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 | 27/01/2005 14h25min

Ativista diz que atuação do Brasil no Haiti é importante

O padre haitiano Pierre Roy defende os direitos humanos

O padre Pierre Toussaint Roy é haitiano, mas deixou seu país em 1986 para lutar pelos direitos humanos na América Latina. Atualmente ele vive no Rio de Janeiro e atua como coordenador geral da Plataforma Interamericana de Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento, além de ser Membro do Conselho Nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos.

Pierre Roy está em Porto Alegre para participar das discussões do 5º Fórum Social Mundial, e nesta quinta, dia 27, concedeu entrevista ao clicRBS. Roy elogiou a atuação do Brasil à frente da missão da Organização das Nações Unidas no Haiti, e defendeu a criação de leis internacionais que garantam a aplicação de uma plataforma mundial de direitos humanos com fiscalização da sociedade civil. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Pierre Roy: Queridos amigos (as), sou Pierre Roy, do Haiti, e vivo há 11 anos no Brasil na luta pelos direitos humanos de todos (as) em todo o continente americano. Saí do Haiti em 1986 porque sou missionário da Congregação do Imaculado Coração de Maria (CICM) para trabalhar no Brasil e nos países da América. Trabalhei também na República Dominicana, México e Estados Unidos.

Pergunta: Como o senhor vê a atual situação do Haiti?
Pierre Roy:
A situação do Haiti é uma tragédia social, lenta, invisível, que, mesmo explicando, muitas pessoas não entendem de imediato e que é conseqüência de uma situação estrutural de corrupção, de exploração internacional, de incompetência administrativa e política dos governantes haitianos e do jogo macabro dos interesses nacionais e internacionais políticos, estratégicos e econômicos.

Pergunta: A tragédia provocada pelas tsunamis na Ásia atraiu a atenção do mundo todo e muitas promessas de doação. Por que as milhares de vítimas diárias da fome, miséria, doenças, não recebem tanta atenção?
Pierre Roy:
Os cidadãos simples do mundo inteiro têm um coração cheio de solidariedade que funciona na base da emoção, e muitas pessoas se emocionam quando essas coisas acontecem de repente, e mais ainda no caso dos tsunamis, que teve uma magnitude tão grande. Com a tecnologia da comunicação e informática a tragédia invadiu as telas e a mídia de forma imediata, indo direto no coração, na consciência de todo ser humano sensível e normal. Já a situação do Haiti e outros países com problemas estruturais e sociais necessita muito mais do que isso para atrair a atenção ou para mobilizar a comunidade internacional para buscar soluções.

Pergunta: O que precisa ser feito para que o Haiti se torne um país estável? O trabalho da ONU coordenado pelo Brasil é positivo?
Pierre Roy:
A situação atual do Haiti é resultado de todo um processo histórico nacional e internacional. Os problemas atuais foram mais centrados na busca de soluções para conter a insegurança pública pelo desarmamento e para resolver o problema político pela realização de eleições, visão totalmente dos EUA. O Brasil assumiu a realidade dentro desse contexto, mas, no contato com a realidade, começou a mudar sua visão para priorizar a reconstrução econômica. Nesse sentido, o governo brasileiro está certo. Apóio essa visão, que é diferente e mais acertada do que a visão dos EUA, e participei de uma das missões do governo brasileiro para ajudar a chegar a essa visão. O governo brasileiro está buscando o apoio dos governos latino-americanos para tal. Agora, a execução de tudo isso e seus resultados estão muito longe de ser algo facilmente realizáveis, porque não existe um plano concreto, realista, a ser administrado entre o governo haitiano e o governo brasileiro em conjunto com a ONU, a comunidade internacional e as organizações da sociedade civil haitiana, brasileira, latino-americana, que também precisam participar desse processo.

Pergunta: Como evitar que o dinheiro de doações seja desviado por corruptos e não chegue a quem precisa?
Pierre Roy:
Este é um problema sério, que revela a necessidade da participação da sociedade civil no controle social do q poderia ser um acordo entre o governo haitiano e brasileiro, com a participação de outros países para supervisionar a aplicação dos recursos. Independentemente de tudo isso, os recursos ainda não estão aparecendo.

Pergunta: Como as idéias discutidas no Fórum Social Mundial podem ser aplicadas?
Pierre Roy:
O FSM 2005 está iniciando o passo da teoria à prática de busca de alternativas para a transformação social e política de todos os países. Nesse sentido, muitas propostas e projetos alternativos de economia solidária, desenvolvimento sustentável e integrado, responsabilidade social e legal das empresas nacionais e transnacionais, cooperação internacional – que é um direito humano – podem ser aplicadas.

Pergunta: E que importância o senhor atribui ao Fórum para a reversão da situação dos países pobres?
Pierre Roy:
O FSM pode ajudar muito a encontrar alternativas para o presente e o futuro dos países pobres na construção de articulação sul-sul e norte-sul entre os países. E, se se chegar a entender a importância dos direitos humanos, especialmente dos direitos econômicos, sociais e culturais como critério e motor de toda a construção de uma nova sociedade sem exclusão social, igual à Plataforma Interamericana de Direitos Humanos (PIDHDD) está propondo, teremos muitas propostas que podem melhorar a vida cotidiana das pessoas no mundo inteiro. A PIDHDD propõe usar as leis nacionais e internacionais para garantir os direitos humanos para todos (as) usando a solidariedade, a justiça social, a distribuição de renda, riqueza e poder como critérios e metas para um desenvolvimento social e humano possível.

 
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