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 | 09/04/2003 20h37min

Embaixador iraquiano na ONU admite que Saddam não controla Bagdá

Disputa pelo poder no país começa com reunião no próximo sábado

O embaixador do Iraque na Organização das Nações Unidas (ONU), Mohammed Aldouri, disse nesta quarta, dia 9, que o "jogo acabou" e espera que o povo iraquiano em breve possa viver em paz. Falando a repórteres em frente à sua residência, Aldouri disse:

– O trabalho agora é pela paz. Esperamos que a paz prevaleça.

Aldouri pela primeira vez admitiu que o presidente iraquiano, Saddam Hussein, não controla mais Bagdá.

Nesta quarta, as autoridades americanas festejaram a consagração obtida na conquista da capital iraquiana, mas avisaram que a guerra ainda não terminou, apesar de a diplomacia já articular como será o novo governo no Iraque. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld afirmou que o combate vai continuar e que os militares americanos ainda precisam localizar Saddam Hussein.

Tikrit, a cidade natal de Saddam, deverá ser palco das batalhas a partir de agora. Os EUA admitem a possibilidade de que o ditador possa ter escapado de Bagdá e buscado refúgio em Tikrit, levando com ele seus mais fiéis combatentes. O brigadeiro-general americano Vincent Brooks, porta-voz do Comando Central dos EUA, no Catar, disse nesta quarta que os EUA haviam notado uma concentração de forças ao redor da cidade natal de Saddam. 

Rumsfeld disse ainda que informações que auxiliarem as tropas da coalizão serão recompensados de forma justa. Ele ressaltou que os iraquianos não precisam mais ter medo de falar.

Até agora, não há nenhuma informação concreta sobre o paradeiro de Saddam, ainda que todos os dias, surja um novo boato. A versão mais recente foi publicada pelo jornal americano The Washington Post. Em sua edição desta quarta, o jornal cita fontes do serviço de inteligência dos EUA, que disseram ter visto Saddam entrando em um prédio na segunda, mas não o viram sair antes de o edifício ser destruído por um ataque aéreo, lançado na madrugada de terça.

Saddam estaria sendo seguido por um espião iraquiano recrutado pela CIA e por um comando de elite da Força Delta. Foram estas as pessoas que viram o ditador entrando no prédio, no bairro de Mansur, e relataram o fato aos EUA, que lançaram então o "ataque cirúrgico". A CIA aparentemente confia que a ofensiva tenha sido um sucesso total – além de Saddam, pelo menos 29 pessoas teriam morrido, entre elas os filhos do ditador, Uday e Qusay, e os principais dirigentes do Partido Baath.

Ahmed Chalabi, líder do Congresso Nacional Iraquiano, principal movimento de oposição no Iraque, disse nesta quarta em entrevista à CNN que Saddam e seus filhos não só sobreviveram aos ataques como conseguiram fugir de Bagdá.

Um boato divulgado nesta quarta dando conta de que Saddam teria se escondido na Embaixada da Rússia em Bagdá irritou autoridades do Ministério do Exterior da Rússia.

– Esta é mais uma tentativa de colocar em perigo a Embaixada da Rússia em Bagdá – disse o porta-voz Alexander Yakovenko.

Depois da tomada de Bagdá, uma nova batalha começa a tomar forma: a disputa pela administração pós-guerra no Iraque. Os americanos saíram na frente: nesta quarta, o vice-presidente americano, Dick Cheney já anunciava uma reunião, no próximo sábado, perto de Nasiriya, no sul do Iraque, para preparar a criação de um governo interino em Bagdá.

Mais tarde, o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Richard Boucher, disse que o governo de Washington ainda não definiu qual será a nova administração, mas ressaltou a importância da participação do povo iraquiano na escolha de seus líderes.

O principal órgão articulado pelos americanos para organizar esta escolha será o Escritório para a Reconstrução e Ajuda Humanitária, chefiado pelo general da reserva Jay Garner, que está no Kuwait. O escritório deverá colocar em Bagdá assessores civis americanos nos principais postos de responsabilidade da administração civil iraquiana e controlar a distribuição de ajuda humanitária e a reconstrução do país.

A reconstrução será palco de embates entre os diversos grupos oposicionistas iraquianos, dos quais o que parece ser mais simpático a Washington é o Congresso Nacional Iraquiano, do banqueiro Ahmad Chalabi. Nos Estados Unidos, a briga pelo controle do Iraque pacificado pode opor os departamentos de Defesa, do secretário Donald Rumsfeld, e de Estado, do general Colin Powell.

Além disso, existe a pressão européia – que inclui os aliados dos EUA na guerra, Grã-Bretanha e Espanha – para que seja ampliada a participação da Organização das Nações Unidas (ONU) no Iraque.

 
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