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 | 21/03/2006 16h22min

Colunista diz que candidatura de Garotinho não vai durar

Rosane de Oliveira participou hoje de entrevista online no clicRBS

A colunista de Política de Zero Hora Rosane de Oliveira afirmou que o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, teria aceitado a fórmula utilizada na consulta do PMDB sem saber os seus detalhes. Em entrevista online concedida hoje, Rosane disse ainda que o PMDB gaúcho foi ingênuo ou omisso em relação a isso.

– Quem estava envolvido com o processo tinha a obrigação de entender a fórmula – disse a colunista.

Em relação ao futuro do governador gaúcho, Rosane afirmou que os próximos 10 dias serão decisivos, uma vez que Rigotto tem até o fim do mês para renunciar. Sobre a candidatura de Garotinho, a colunista acredita que a sua candidatura não durarará até a eleição.

– Pouquíssimas pessoas acreditam que a candidatura de Garotinho seja capaz de sobreviver. Oficialmente, porém, o discurso é de que todo mundo vai apoiar Garotinho, mas quem conhece a história do PMDB não acredita nesse tipo de declaração oficial – afirmou Rosane

A entrevista online foi realizada por Cleber Corrêa. Todas as perguntas encaminhadas pelos internautas foram recebidas por Claudia Ioschpe, que selecionou algumas e as publicou.

Pergunta – O jornalista Lasier Martins afirmou ontem na Rádio Gaúcha que o fato de Rigotto negar veementemente a intenção de se reeleger significaria que o político admite um mau governo. Você concorda com essa afirmação?

Rosane de Oliveira – Discordo. Acho que qualquer governante tem o direito de considerar um mandato suficiente. E o governador sempre disse que considerava oito anos um tempo longo demais para prefeito, governador ou presidente da República. A dúvida é se ele vai resistir à pressão do PMDB, que quer vê-lo como candidato à reeleição.

Pergunta de internauta – Uma das polêmicas sobre a convenção do PMDB foi a fórmula que deu vitória ao Garotinho. Pergunto: o PMDB gaúcho agiu de forma amadora nesse caso?

Rosane de Oliveira – Ao que parece, o PMDB gaúcho foi ingênuo ou omisso -- duas coisas inaceitáveis em política. A fórmula era mesmo muito confusa, mas quem estava envolvido com o processo tinha obrigação de entendê-la. E o PMDB gaúcho não entendeu.

Pergunta de internauta – Rigotto pode pensar em uma vaga no Senado para substituir Simon?

Rosane de Oliveira – Essa hipótese só existiria se o senador Pedro Simon desistisse de disputar o Senado, mas Simon é candidato à reeleição e Rigotto jamais disputaria essa vaga com ele. Rigotto diz que vai trabalhar pela reeleição de Simon. De qualquer forma, para ser candidato a qualquer coisa que não seja à reeleição, ele precisa renunciar até o dia 31. Logo, os próximos 10 dias serão de muita reflexão.

Pergunta – Porque essa fórmula não foi questionada antes da consulta? Mesmo entre os dirigentes do partido os números geraram tanta confusão...

Rosane de Oliveira – O deputado Eliseu Padilha diz que tentou questionar a fórmula que previa pesos diferenciados para o voto nos Estados lá em fevereiro, mas acabou se atritando com o deputado Eduardo Cunha, do grupo de Garotinho, e os dois quase foram às vias de fato. Para evitar que terminassem se agredindo, Rigotto teria concordado com a fórmula de Eduardo Cunha sem conhecê-la nos detalhes. E os detalhes que decidiram a eleição em favor de Garotinho só teriam sido conhecidos agora, no dia 15 de março.


Pergunta – Quais as chances de uma eventual candidatura Garotinho repetir o fracasso retumbante das candidaturas de Ulysses Guimarães e Orestes Quércia em eleições passadas?

Rosane de Oliveira – Pouquíssimas pessoas acreditam que a candidatura de Garotinho seja capaz de sobreviver. A expectativa no PMDB é de que a candidatura própria cairá na convenção. E que, se não cair, Garotinho será abandonado como Quércia e Ulysses. Oficialmente, porém, o discurso é de que todo mundo vai apoiar Garotinho, mas quem conhece a história do PMDB não acredita nesse tipo de declaração oficial.

Pergunta de internauta – E a volta do Rigotto ao governo? Com greve de professores, insatisfação geral do funcionalismo... Será difícil botar a casa em ordem?

Rosane de Oliveira – O governador reassume num momento extremamente difícil. A greve dos professores está num impasse e, embora a adesão seja considerada baixa, é desgastante para o governo. O pior para o governador é que não há perspectiva de melhoria das finanças. A tendência é de agravamento. Isso também explica porque ele não se sente estimulado a concorrer a novo mandato. O próximo governador, seja de que partido for, terá dias muito duros pela frente.

