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 | 15/01/2008 14h34min

Cartas revelam que reféns das Farc vivem acorrentados, humilhados e irritados

Além de servirem como provas de sobrevivência, cartas mostram a degradante situação dos reféns

Os reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) sobrevivem nas selvas colombianas acorrentados, humilhados e irritados, segundo revelam em cartas divulgadas nesta terça.

"Não é a dor física o que nos fere, não são as correntes que temos penduradas em nossos pescoços o que nos atormenta, não são as constantes doenças o motivo de nossa aflição. É a agonia mental causada pela irracionalidade de tudo isto", afirma uma das cartas divulgadas pela emissora colombiana Rádio Caracol.

"(O que nos fere) é a irritação que nos causa a perversidade do mau e a indiferença com relação ao que é bom", completa a mensagem, assinada pelo coronel da Polícia Luis Mendieta, o ex-congressista Orlando Beltrán, o ex-governador Alan Jara, o capitão Enrique Murillo Sánchez, o tenente William Donato e o sargento Arbey Delgado Argote, e dirigida ao diretor da Caracol, Darío Arismendi.

Outras cartas, de um total de oito seqüestrados, foram entregues aos parentes dos mesmos pela ex-congressista Consuelo González de Perdomo, que foi liberada pelas Farc junto com a ex-candidata à Vice-Presidência da Colômbia Clara Rojas no último dia 10. Além de servirem como provas de sobrevivência de seus signatários, as cartas mostram a degradante condição em que os reféns se encontram nas selvas colombianas.

Em uma destas cartas, o ex-congressista Jorge Eduardo Gechen Turbay implora para não o deixem morrer na selva e pede para ser levado, como prisioneiro de guerra, a Cuba, para receber atendimento médico para seus problemas de saúde, que, segundo parece, são gástricos, lombares e de coração.

Gechen foi seqüestrado em fevereiro de 2002 de um avião que o grupo guerrilheiro obrigou a aterrissar em uma estrada no sudeste da Colômbia, poucas horas antes de o governo do então presidente Andrés Pastrana (1998-2002) ter dado como encerrados três anos de um frustrado processo de paz com as Farc que incluiu a desmilitarização de 42 mil quilômetros quadrados nas selvas do sudoeste do país.

O coronel Mendieta fala, por sua vez, em carta a sua esposa María Teresa e a seus filhos Jenny e José Luis, do drama de viver na selva, com animais, rios, um péssimo clima e doenças como uma paralisia que o atingiu nas pernas.

Mendieta não desperdiçou um só espaço do papel em que escreveu, onde quase nada ficou em branco. Sua filha Jenny leu as palavras do coronel com a voz embargada.

Seqüestrado há nove anos, Mendieta fala que passou cinco semanas sem poder caminhar, em uma rede, e depois começou a andar com muletas improvisadas, com uma bengala, por pântanos e rios, espantando animais, mosquitos grandes, e tendo que arrastar-se até um banheiro improvisado em meio à lama para fazer suas necessidades.

Jenny, antes de ler a carta, pediu aos colombianos que entendessem a "grande dor" dos seqüestrados e de suas famílias.

"Quase nunca divulgamos uma carta, e gostaria que ouvissem a grande dor que está afligindo os seqüestrados", disse.

O coronel, acorrentado no pescoço e amarrado às noites a um tronco, como todos os outros policiais e soldados seqüestrados, conta em sua carta que quando tentou voltar a caminhar se sentiu como "uma criança".

Também relata que, com chagas e cicatrizes, está há vários anos "em mau estado de saúde", que sofre represálias da guerrilha, que é "difícil dividir cada coisa que chega", que em duas ocasiões teve malária e que já tomou muitos remédios. Diz ainda que há um ano e meio tem dores no peito, que os ossos, as articulações e as pernas doem, e que nas costas tem "uma mancha roxa", que atribui a uma agressão sofrida.

As cartas dos oito seqüestrados a suas famílias foram entregues pelos membros das Farc ao ministro do Interior da Venezuela, Ramón Rodríguez Chacín, no último dia 10, quando este recebeu, em algum local da selva colombiana, Clara Rojas e Consuelo González.

EFE
Daniel Muñoz, EFE  / 

Mulher do ex-congresista colombiano Jorge Geschem, refém das Farc desde 2002, mostra carta-prova de vida enviada por Consuelo González de Perdomo
Foto:  Daniel Muñoz, EFE


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