| 29/03/2008 19h43min
O governo dos Estados Unidos pretende lançar um plano de resgate para os americanos ameaçados de despejo e uma reforma profunda da regulação financeira do país, como resposta à crise econômica atual. A violência pode ter se intensificado no Iraque, mas a economia é agora o tema que domina os discursos do presidente George W. Bush e a agenda de sua administração.
Não é para menos, pois o país vive a crise imobiliária mais profunda desde a Grande Depressão de 1929, que contagiou o resto da economia e provocou grandes perdas às instituições financeiras. Bush destacou neste sábado, em sua mensagem via rádio, que mais de 130 mil famílias poderiam refinanciar seus empréstimos graças à Administração Federal de Moradias (FHA).
— Esse é um bom começo — disse: — Estamos estudando formas para que esse programa possa ajudar mais proprietários.
Por ideologia, o governo republicano se recusa a colocar a mão na economia, mas a pressão de um congresso
dominado por democratas e a preocupação dos
americanos em ano eleitoral impuseram o pragmatismo na administração. Assim, foram divulgados à imprensa dois novos planos econômicos prontos para serem oficialmente publicados. O primeiro prevê ajudar os americanos que — devido à queda dos preços do metro quadrado — devem mais aos bancos que o valor de sua casa.
Perdão de dívidas
Segundo o plano, a FHA proporcionará garantias de pagamento desses empréstimos aos bancos, em troca, estes perdoam uma parte da dívida dos proprietários, o que faria reduzir o valor das parcelas da hipoteca. Trata-se da mesma idéia adiantada há duas semanas pelo legislador democrata Barney Frank, que preside o Comitê de Serviços Financeiros da câmara baixa. O projeto permite à FHA assegurar o pagamento de hipotecas no valor de US$ 300 bilhões adicionais, sempre que os credores concordarem em perdoar parte das dívidas dos mutuários em atraso.
O presidente do Federal Reserve (Fed), o banco
central americano, Ben Bernanke, também solicitou às
pessoas endividadas que façam empréstimos para pagar uma porcentagem da dívida, o que seria mais barato para eles do que manter o processo de execução da hipoteca e vender as casas a preço de saldo. A inadimplência disparou nos EUA no último ano — em 2007, houve 1,5 milhão de execuções hipotecárias, enquanto no ano anterior haviam sido 950 mil. O novo plano do governo supõe uma grande injeção de dinheiro para diminuir os despejos de inquilinos.
Bush iniciará na segunda-feira uma viagem pela Europa e é provável que anuncie oficialmente a proposta na volta. Segundo vários especialistas, grande parte dos problemas dos EUA se deve a uma regulação inadequada quando os bancos concederam hipotecas aos cidadãos no ápice do "boom" imobiliário e vendiam em pacotes financeiros na bolsa.
Remediar danos
A segunda proposta da administração responde diretamente a essa crítica, ao dotar o Fed de muito mais poder para investigar as contas dos bancos de investimento, fundos de risco e qualquer outra entidade que possa ameaçar a estabilidade do sistema financeiro. O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, anunciará oficialmente o plano em discurso na segunda-feira.
Essa medida também chega depois dos democratas pedirem uma regulação mais severa das companhias de Wall Street e dos bancos que estenderam hipotecas a pessoas que eram incapazes de pagá-las, com a expectativa que o preço do imóvel seguiria subindo. Os EUA foram advertidos mais de uma vez de que todas as bolhas, eventualmente, explodem. Com seus dois novos planos de ação o governo tenta agora remediar o dano.
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