| 19/06/2008 22h45min
Não que uma das competições mais importantes do vôlei feminino mundial esteja sob o desmerecimento das jogadoras brasileiras. No entanto, não é no título do Grand Prix que elas estão focadas. As meninas do Brasil lutam por uma conquista maior: o ouro olímpico em Pequim. A estréia do Brasil no GP será diante da Tailândia, na cidade chinesa de Ningbo, às 4h da manhã (horário de Brasília).
— Lógico que vamos fazer de tudo para ganhar, pois brasileiro não entra em quadra para perder. Mas estamos com a cabeça nas Olimpíadas. Uma derrota no Grand Prix não vai mudar nossa vida, pois a meta do time é Pequim — disse a atacante Mari.
GP é "pepino" para Zé Roberto
No início do ano, José Roberto Guimarães não só deixava o GP em segundo plano, como considerava a competição uma pedra no sapato.
— O Grand Prix é um pepino que eu tenho que resolver. Nem sei como vamos jogar esta competição, da qual eu não gostaria de participar — comentou o treinador, durante o desembarque da seleção brasileira em Cumbica no final do ano passado, depois do segundo lugar na disputa da Copa do Mundo.
Se a classificação para o GP não foi bem quista pelo técnico, o que dirá a Rússia, que sequer se esforçou no classificatório e conseguiu ficar de fora da disputa sendo uma das principais seleções do cenário mundial.
Contudo, às vésperas de estrear no Grand Prix, o treinador mudou o discurso, e vê a competição como um bom preparatório para a seleção. Um treino de luxo, em outras palavras, que pode levar a confiança necessária às meninas que vão lutar pela medalha de ouro na Olimpíada.
— É importante estarmos na final do Grand Prix porque essa é a nossa preparação para as Olimpíadas — comentou o treinador, já em Ningbo.
As atletas parecem estar conscientizadas do objetivo da competição.
— Estamos um pouco ansiosas para as Olimpíadas, mas a gente tem o Grand Prix antes. Queremos aproveitar bastante — explicou a oposto Sheilla, titular absoluta da equipe nacional.
Sem pressão por resultado
Outro ponto em favor, é jogar sem pressão. De acordo com a levantadora Fofão o resultado no GP não vai importar.
— O Zé disse para a gente que o resultado não vai importar, porque continuaremos com o mesmo tipo de treino físico — afirmou a jogadora, antes de ir para os Estados Unidos, onde machucou o joelho e descobriu que ficará afastada do time até a terceira semana do GP.
E para quem pensa que alívio na pressão por resultado significa vida fácil para as meninas, basta saber o ritmo de preparação física delas para entender o que é "pegar pesado".
— Imagina levantar todos os dias 70 kg de supino: quando você vai pegar na bola, o braço está pesado, está travado mesmo. Normalmente, quando a gente vai jogar, temos que parar de malhar um dia antes ou malhar um pouco mais leve. Essa vai ser a diferença: talvez vocês vejam uma seleção um pouco mais lenta. Pode acontecer de alguém errar um movimento porque o braço estava meio travado. Não tem com escapar — admitiu Mari.
Tática do esconde-esconde
A capitã Fofão ainda entregou que uma das táticas do Brasil no GP é justamente não mostrar suas táticas. O esconde-esconde serve para não entregar as armas da seleção às adversárias de Pequim.
— É uma das nossas preocupações não demonstrar tudo o que podemos fazer, qualquer mudança tática, por exemplo. Temos que jogar o mais simples possível pra que possamos surpreender na Olimpíada. Vamos tentar treinar de um jeito e jogar de outro, porque sabemos que todo mundo vai estar de olho no Grand Prix — afirmou.
Outra arma do Brasil é um trabalho desenvolvido ao longo dos últimos meses pelo “espião” Zé Roberto.
— Como ele não trabalhou de técnico nesta temporada (Zé foi diretor técnico do Pesaro, campeão italiano), ele esteve na Espanha, na Itália, onde tinha uma brasileira jogando, ele ia assistir ao campeonato. Foram feitas filmagens e pegamos todas as informações que podemos usar contra. Temos que aproveitar tudo — comentou Fofão, que não acredita em uma grande modificação nas principais rivais da seleção verde-amarela.
— Acho que o Brasil é o único time que tem mais variações. Nos outros times, pouca coisa pode mudar — emendou.
Concorrência saudável na equipe
O GP também vai ser importante para que Zé Roberto faça as observações necessárias para definir as duas jogadoras que serão cortadas do grupo antes da Olimpíada. E, apesar de ter usado um esquema com quatro centrais no Sul-americano e da Copa do Mundo do ano passado, o técnico já adiantou que uma das jogadoras a serem dispensadas será uma meio-de-rede.
A briga é basicamente entre Fabiana, Thaisa e Carol Gattaz, uma vez que o treinador deu como certa a participação de Walewska em Pequim, assim como Fofão e as atacantes Paula Pequeno e Jaqueline.
Carol Gattaz, entretanto, se diz tranqüila e destaca o bom clima do grupo.
— A decisão vai ser do Zé e por enquanto só posso ficar feliz por ter sido convocada. Vou lidar com a possibilidade de corte, como sempre lidei. Eu nunca tive vida fácil, mas todas as quatro meios tem condições de estar na Olimpíada. É uma felicidade para a seleção e uma sorte termos quatro centrais tão bem — elogiou.
E é justamente o bom clima do time que empolga Fofão nesta reta final de sua despedida da seleção brasileira — a atleta deixa a camisa amarela logo após a Olimpíada de Pequim, independente do resultado obtido.
— O Grand Prix é uma viagem muito pesada, com um desgaste muito grande, pois cada semana joga-se em uma cidade diferente e longe uma da outra. Minha motivação vem das meninas. Elas lutam todo dia para ser titular, brincam e estão sempre rindo. Às vezes, eu chego cansada e começo a dar risada com elas. Daqui a pouco, eu já esqueci do cansaço. Isso faz muita diferença. Este é um dos melhores grupos com o qual eu trabalhei — garantiu a veterana jogadora.
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