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 | 15/07/2002 14h58min

Presidente decreta estado de sítio no Paraguai

Manifestantes entram em confronto com a polícia ao pedir renúncia de Macchi

O presidente do Paraguai, Luis González Macchi, decretou nesta segunda-feira, 15 de julho, estado de sítio no país por cinco dias, suspendendo alguns direitos civis. A medida foi tomada depois que ao menos quatro pessoas ficaram seriamente feridas em protestos contra suas políticas econômicas. A suspensão das garantias constitucionais deve ser ratificada ou rechaçada em 48 horas pelo Congresso.

Na madrugada desta segunda, manifestantes fecharam a Ponte da Amizade, que liga o Brasil ao Paraguai, para pedir a renúncia de Macchi e a antecipação das eleições presidenciais. O grupo também quer a volta do general Lino Oviedo ao país. Oviedo deixou o Paraguai em 1999, depois que sofreu acusações de ser um dos mandantes do assassinato do então vice-presidente Luís María Argaña, em Assunção. Logo que deixou o país, Oviedo pediu asilo na Argentina. Atualmente vivendo no Brasil, o general pleiteia uma vaga na Universidade de Cuiabá (MT) a fim de garantir o visto de pesquisador na área agrícola e permanecer em solo brasileiro.

A Ponte da Amizade, localizada entre a cidade brasileira de Foz do Iguaçu e a paraguaia Ciudad del Este, ficou bloqueada durante toda a manhã, mas foi reaberta por volta do meio-dia. Todas as lojas em Ciudad del Este estão fechadas, o que fez com que muitos sacoleiros brasileiros desistissem de atravessar a fronteira, como fazem diariamente. Informações extra-oficiais dão conta de que conflitos no local deixaram pelo menos 15 feridos. Os manifestantes passaram a manhã em confronto com a Polícia de Choque paraguaia. Por volta das 6h, o Exército tentou impedir a ocupação da ponte, mas não obteve sucesso. Três pessoas foram detidas. Há manifestações em pelo menos cinco pontos de Ciudad del Este. A polícia também reforçou a segurança nas principais estradas do país.

Macchi chegou ao governo do Paraguai em 1999, quando presidia o Senado, depois da renúncia de Raúl Cubas Grau, então presidente. Em 23 de março daquele ano, um comando disfarçado com roupas militares assassinou o vice-presidente Argaña. Cubas e seu padrinho político, Oviedo, foram acusados de serem os mandantes do crime. Cubas renunciou em 28 de março, asilando-se no Brasil. Antes de chegar à Presidência, Macchi integrava o setor dissidente do Partido Colorado, que era liderado por Argaña. Os dois eram inimigos jurados de Cubas e de Oviedo. Em suas funções parlamentares, presidiu o julgamento político de Cubas Grau e determinou que o presidente voltasse a prender Oviedo, acusado de liderar uma tentativa de golpe em 1996 contra o então presidente Juan Carlos Wasmosy.

Até assumir a presidência do Senado, em julho de 1998, Macchi era conhecido sobretudo nos círculos políticos por ser filho de Saúl González, ex-ministro da Justiça da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). Mas Macchi era muito mais conhecido por ter integrado a seleção nacional de basquete nos anos 70.

Nascido em 13 de dezembro de 1947, estudou Direito e Ciências Sociais na Universidade Nacional. Logo depois, foi diretor do Serviço Nacional de Promoção Profissional, órgão ligado ao ministério dirigido por seu pai sob a ditadura Stroessner. Macchi formou o primeiro governo de coalizão entre liberais e social-democratas em meio século no país. Foi eleito pela primeira vez deputado em 1993, mas não emergiu das sombras políticas até converter-se em presidente do Senado e do Congresso. Ao ascender à presidência, aproveitou um vazio constitucional (a Constituição paraguaia não previa uma dupla vacância do poder) para decidir que permaneceria no cargo até o fim do que deveria ser o mandato de Cubas Grau, em 2003.

 
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