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 | 28/12/2001 22h55min

O longo caminho de Ivo Wortmann

Nunca o trajeto da Cidade Baixa até o Beira-Rio foi tão longo e demorado. O gaúcho Ivo Ardais Wortmann (foto), 52 anos, atravessou continentes antes de assumir o Inter, o clube localizado a pouco mais de quatro quilômetros do bairro no qual se criou.

O guri da rua Sofia Velloso virou cidadão do mundo, trabalhou na Arábia Saudita, no Catar, nos Emirados e nos Estados Unidos antes de encarar aquele que considera o maior desafio da carreira. Por ironia, quase ao lado de casa, 21 anos depois.

Ivo cumpriu uma trajetória diversa a da maioria dos ex-jogadores que viram técnico. Deixou os campos em 1979, no Palmeiras, e tratou de estudar. Formou-se em Educação Física – licenciatura – e complementou o currículo com os cursos de Técnica Desportiva em Futebol e Administração Esportiva. Começou a aplicar os conhecimentos nos juniores do Grêmio, em 1980. Depois disso, sua carreira tomou um rumo inesperado. Ivo transitou entre clubes pequenos do Interior e seleções amadoras e profissionais dos países árabes. Antes de voltar ao Brasil, mergulhou no incipiente "soccer" dos americanos.

Nestes 21 anos como técnico, Ivo trabalhou 14 deles no Exterior. Enquanto esperava uma oportunidade no mercado brasileiro, se aperfeiçoou. Talvez seja o técnico mais lapidado do nosso futebol. Os países árabes mantêm estreita relação com o futebol europeu e seus centros mais avançados. Como comandava seleções, Ivo submergia em pré-temporadas de até três meses em países como Inglaterra, Itália, Holanda e Alemanha. Conversava com técnicos e jogadores dos principais clubes, assistia a treinos e jogos e tinha acesso a publicações especializadas.

– Quando voltava do mundo árabe, diziam que estava desatualizado. Era o contrário, sempre estive por dentro de tudo e bastante informado – afirma.

Torna-se desnecessário dizer que o "gringo" Ivo se adaptou perfeitamente à vida nos países árabes. Afora o "formigamento" provocado pelo calor quando abriu a porta do avião na primeira vez em que chegou ao Catar, em 1982, nada mais o incomodou. Nem calor sentia mais, garante. Ivo participou até de casamentos árabes, vestiu as roupas típicas, enquadrou-se nas rígidas leis sauditas e aprendeu a respeitar o Islã.

A adaptação aliada aos resultados em campo o transformaram em "xodó" dos príncipes. Ele mesmo admite que recebia regalias dos dirigentes. Criou uma ponte-aérea Riad-Porto Alegre a partir de 1994. Quando não havia treinos ou jogos da seleção árabe, estava com a família.

– Acho que os príncipes gostavam de mim e do meu trabalho – explica.

Como ganhava títulos, Ivo também era agraciado com presentes. Relógios de ouro, tapetes persas, jóias em ouro. Em 1989, ganhou a Copa da Ásia sub-17 com a Arábia. O príncipe, agradecido, financiou as passagens de uma volta ao mundo para o técnico, a mulher e os dois filhos. Ivo saiu de Riad e passou por Bangcoc, Cingapura, Hong Kong, Tóquio, Los Angeles, Miami, Buenos Aires até chegar a Porto Alegre. Foram 40 dias em viagem.

A classificação da Arábia para a Olimpíada de Atlanta/96 foi o grande salto na carreira. Em 1997, ficou dois meses na Alemanha visitando clubes e técnicos e estudando o idioma. A idéia era obter o passaporte alemão e encaixá-lo em alguma equipe da primeira divisão. Ivo já se comunicava em alemão e havia sido apresentado aos grandes nomes da Bundesliga quando teve o pedido de dupla cidadania negado. A desilusão deixou traumas.

– Esqueci tudo que havia aprendido de alemão, foi como se tivesse dado um branco. Bloqueou mesmo – conta Ivo.

O prestígio alcançado na Olimpíada abriu portas nos Estados Unidos. Primeiro, ensinou futebol na academia de Nick Bollettieri. Trata-se de um dos mais conceituados centros de formação de atletas do mundo, localizado na Flórida. Ivo cruzava diariamente com nomes como as irmãs tenistas Serena e Venus Williams, Andre Agassi, Marcelo Rios e o ídolo da NBA Kobe Bryant.

Indicado por Carlos Alberto Parreira, assumiu o Miami Fusion em 1998. O bom desempenho no time lhe valeu o cargo de auxiliar na comissão técnica da seleção americana. Até hoje mantém contato via e-mail com o técnico Bruce Arena. Neste período, o Inter tentara sua contratação, impedida pelo contrato com o Miami. Em 1997, ele havia perdido a corrida para Celso Roth.

Em outubro de 2000, avalizado por Luiz Felipe Scolari, Ivo começava o caminho de volta. Assumiu o Coritiba nas últimas posições da Copa João Havelange, colocou-o em uma posição digna e pavimentou o caminho.

– Não tinha a chance de errar no Coritiba, sob pena de me queimar no mercado brasileiro – lembra.

Ivo não errou. Fez melhor. Recolocou o Coritiba no cenário. Foi vice-campeão da Sul Minas e semifinalista das Copas do Brasil e dos Campeões. Teve uma passagem frustrada e rápida pelo Cruzeiro e voltou ao Coritiba para aparar as arestas de uma saída atrapalhada. Foi o último estágio antes de chegar àquela que considera a grande chance de sua carreira, o ponto de chegada de uma viagem que começou na Cidade Baixa e passou por Arábia, Europa e Estados Unidos.

– Agora é a minha hora, assumo um grande clube que não tem sido vencedor. É o meu grande desafio e vim em busca de títulos – avisa.

CARLOS CORRÊA, CARLOS ANDRÉ MOREIRA E LEONARDO OLIVEIRA
Paulo Franken / ZH


Foto:  Paulo Franken  /  ZH


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