| 29/09/2008 04h42min
O ex-presidente Fernando Carvalho não caminhava no intervalo do Gre-Nal, ao descer as escadas das cabines de imprensa em direção ao vestiário. Ele flanava. Mais um pouco e voaria por sobre os degraus até pousar no primeiro pavimento do Beira-Rio, nas proximidades do elevador.
O homem que empenhou a palavra ao jurar que o setembro colorado seria diferente tinha o pensamento em Buenos Aires, nas reuniões intermináveis no Hotel Sheraton. Como foi difícil contratar aquele argentino de 27 anos com cara de guri que agora destroçava o líder do campeonato sem piedade em 45 minutos.
— Ele está acabando com o jogo, né? — suspirava Carvalho.
— Tem um gosto especial ver um jogador tão complicado de trazer arrasando em um Gre-Nal?
Segundos de silêncio do ex-presidente, ainda com aquele sorriso de torpor instalado no semblante. Então, como se voltasse à realidade após breve viagem pelo nirvana, Carvalho
suspende o sorriso, coloca as mãos no ombro do repórter e
diz:
— Desculpa, desculpa, tenho que descer (para o vestiário). Depois, depois, tem 45 minutos pela frente ainda e.... — e se foi o agora assessor da presidência, sem nem completar a frase, falando sozinho.
Em vídeo, os lances do argentino D'Alessandro
Fazia sentido o sentimento de Carvalho, ainda que restasse metade do Gre-Nal para ser jogado. A mais ousada contratação feita por um clube brasileiro na temporada — US$ 5,5 milhões (R$ 10,2 milhões) — acabara de começar a se pagar. A atuação de D’Alessandro no Gre-Nal de ontem justificaria até os exageros dos argentinos quando o meia canhoto surgiu no River Plate. Chamavam-no de novo Maradona. Verdade que os argentinos chamam todo camisa
10 de pé esquerdo e habilidoso de sucessor de Maradona, mas a eficiência
de D’Alessandro no Gre-Nal vale a lembrança. O argentino participou dos quatro gols na goleada de 4 a 1 (leia quadro abaixo). Todos no primeiro tempo fenomenal que tanto impressionou Carvalho.
— Como é o Gre-Nal? É como Boca e River? — foi a primeira pergunta ao final do jogo.
— Igual, mas a gente daqui... a torcida do Inter.. acho que é mais... tá louco, tá louco! — disse o dono do clássico, o rosto quase escondido atrás dos microfones.
Em áudio e fotos, os principais momentos da vitória colorada
Meia entrou para a história do clássico ao comandar o 4 a 1
No segundo tempo ele
se limitou a fazer o que era preciso para um time que abre vantagem espaçosa no placar. Girou sobre os
zagueiros, chamou a falta que pára o jogo, passou o pé sobre a bola, valorizou a troca de passes, cavou laterais e escanteios, fez o adversário correr. Saiu aos 34 minutos do segundo tempo. Foi um presente do técnico Tite. Enquanto caminhava até o encontro de Taison, o substituto que o esperava saltitante à beira do campo, ouviu todo o tipo de reverência da torcida.
A estréia foi no dia 13 de agosto, no primeiro Gre-Nal da Copa Sul-Americana, empate em 1 a 1. Até ontem, nove jogos. D’Alessandro pode até chegar aos 100 jogos, mas será sempre lembrado pelo Gre-Nal no qual regeu o Inter na goleada história de 4 a 1, alijando o maior rival da liderança do Brasileirão, no mês de setembro de 2008.
> El Cabezón três, quase quatro, vezes |
1 a 0, aos 4 minutos – Após avançar a drible pela esquerda, o argentino sofre falta. Gustavo Nery ergue a bola para a área. D’Alessandro apanha um rebote de dificílima execução. A bola quica antes, na entrada da área, mas o argentino acerta um chute poderoso, à meia-altura. Nem o goleiro Victor, em ótima fase, poderia defender. Golaço. |
2 a 1, aos 28 minutos – Alguém poderá dizer que, do segundo gol, D’Alessandro não participou. Engano. Pico colocou o braço na bola ao tentar matar no peito perto da área, Guiñazu cobrou rapidamente e Alex chutou rasteiro entre as pernas de Vitor. Sim, mas e D’Alessandro, onde estava? Pertinho dali, erguendo os braços do jeito mais espalhafatoso possível, olhando primeiro para o bandeirinha, depois para o árbitro. Praticamente apitou a falta. El Cabezón, como é chamado na Argentina, lembrou os tempos de Buenos Aires. |
3 a 1, aos 40 minutos – Computado na conta de Índio, de cabeça, o terceiro gol foi 50% do argentino. Ele cobrou escanteio da direita, de pé trocado (ou certo, no caso de um canhoto). Cobrança, não: folha seca. No ar, a bola caiu feito os índices da Bovespa este ano, traindo os cálculos de Victor. Só por isso Índio teve como se antecipar aos zagueiros e marcar o terceiro. |
4 a 1, aos 46 minutos – No quarto gol, é de se reparar a curva na cobrança de falta da intermediária, que de tão acentuada enganou a linha de impedimento do Grêmio por completo. Nilmar cabeceou sem marcação de nenhuma espécie, em condição legal. |
O que ele disse |
Sobre o Gre-Nal |
“Quando cheguei aqui, me diziam que era importante para alguém de fora marcar gol em Gre-Nal. As pessoas só me falavam do Gre-Nal. Era Gre-Nal, Gre-Nal, Gre-Nal. Hoje (ontem) entendi isso. As pessoas ficam loucas! O campeonato é mais importante que o Gre-Nal, claro que é, mas clássico é loucura mesmo. É igual a Boca e River: tem que ganhar, não importa como”. |
Sobre a sua evolução |
“Pessoalmente, foi importante este clássico. Vai me ajudar a crescer como jogador. No San Lorenzo, eu atuava de forma diferente. Lá, era mais armador. Em seis meses marquei só dois gols. No Inter, estou mais perto do Nilmar e do Alex. Mais perto do gol, portanto. Por isso fiz dois gols em nove jogos. É uma liberdade tática que o treinador me dá”. |
Sobre a briga por vaga na Libertadores |
“Quando fui contratado eram muitos novos jogadores no grupo. É preciso conhecer o colega do lado para o futebol aparecer. O importante do que aconteceu neste clássico é que estamos nos entrosando. Estamos tocando a bola com confiança e tranqüilidade. Isso é entrosamento, que só vem com o tempo. Assim é o futebol” |
Sobre quem foi melhor que ele no clássico |
“Acho que.... não lembro (risos)” |
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