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 | 16/05/2006 15h56min

Violência das ruas de São Paulo se reflete no Orkut

Defensores e críticos da ação do PCC manifestam-se na internet

A ação dos criminosos da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) foi o tema dos últimos dias em centenas de comunidades no site de relacionamento Orkut, além de assunto em milhares de scraps (recados trocados entre os participantes do site) – desde familiares e amigos querendo notícias de quem mora em São Paulo a xingamentos e ameaças aos defensores ou da polícia, ou dos bandidos. A violência das ruas reflete-se em milhares de frases e declarações de ódio e de ameaças de morte (morte aos bandidos, morte aos políticos, morte à policia).

Nesta terça, com a situação já controlada, não paravam de aparecer usuários com o nome do PCC ou de Morte aos líderes do PCC e outras referências. Nos grupos que resolveram abraçar a causa da facção criminosa, sob o argumento que a polícia é corrupta e, por isso, os bandidos precisam “dar o troco”, a troca de recados foi intensa – tanto de amigos dando apoio quanto de ameaças de morte.

Na comunidade Estado de São Paulo, foi criado o tópico "Nordestinos: Não é preconceito é Justiça". Nele, os participantes dividiram-se sobre o papel exercido pelos cidadãos do Nordeste na criminalidade. Um internauta escreve: “Os nordestinos vieram pra cá e desvalorizaram nossa mão de obra... Eles vêm sem nada, sem moradia, e formam as favelas (assistiram central da periferia sábado onde passou o Heliópolis? A Regina Casé disse que 90% são nordestinos). Acabam se envolvendo com o crime e dá no que deu ontem...”.

Para contrabalançar, muitos criticam o preconceito. “Sou paulista aqui como todos vós. Tenho raízes baianas e portuguesas. No meu sangue corre traços índios, brancos e negros. E com tudo isso creio que um bom cidadão se mede pelos atos que comete, e não por sua origem. Gente burra existe de todo lugar e de toda raça”, comenta outro participante.

Milhares de usuários também se mobilizaram para pedir paz. A onda de violência em São Paulo foi assunto de praticamente todas as comunidades relacionadas ao Estado (como a Estado de São Paulo, Interior de São Paulo, São Paulo, o Melhor do Estado) e também as ligadas a movimentos pela paz (Basta, quero paz! e Sou da Paz, por exemplo). Nas mensagens, os internautas comentam os acontecimentos em suas cidades e pedem soluções para o problema – uma das mais citadas é a mobilização da sociedade civil para exigir do governo mais ações em educação e segurança.

Um dos usuários da comunidade Estado de São Paulo, identificado como Walter, descreveu o clima de medo em sua cidade, Jundiaí: “Aqui em Jundiaí o caos tomou conta depois da rebelião da cadeia local e de Campo Limpo Paulista, no domingo, com três mortos na cadeia de Jundiaí. Atearam fogo no caixa eletrônico da minha rua e metralharam a delegacia.”

Para boa parte dos internautas que comentaram sobre o assunto em comunidades, a maior culpa pela sensação de insegurança em São Paulo e também no país é da polícia corrupta e dos governos, federal e estadual, que, afirmam, não agem para punir os culpados. Os ataques do PCC também serviram para reacender a antiga rixa entre cariocas e paulistanos. Dezenas de comunidades dedicadas à eterna disputa entre as duas capitais foram palco de debates inflamados entre moradores das duas cidades. Enquanto cariocas debochavam, paulistas argumentavam que o caos na cidade ocorria pela primeira vez, o que no Rio já seria comum.

Na comunidade Eu Amo São Paulo, um paulista se defende: “Dizer que é a maior cidade, não só do Brasil, mas da América Latina. Que possui a 3ª melhor faculdade da América. Que, apesar de seus problemas, é uma terra de tolerância onde se recebem de braços abertos todas as etnias.E dizer que isso que aconteceu nesses dias aqui acontece todos os dias na porra do Rio de Janeiro, mas a midia não o divulga como deveria. É isso o que eu digo!”

SABRINA D'AQUINO
 
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