As fotos de soldados norte-americanos torturando prisioneiros iraquianos fizeram surgir nesta sexta, dia 30, críticas da comunidade internacional e reforçaram a impressão de que a campanha dos Estados Unidos para conquistar a simpatia dos iraquianos é uma causa perdida.

O programa 60 Minutes II, do canal de TV norte-americano CBS, mostrou na quarta-feira fotos tiradas na prisão Abu Ghraib, no Iraque, no ano passado, em que soldados norte-americanos aparecem torturando detentos iraquianos.

– Essa é a gota d'água para os EUA. Os libertadores são piores que os ditadores. Eles não apenas deixaram de conquistar as mentes e os corações dos iraquianos mas de todos os países do Terceiro Mundo e os países árabes – disse Abdel Bari Atwan, editor do jornal árabe Al Quds Al Arabi.

O local era um conhecido centro de torturas e execuções do governo de Saddam Hussein. Nas fotos, os militares dos EUA aparecem sorrindo e fazendo sinal de positivo enquanto prisioneiros iraquianos nus eram obrigados a simular uma relação sexual entre eles. A Grã-Bretanha é o principal aliado dos EUA no Iraque, mas as fotos fizeram o apoio do primeiro-ministro Tony Blair cair e foram amplamente condenadas na quinta-feira.

– Ninguém subestima quão errado isso é. Ações desse tipo não são de forma alguma perdoadas pela coalizão – disse o porta-voz de Blair.

As conseqüências não poderiam ter sido piores no mundo árabe onde a humilhação sexual foi o que mais chocou.

– Essa é realmente a pior das atrocidades. Isso afeta a honra e o orgulho do povo muçulmano. É melhor matá-los que abusar sexualmente deles – afirmou Atwan.

– A maior perda com que se deparam os norte-americanos é a perda de sua reputação, não apenas no Oriente Médio, mas em todo o mundo – escreveu o jornal Arab News, publicado em inglês.

Em Genebra, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha mostrou-se preocupado com o caso.

– A tortura de uma pessoa presa é proibida sob quaisquer circunstâncias. A humilhação e o tratamento degradante são uma forma de tortura – afirmou a porta-voz da organização, Antonella Notari.

O grupo Anistia Internacional, que pede por uma investigação independente do caso, disse que há "uma crise real de liderança no Iraque crise real de liderança no Iraque com duplos padrões e duplas manifestações sobre os direitos humanos".

– Nossa extensa investigação no Iraque sugere que não é um incidente isolado. Os presos relataram que foram rotineiramente submetidos a um tratamento cruel, inumano e degradante durante a prisão e a detenção – disse a Anistia.

O presidente norte-americano, George W. Bush, também ficou chocado com as fotos.

– O tratamento dado a eles não reflete a natureza do povo americano. Essa não é a maneira como fazemos as coisas na América – afirmou Bush nos jardins da Casa Branca depois de um encontro com o premiê canadense, Paul Martin.

O presidente disse também que haverá uma investigação sobre os atos das tropas norte-americanas.

As informações são da agência Reuters.