| 28/06/2008 23h26min
São muitos os personagens que constituem um dos maiores espetáculos esportivos do Brasil. Jogadores, torcedores, dirigentes e árbitros são, via de regra, os mais lembrados. Contudo, a lista vai além. Silenciosos e anônimos, estão aqueles que não têm a pretensão de ser as estrelas do clássico, mas que são essenciais para que elas brilhem. As dezenas, centenas de pessoas que tocam o dia-a-dia nos estádios Olímpico e Beira-Rio são o Gre-Nal em seu estado bruto. Elas respiram o tradicional confronto entre azuis e vermelhos de forma integral e ininterrupta. Zero Hora lapidou quatro histórias que ilustram o cotidiano e a importância dessas personalidades discretas — bem como suas visões peculiares sobre esse duelo — , que se impuseram aos longos dos anos como fundamentais para a grande festa.
Seu Vargas também é
técnico
Vindo da Bossoroca, onde nasceu ao 23º dia do dezembro de 1947, Silvio Vargas de Oliveira, o seu Vargas, entrou pela primeira vez no Estádio Olímpico aos 24 anos de idade, levado pela oportunidade de trabalhar como vigilante. Hoje é técnico de manutenção. Na prática, ele é o responsável pelo bom andamento da complexa estrutura que cerca o estádio e seu cotidiano. Apesar dos quase 38 anos de Grêmio, revela nunca ter assistido a um jogo inteiro sequer devido ao trabalho incessante.
— É banheiro que entope, é portão que dá problema, é chave de luz que cai. Por mais que se cuide, sempre surgem os imprevistos. Ainda bem que agora, pelo menos, o campo é marcado com tinta. Antes, quando era marcado com cal, eu ainda tinha que remarcar as linhas no intervalo quando chovia — relembra.
Mesmo sem tempo para acompanhar as partidas, seu Vargas sabe, como poucos, a dimensão de um
clássico como o deste domingo. Todo o ambiente
antes e após o confronto se altera. Até mesmo uma motivação extra é facilmente notada na equipe de 48 pessoas que trabalha com ele. A atenção nos detalhes — que vão desde o corte da grama até a pintura de paredes, passando pelas instalações elétricas e hidráulicas — é redobrada. Ainda mais quando, além de funcionário, se é torcedor do clube.
— Nasci gremista e vim para o lugar certo. Sempre esperamos que nada de ruim aconteça. Mas, se for para acontecer, que não seja em um Gre-Nal, senão a coisa fica feia.
Para um futuro próximo, seu Vargas tem uma projeção simples, porém tocante: quer se aposentar tão logo o novo estádio esteja pronto e assistir, das cadeiras da Arena, ao primeiro Gre-Nal de sua vida — como torcedor.
Seu Pernambuco é o dono do vestiário
Quem alerta é o próprio: se chegar ao Beira-Rio
e pedir para falar com o Lorival Gomes Soares, ninguém vai saber quem é.
Agora, se perguntar pelo Pernambuco, não existirá funcionário ou dirigente do Inter que não saberá de quem se trata. Foi desta forma, humilde e sincera, que seu Pernambuco conquistou os corações colorados e fez do clube uma extensão de seu lar. Após deixar os pais, 11 irmãos e as agruras de Caruaru, no sertão nordestino, com 19 anos de idade, ele percorreu duas dezenas de Estados brasileiros na década de 1950, como um precursor dos mochileiros de hoje. Quinze anos depois de pegar a estrada, descobriu, em Porto Alegre, o mundo do futebol. E lá se vão quatro décadas trabalhando no vestiário do Inter e dezenas de Gre-Nais na conta. Todos eles, no entanto, realizados no Beira-Rio.
— Nunca pisei no Olímpico na minha vida. Acho que não fica bem e ia ficar todo mundo falando que o Pernambuco estava lá. Melhor ficar quietinho no meu canto — explica.
Da experiência com o futebol e, sobretudo, com os clássicos gaúchos, tirou alguns ensinamentos. Um deles é respeitar as
individualidades, que muitas
vezes afloram em um ambiente tão coletivo. Outro é respeitar a tensão que toma conta do estádio na semana que antecede a um confronto tão especial como o Gre-Nal, deixando "o clima mais silencioso".
