A Espanha marcou solenemente nesta sexta, dia 11, o primeiro aniversário do atentado contra os trens de Madri. Houve toque de sinos e momentos de silêncio em homenagem aos 191 mortos no ataque de 11 de março de 2004, o pior já cometido pela Al-Qaeda na Europa.

Cerca de 650 igrejas em toda a região metropolitana de Madri tocaram seus sinos durante cinco minutos a partir das 7h37min (3h37min em Brasília), a hora em que as 10 bombas deixadas dentro de sacolas começaram a explodir nas quatro composições lotadas que traziam trabalhadores dos subúrbios.

Ao amanhecer, na estação de Atocha, onde houve duas explosões, o prefeito Alberto Ruiz-Gallardón se somou à chorosa multidão que fazia sua silenciosa homenagem. Algumas pessoas deixaram flores e velas, e uma mulher desmaiou e teve de ser levada para receber atendimento médico.

O Real Madrid interrompeu seu treino nesta manhã para prestar cinco minutos de silêncio. O técnico Vanderlei Luxemburgo terminou o treino para prestar a homenagem. Em 2004, os jogadores foram recebendo as notícias sobre os atentados durante o mesmo treino, e decidiram ficar em silêncio, assim como fizeram nesta sexta.

Míchel Salgado, David Beckham e Jonathan Woodgate, que não participaram da atividade, também entraram no gramado para somar-se à homenagem. Somaram-se ao ato as cerca de cem pessoas que presenciavam o treino, assim como todos os jornalistas e funcionários do CT que estavam no local.

Esperanza Aguirre, governadora da região de Madri, comandou uma cerimônia solene em que deixou uma coroa de flores na Puerta del Sol, a principal praça da cidade. As bandeiras foram hasteadas a meio mastro.

Sonia Delgado, 31 anos, que estava na estação de Atocha há um ano, disse que o clima estava mais calmo do que o habitual.

– Acho que as pessoas se uniram naquele dia porque percebemos que poderia acontecer com qualquer um – disse ela, com lágrimas nos olhos.

– Passamos um tempo muito difícil. Pessoalmente, não fui afetada, mas me coloco no lugar dos que foram. Quem poderia imaginar? [As vítimas] estavam indo para casa, ou para o trabalho, e encontraram a morte – disse Guillermina Estevez, 59 anos, que vive em frente à estação.

A segurança foi reforçada neste 11 de março, com milhares de policiais nas ruas da capital e um avião de vigilância da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) patrulhando o espaço aéreo espanhol. Para evitar o agravamento dos traumas, os parentes das vítimas pediram uma cerimônia discreta.

No dia do atentado, o governo conservador espanhol da época atribuiu o ataque ao grupo separatista basco ETA. Horas depois, apareceram as primeiras suspeitas de que as explosões haviam sido provocadas pela Al-Qaeda.

Segundo analistas, a suspeita de que o governo tentou manipular a informação foi relevante na sua derrota para os socialistas nas eleições gerais ocorridas três dias depois. Militantes islâmicos acabaram reivindicando a autoria do ataque, em retaliação pelo envio de tropas espanholas ao Iraque e ao Afeganistão.

Madri volta a parar durante cinco minutos ao meio-dia (8h em Brasília) de sexta-feira, quando o rei do Marrocos, Mohammed VI, se une ao monarca espanhol, Juan Carlos, e a outros líderes mundiais para depositar flores no "Bosque dos Ausentes", onde uma árvore foi plantada para cada morto.

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e outros chefes de Estado e governo, além de centenas de especialistas em segurança, também estão em Madri, onde desde quinta participam de uma conferência sobre terrorismo.

Mais de 2 mil pessoas ficaram feridas no atentado, e muitas outras ainda sofrem os traumas psicológicos. O inspetor ferroviário Francisco Javier Zamarra disse que um colega que testemunhou as explosões ainda está abalado.

– Ele não quer estar aqui – afirmou ele nesta semana. – Vou tentar superar isso, mas foram 365 dias duros. Este dia em particular [sexta-feira] será bem duro.

Até agora, a Justiça espanhola já prendeu 75 pessoas, a maioria do Marrocos, por suspeita de ligação com o ataque. Destes, 25 continuam detidos, 17 estão sob supervisão judicial e 33 foram libertados.

As informações são da agência Reuters

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