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 | 12/05/2005 16h55min

Filme iraquiano é o primeiro do país a competir em Cannes

Película é ambientada em 1988 e retrata o regime de Saddam Hussein

O diretor curdo iraquiano Hiner Saleem precisava de uma estátua de Saddam Hussein para aparecer em seu filme Kilometer Zero, de 2005. Ele não encontrou nenhum curdo disposto a fazer uma estátua, então, finalmente, convenceu um escultor árabe a viajar para o norte do país, de maioria curda. O problema foi que, quando as autoridades curdas descobriram a efígie do líder destituído, o artista foi preso.

Dores de cabeça logísticas como essas cercaram o primeiro filme iraquiano exibido na competição oficial do Festival de Cinema de Cannes, refletindo um dos temas principais de Kilometer Zero: as tensões entre árabes e curdos no Iraque.

Ambientado em 1988, perto do final da guerra entre Irã e Iraque, Kilometer, segundo disse seu diretor nesta quinta, dia 12, não é um filme político. Mas imagens de Saddam, o retrato de um regime que promoveu a repressão brutal dos curdos, e as divisões étnicas do Iraque contemporâneo, tudo isso o deixa muito atual.

– O título Kilometer Zero é uma referência ao fato de que continuamos no mesmo lugar – disse Saleem. – O Iraque foi criado há 80 anos, e desde então o país não deu um único passo para a frente.

A história acompanha a trajetória do jovem Ako, que é detido por forças iraquianas em seu povoado curdo e levado ao sul do país, onde é forçado a combatera as forças do Irã. No front, ele tenta se ferir levemente para poder voltar para casa. Ele recebe ordens de levar o corpo de um soldado de volta a sua família, no norte do país.

Através da relação de Ako com um motorista árabe, Saleem explora os ódios e desconhecimentos mútuos que dividem os dois maiores grupos étnicos do Iraque, divisões essas que foram alimentadas por Saddam Hussein durante seu governo.

– Quando Saddam Hussein caiu, eu chorei de alegria ao testemunhar a felicidade das pessoas, – disse Saleem, que deixou o Iraque aos 17 anos, mas voltou para fazer o filme.

O filme de modo geral árido, com sua história de sobrevivência e morte num inferno totalitário aquecido por um sol abrasador, termina em clima positivo, quando Ako e sua mulher, que fugiram para Paris, comemoram a notícia da queda de Saddam, em 2003. Mas mesmo esse final tem um outro lado da moeda. As cenas finais do filme contêm os dizeres:

– Nosso passado é triste, nosso presente é trágico, mas, felizmente, não temos futuro.

– A última fala do filme é uma coisa que meu avô disse – falou Saleem, conversando com jornalistas. – E acho que ainda é muito válido.

Ele disse que será difícil construir um Iraque em que árabes e curdos, sunitas e xiitas, consigam conviver em paz, especialmente porque não é do interesse de todos os países que isso aconteça.

– Sem isso, simplesmente teremos que esperar outro Saddam Hussein – opinou.

Apesar da ambientação sombria do filme, Saleem emprega humor negro, como quando Ako por engano passa com o táxi que leva o féretro do soldado perto demais de outro povoado. Quando uma mulher aflita vê o caixão, ela se recusa a acreditar que o morto não seja seu marido.

– É esse senso de humor que nos vem ajudando a sobreviver – disse Saleem.

Kilometer Zero é o segundo filme feito no norte do Iraque desde o final da guerra, em 2003. Turtles Can Fly foi dirigido pelo iraniano Bahman Ghobadi.

As informações são da agência Reuters.


 
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