Do alto de seus 75 anos e menos de 1m60cm, ele aponta as amizades como a principal riqueza gerada pela profissão. Amizades estas que vestem tanto o vermelho quanto o azul.
— O mundo foi meu professor e me ensinou que a vida é curta demais para a gente ter inimigos. Então eu respeito a todos, aqui ou lá (no Grêmio) — garante, enfatizando em seguida — Mas não vou nesse Gre-Nal também, viu?
Seu Osmair está em plena forma
A cara de poucos amigos contrasta com a alegria que Osmair Pereira da Silva exibe ao falar do seu trabalho e do seu clube. Segurança do Inter desde 1975, o ex-policial civil e subdiretor
do Presídio Central tem no currículo os maus bocados enfrentados pelo assédio
de torcedores a ídolos do quilate de Figueroa, Caçapava, Falcão, Valdomiro e Fernandão, entre outros. E também as incontáveis tardes e noites de protestos no folclórico Portão 8.
Mas tem, também, histórias de grandes amizades e bons momentos. Muitos deles em Gre-Nais. Numa rápida conta, passam das seis dezenas aqueles em que trabalhou. Já conseguiu assistir a vários, embora os olhos estivessem no campo e a cabeça concentrada nas reações das arquibancadas.
Quando a concentração para os jogos ocorria no Beira-Rio — atualmente é em hotel —, seu Osmair virava a noite acordado.
— Tinha que cuidar para não ter barulho, para ninguém fugir e cair na noite. Já teve jogador que tentou dar uma escapada na madrugada, mas parou nos meus braços — revela, deixando escapar um leve sorriso irônico.
Hoje os tempos são outros, mas a devoção ao Inter segue intacta. Neste domingo, seu Osmair pretende encontrar um ambiente ordeiro no deslocamento da
delegação até o Olímpico. Porém garante estar,
aos 67 anos, "em plena forma para qualquer problema".
— O Gre-Nal sempre mexe com tudo. É preciso ficar mais atento, para que tudo saia dentro do programado — ensina.
Seu Virlei é o homem da segurança
A ligação com o futebol veio cedo. Chegou a jogar com o lateral tetracampeão do mundo Branco — nos juvenis em Bagé. Mas a carreira de ponteiro-direito de Virlei Reis Gonçalves foi abreviada, aos 17 anos, para prestar serviço militar. Não voltou mais aos gramados. Porém, descobriria mais tarde, que fazer parte do universo do futebol estava em seu destino. E vivenciar, do lado de dentro, os gloriosos momentos da história do Grêmio também.
Foi na função de segurança que ele conseguiu o emprego no Estádio Olímpico, em 1980. Quatro anos depois, assumiu o cargo de chefe de
segurança, no qual, afirma com um ar de emoção, "pretende ficar até quando não der mais para
agüentar o rojão". Aos 49 anos, relata com orgulho os títulos brasileiros, da Libertadores e do Mundial, entre outros, que festejou no bairro Azenha. E, claro, não esquece dos Gre-Nais. Mais de 50 deles.
— Nunca houve um jogo contra o Inter que fosse tranqüilo e nunca vai haver — afirma.
A exemplo de outros funcionários, nunca assistiu a um clássico no Olímpico. Quando o Gre-Nal é em casa, costuma ser um dos primeiros a chegar e um dos últimos a ir embora. Cabe a Virlei inclusive abrir os portões de acesso ao Olímpico. Já se viu em muitas situações difíceis tendo que apartar gremistas e colorados que transformaram os arredores do estádio em praça de guerra:
— Gre-Nal bom é aquele em que as pessoas nem percebem o pessoal da segurança. Tomara que, neste domingo, ninguém nos veja.
Torcedores ao redor do planeta contam como vão acompanhar o clássico 370
Serviço do clássico e as escalações de Grêmio e Inter:
A rivalidade e a história dos Gre-Nais:
Escale seu time e envie para
amigos:
As defesas da dupla Gre-Nal:
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