| 13/09/2007 17h59min
A crise na direção do Corinthians pode motivar o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados para investigar o futebol brasileiro. O presidente do clube, Alberto Dualib, e o vice-presidente, Nesi Curi, estão afastados e são investigados por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Nos últimos dias, surgiram ainda denúncias na imprensa de suborno a fiscais da Receita Federal e pagamento de atletas do clube por meio de contas fora do país, uma forma de sonegar impostos.
— Acho que já existem elementos para abrir uma CPI desde que o Ministério Público fez a denúncia e foi acatada. Acho que agora estamos agregando novos fatos que estão fortalecendo a necessidade de uma investigação mais profunda e mais ampla — defendeu o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), que foi autor do requerimento de audiência pública realizada hoje pela Comissão de Turismo e Desporto com a presença de conselheiros do Corinthians e do secretário
nacional de Justiça, Romeu Tuma
Júnior.
A instalação de uma CPI foi defendida também pelo conselheiro do time, Flávio Adauto, para que a situação vivida pelo Corinthians funcione como ponto inicial para uma investigação ampla no futebol brasileiro:
— O Corinthians é apenas uma vítima, apenas serviria de pano de fundo para algo muito mais profundo.
Adauto, que também trabalhou como jornalista esportivo par mais de 30 anos, justifica a necessidade de uma abertura nas contas e negociações dos clubes:
— O futebol é formado por uma rede de mentiras. O futebol não tem nada de verdade e 90% do que chega aos meios de comunicação sobre o futebol é mentira.
Em 2004, o Corinthians assinou contrato com a MSI Licenciamentos e Administração, interessada em investir no time. Denúncias e investigações mostraram que por trás da MSI estava o milionário russo Boris Berezovsky. Sobre ele pesam acusações como lavagem de dinheiro e envolvimento com a máfia
russa. Boris é procurado pela Interpol.
Rubens Approbato,
que além de ser conselheiro do time é jurista, assegura que os dirigentes do clube foram alertados por conselheiros de que a MSI era uma empresa fantasma e sobre as atividades ilegais e a origem duvidosa do dinheiro de Berezovsky.
Segundo ele, alguns conselheiros foram contra a parceria, porém "outros chegaram a dizer que não importava a origem do dinheiro".
Os dirigentes do Corinthians chegaram a buscar o governo federal para trazer Berezovsky para o Brasil. Durante a audiência pública, o deputado Silvio Torres apresentou transcrição de escutas telefônicas feitas pela polícia em que Dualib tenta marcar audiência entre o russo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Houve ainda contato com o ministério da Justiça na tentativa de que Berezovsky entrasse com pedido de exilado político. Flávio Adauto confirmou aos deputados que os dirigentes do Corinthians, time de Lula, "tentaram fazer com que o prestígio que eles gozam junto a presidência abrisse
portas".
O secretário
Nacional de Justiça esclareceu que nenhuma das tentativas obteve êxito e que é uma característica do crime organizado buscar autoridades para estabelecer seus negócios no país:
— É normal que queiram buscar um agente público. Isso faz parte do crime organizado.
O investimento no Corinthians foi apenas uma forma que Boris Berezovsky buscou para iniciar negócios no Brasil, segundo Tuma Júnior. Ele afirma que o russo teve a intenção de comprar a Varig, e queria investir em outras áreas, como por exemplo, petróleo.
O caminho para evitar que novos casos como o do Corinthians se repitam seria, na avaliação de Tuma, criar regras para o futebol:
— Temos que criar mecanismos legais onde se estabeleçam regras para que prestações de contas sejam transparentes e fiscalizadas.
Os dirigentes do Corinthians foram convidados para a audiência pública mas não compareceram ou mandarem representantes, de acordo com a presidência
da Comissão de Turismo e Desporto. Na próxima semana,
integrantes do Ministério Público Federal falam aos deputados a respeito das investigações no time paulista.
AGÊNCIA BRASIL
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