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 | 18/10/2006 12h12min

Rijkaard diz que ainda precisa estudar o Colorado

Técnico afirma que sua equipe joga em função de Ronaldinho

O técnico do Barcelona, Franklin Edmundo Rijkaard, sabe pouco do Inter, mas revela que vai estudar o campeão da América em dezembro. O treinador concedeu entrevista a Zero Hora, no Estádio Camp Nou, no início de setembro.

Rijkaard (se diz Ráikar) é uma espécie de psicólogo no Barcelona. Ele passa parte de sua rotina no clube treinando jogadores, dirigentes, torcedores e, claro, a imprensa:

– Sou conhecido por ser calmo e tranqüilo, mas, à beira do túnel, a adrenalina sobe demais – confessou.

Durante a conversa, que durou mais de meia hora, o técnico disse por que em seu time Ronaldinho dá certo, discorreu sobre esquemas táticos e deixou transparecer suas poucas informações sobre o Inter, que pode enfrentar no Japão. Estes são os principais trechos da conversa:

Zero Hora - Os brasileiros têm curiosidade em saber como, no Barcelona, Ronaldinho consegue desenvolver todo o seu potencial. Frank Rijkaard - Em primeiro lugar, é preciso saber que Ronaldinho é um jogador que, quando atua bem, leva a equipe junto. É um jogador que faz a diferença, para o Barcelona ou sua Seleção.

ZH - Mas ele tem alguns privilégios em seu esquema tático?
Rijkaard - Sua qualidade e sua classe futebolística é que definem isso. No meu esquema ele tem liberdade. É isso. Ele atua na extrema esquerda com total liberdade para suas ações. A equipe sabe que também é importante jogar em função de um grande jogador, ainda mais Ronaldinho. Então, é importante que os demais atacantes ajudem a marcar para que Ronaldinho possa brilhar ao máximo. Então acaba sendo, na verdade, um trabalho de equipe para que ele desenvolva sua arte. Nos parece simples.

ZH - Por falar em três atacantes, você resgata um sistema considerado antigo, de ponteiros abertos. Estou enganado?
Rijkaard - Ronaldinho é um destes extremas (na outra ponta jogam Giuly ou Messi). Quando ele sente que tem espaço, se vai. Quando ele cai para dentro do campo, peço que o outro extrema (ponta) fique aberto. Gosto de jogar assim.

ZH - O seu esquema une o que você captou ofensivamente no futebol holandês com o rígido sistema defensivo usado na Itália?
Rijkaard - Sim, é isso mesmo. O estilo holandês privilegia o ataque, com dois jogadores abertos nas pontas, sempre ofensivo. E tenho a minha experiência na Itália, que me ajuda a preparar defensivamente a equipe. Concordo com quem diz que jogamos numa mescla destas duas escolas, pode ser.

ZH - Entre o jogador habilidoso e o inteligente você opta pelo segundo, é isso?
Rijkaard
- Preciso dos dois estilos, por isso insisto em que o Barcelona é um trabalho de equipe. Posso dar um exemplo: quando um lateral de meu time vai ao ataque, preciso que o outro lateral entenda - sem a ajuda do treinador - que nesse momento é hora de permanecer na defesa. O jogador inteligente é o que, por conta própria, vê o companheiro se mandando para o ataque e resolve ficar em seu lugar.

ZH - Isso é o que você mais valoriza num jogador?
Rijkaard - O que mais valorizo em um time é como se posiciona quando está sem a bola. Isso é o fundamental. Com a bola nos pés, costumamos jogar bem. Mas quando perdemos a bola e a equipe está desarrumada, deixando muitos vazios à disposição do adversário, esta é a hora de os nossos oponentes se aproveitarem. Por isso, sempre peço que, pelo menos, dois dos jogadores do meio-campo e um dos dois laterais fiquem. Quando todos vão ao ataque, ficamos vulneráveis atrás.

ZH - Seus times são orientados a trocar passes de um lado para outro, esperando a hora de dar o bote fatal. Poucas equipes do mundo mantêm tanto a bola em seus pés quanto o Barcelona...
Rijkaard
- O Lyon, da França (de Juninho, Cris e Fred), também joga ofensivamente e mantém a bola...

