, mas eles não te deixarão viver / Estou aqui se você quiser ligar”. Na mesma música, Liam dá outro sinal claro de que o espírito fanfarrão do Oasis não se perdeu: “Em minha mente / Eu mataria por um sonho esta noite”.
As canções |
Four Letter Word – Rock frenético, com riff dissonante, abre o disco com impacto. |
Millionaire – A melodia do violão garante um dos melhores momentos do disco. |
The Roller – Arranjo e ritmo remetem direto a Instant Karma!, de John Lennon. |
Beatles and Stones – Nem um, nem outro: a referência (muito) clara aqui é My Generation, do The Who. A letra é pura pretensão a la Oasis: “Vou passar pelo teste do tempo / Como Beatles e Stones”. |
Wind Up Dream – Boa canção no estilo Oasis, embora perca um pouco o pique. |
Bring the Light – Rockão inspirado nos anos 1950 – um dos pontos altos. |
For Anyone – A surpresa: uma canção leve, com um quê de Beach Boys |
Kill for a Dream – Balada conduzida no violão, cresce e ganha ares épicos. |
Standing on the Edge of the Noise – Outro bom rock envenenado. |
Wigwam – Outra canção mais calma, com um toque psicodélico, mas muito longa. |
Three Ring Circus – Na mesma onda psicodélica, mas bem mais animada. |
The Beat Goes On – Prepara o clima contemplativo do final, lembrando muito Hello, Goodbye, dos Beatles. |
The Morning Son – Um final suave, com direito a um toque otimista na letra: “O filho da manhã apareceu”. |
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