Pergunta – E a candidatura de Rigotto teria mais chances do que a Garotinho dentro desse PMDB que todos conhecemos?

Rosane de Oliveira – Rigotto teria menos rejeição no PMDB do que Garotinho, mas não seria nada fácil vencer a convenção. Há dois grupos muito fortes jogando contra a candidatura própria: o que quer fazer aliança com Lula e o que deseja ficar livre para fazer as alianças mais convenientes nos Estados. Há ainda os que estão loucos para votar no tucano Geraldo Alckmin e, se ele vencer, participar do governo ocupando ministérios de peso.

Pergunta de internauta – Tenho a avaliação de que Rigotto tem muito a perder na disputa à reeleição. Quando seu governo for avaliado, terá feito muito pouco. Imaginem a possibilidade de alguém que quis ser presidente não se reeleger governador... Ele tem mais a perder que qualquer outro candidato.

Rosane de Oliveira – Ceio que a reeleição tem uma série de inconvenientes sim. O governo será submetido a um julgamento. E como a crise tende a se agravar, mesmo que Rigotto venha a ser reeleito, ele pode enterrar as possibilidades de fazer carreira nacional se fizer um segundo governo sem realizações.

Pergunta – Com a derrota de Rigotto, os seus seguidores apoiarão Garotinho ou virarão governistas, como Sarney ou Calheiros, por exemplo?

Rosane de Oliveira – Com a derrota de Rigotto, o PMDB vai se dividir. No caso dos gaúchos, uma parte apoiará Garotinho, mas outra passará para o lado de Alckmin. Em 1994, a maioria dos peemedebistas gaúchos preferiu Fernando Henrique a Orestes Quércia, que era o candidato do partido. E olha que o Quércia não tinha tirado nenhum gaúcho da disputa. A minha opinião é que a candidatura de Garotinho não sobreviverá até a eleição.

Pergunta de internauta – A RBS tem um histórico de adesismo a candidatos, como foi o caso do Rigotto, cujo governo sofreu menos criticas que o de Olívio. Por que a emissora se porta desta forma? São apenas os interesses empresariais que contam?

Rosane de Oliveira – Discordo da sua opinião quando diz que a RBS tem uma história de adesismo. A opinião da RBS é expressa nos editoriais, mas há dezenas de profissionais que expressam opinião. Alguns são mais contundentes do que outros. No que diz respeito à editoria de Política e à minha coluna, posso te garantir que procuro dar o mesmo tratamento que dei aos governos anteriores, embora haja uma diferença: a Página 10 está sob minha responsabilidade desde 2003. No governo passado eu tinha apenas um comentário diário.

Pergunta de internauta – A pressão partidária que irá se impor sobre Rigotto fará com que ele seja candidato? Ou o PMDB tem nomes que podem ser competitivos no cenário estadual?

Rosane de Oliveira – A pressão sobre Rigotto será enorme, mas ainda não tenho condições de garantir se ele resistirá ou não. Hoje, a disposição dele é de não concorrer, mas você sabe como é política: amanhã tudo pode mudar. Ele é o nome mais competitivo do PMDB. Outro terá de disputar a indicação e isso é sempre delicado. Sem Rigotto, o PMDB tem três opções (em ordem alfabética): Antonio Hohlfeldt, Cezar Schirmer e Eliseu Padilha.

Pergunta de internauta – Sua Página 10 é bem plural. Entretanto, encontro várias páginas de direita e algumas imparciais, como a sua. Mas por que não encontro colunas escritas por pessoas com histórico de esquerda na RBS?

Rosane de Oliveira – Obrigada pelo reconhecimento de que a Página 10 é plural, mas preciso esclarecer que alguns leitores me acusam de ser de esquerda, outros de ser de direita... Não gosto desses rótulos. Acho que é importante que o jornal seja plural. Particularmente, quero que a Página 10 seja, acima de tudo, independente -- sem a pretensão de agradar a todo mundo.

Pergunta – Há alguma possibilidade de o PMDB indicar um candidato a vice na chapa de Lula? Que nome o partido indicaria?

Rosane de Oliveira – Possibilidade de o PMDB indicar o vice de Lula há, mas a maior possibilidade é o de partido ficar sem candidato para não ficar engessado nas coligações nos Estados. O vice de que o presidente Lula gostaria é o ministro Nelson Jobim, mas dividido do jeito que está, não vejo muitas possibilidades de essa hipótese se concretizar. Claro que, se lá por junho Lula estiver muito bem nas pesquisas, a coisa pode mudar. Como a verticalização deve ser mantida, não é conveniente para o PMDB fazer uma aliança com Lula, já que a convivência deles com o PT é muito difícil em alguns Estados, particularmente no Rio Grande do Sul.

 
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