ZH - A média do Barcelona chega a ultrapassar 60% de posse de bola em uma partida.
Rijkaard
- Sim. Costumamos ser donos da bola em campo, mesmo quando não estamos jogando bem. Mas é preciso ressaltar que boa parte das equipes quando nos enfrentam acaba mudando seu esquema tático, recua e fica nos esperando no meio-campo, por isso acabam nos deixando manejar mais a bola. Mas é uma verdade que o Barcelona funciona melhor quando tem a bola à sua disposição.

ZH - Você quase foi demitido no início da temporada, em 2003. Dizem que sua vida no clube teria mudado depois da contratação do volante Davids.
Rijkaard
- Jogávamos muito ofensivos, mas nos faltava um defensor no meio-de-campo, que desse liberdade ao Ronaldinho. E ele (Davids) fez isso muito bem.

ZH - Quem é que significa o equilíbrio de seu time?
Rijkaard
- Deco.

ZH - Nota-se que toda jogada passa por ele.
Rijkaard - Se o Deco vai bem, o Barça vai bem. Para atacar e para defender.

ZH - Fabio Capello está fazendo a "italianização" do Real Madrid, montando um time que primeiro não perde para depois buscar a vitória, oposto à ideologia galáctica. Você pensou em algo parecido ao pedir o zagueiro francês Thuran, que estava no futebol italiano, e o lateral Zambrota, também campeão do mundo?
Rijkaard - Tenho sempre respeito pela cultura de um clube. E a cultura do Barcelona é a de ganhar mas ganhar com um jogo ofensivo. Esta é uma filosofia do clube. O público espanhol quer ver um bom futebol, além dos resultados.

ZH - Não querem apenas resultados?
Rijkaard - Aqui o torcedor gosta muito de ver uma equipe que joga de forma atraente. Depois vêm os resultados, que obviamente também são importantes.

ZH - Você tem um time modelo na cabeça?
Rijkaard - Gosto do Barcelona, o de 2004-2005. Mas o futebol está mudando, se renovando. Minha inspiração é o equilíbrio entre defesa e ataque, mas não posso comparar o Barcelona de hoje com o Brasil de 1970 ou a Holanda de 74.

ZH - Seu sistema ideal é mesmo o 4-3-3?
Rijkaard - É o preferido. Mas sempre mudo quando preciso. Quando, por exemplo, temos que virar um resultado, tiro um centrocampista e coloco um quarto atacante. Mas se vejo que a equipe está perdendo, mas jogando bem, mantenho o 4-3-3. Às vezes até troco um jogador por outro, mas não necessariamente troco o esquema quando estamos perdendo.

ZH - Quem é você dentro de campo, que faz esta troca de esquema dentro de esquema? Qual o jogador que orienta os demais?
Rijkaard - São todos inteligentes e envio uma orientação pelo jogador que entra. Os atletas com quem mais falo taticamente são o Edmilson e o Deco.

ZH - O esquema com três zagueiros está fora de cogitação?
Rijkaard - Não. Quando jogamos contra dois avantes, podemos usar três zagueiros.

ZH - Sobre o futebol brasileiro, o que você sabe?
Rijkaard - Sei das muitas estrelas que jogam na Europa, mas sei muito pouco sobre os clubes brasileiros. Vejo os jogos pela TV.

ZH - O que você sabe do Inter?
Rijkaard - (depois de um silêncio de oito segundos)... Temos observadores atentos.

ZH - Estão atentos ao Inter?
Rijkaard - Ainda temos que estudar o Inter. Temos nossos observadores, eles estão olhando e, quando chegar o momento, vamos ver fitas e imagens do Inter de Porto Alegre.

ZH - Quando será a preparação de sua equipe para o Mundial?
Rijkaard - Só depois de terminar nossa participação na Liga Espanhola. Vamos viajar dois ou três dias antes, apenas. Estamos preparados e nos preparando desde já. Temos que viajar, chegar e jogar. Estamos acostumados com isso.

ZH - O Mundial do Japão tem algum significado especial?
Rijkaard - Não é fácil ganhá-lo, e isso já é a nossa maior motivação. É um prêmio que tem importância para a história do clube.

ZH - Quando o Inter passará a fazer parte de suas preocupações? Rijkaard - Uma semana antes de viajar. Nossa prática é essa, estamos acostumados a participar simultaneamente de mais de uma competição. Nosso objetivo é sempre o próximo jogo. Isso vai ocorrer também no Japão. O próximo jogo é sempre o mais importante para nós, e isso não é apenas uma forma de dizer. É a realidade do Barcelona.

RICARDO STEFANELLI / ZERO HORA
 
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