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 | 19/11/2008 05h36min

O Grêmio se omitiu, diz mãe de torcedor baleado

Ana Lúcia Pereira lamenta que dirigentes não tenham ligado para saber como estava o filho

Leandro Behs  |  leandro.behs@zerohora.com.br

Enquanto se agarra à fé e faz vigília no Hospital de Pronto-Socorro, a mãe do torcedor baleado na cabeça depois da partida contra o Coritiba reclama do descaso do Grêmio. Ana Lúcia Pereira, 48 anos, lamenta que o presidente Paulo Odone ou algum dirigente sequer tenha telefonado para saber como estava o filho, Lucas Pereira Balardin, 19 anos.

– Estou tentando salvar a vida do meu filho, enquanto o Grêmio se omite de tudo o que acontece. O presidente Paulo Odone disse que não tem responsabilidades se o fato aconteceu fora do estádio. Por que tanta indiferença? – protestou Ana Lúcia. – Meu filho vai sair desta e, no que depender de mim, jamais voltará ao Olímpico.

A vida da esteticista tomou inesperado rumo aos 30 minutos da segunda-feira. O telefone do apartamento de três quartos no qual mora com os pais idosos e os dois filhos, Lucas, e Ana Carolina, 16, tocou três vezes. Ela correu para atender, interrompendo a oração que fazia instantes antes de se deitar.

– Tia, o Lucas levou um tiro na cabeça. É grave, tia. Corre ‘pro’ Pronto-Socorro.

Assim que Adriana, amiga de Lucas, desligou o telefone, Ana ligou para o ex-marido, Rafael, avisando sobre o incidente e pegou um táxi do bairro Tristeza até o Bom Fim. Às pressas, ganhou o saguão do HPS e foi orientada a reconhecer o garoto que estava sem identificação e prestes a ingressar na mesa de cirurgia para a retirada da bala que atravessou a sua fronte. Enquanto Lucas era operado, Ana ficou sabendo que o filho, estudante de Publicidade da Ulbra, estava havia um mês na Máfia Tricolor e era um dos dissidentes da Geral. Até então, pensava que a relação do filho com o Grêmio se limitava a assistir aos jogos com os amigos.

Na tarde de segunda-feira, Lucas saiu do coma. Ainda não consegue falar. Balbucia algumas palavras e se comunica com os pais piscando os olhos e movimentando lentamente as mãos. Ontem, passou algumas horas sem o tubo que o auxilia na respiração. Seguirá em observação no HPS até sábado. O quadro é grave, e ele ainda corre risco de morte. Mesmo que recuperado, poderá ficar com seqüelas. A área atingida pelo tiro é a que comanda as reações comportamentais.

Ana pode ver o filho na UTI do hospital por meia hora em cada turno. Só dormiu algumas horas na madrugada de terça à base de tranqüilizantes. Ontem, às 7h, estava de volta à vigília no HPS.

Muitos companheiros de torcida visitam o filho no HPS. As conversas entre eles deixam claro: há uma guerra de torcidas atrás do espetáculo das avalanches. Ana alerta que a Máfia buscará vingança, com data marcada: 7 de dezembro, no último jogo do ano, contra o Atlético-MG.

– Supliquei para que não façam isso. Não quero ver meu filho justiçado desta maneira. Quero justiça, não vingança. A Polícia e o Ministério Público precisam fazer algo para evitar uma tragédia maior – disse a mãe.

 
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