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 | 01/06/2007 10h47min

Limitações do Salgado Filho não devem ser resolvidas em menos de quatro anos

Pista curta causa prejuízos a empresários gaúchos

MARTA SFREDO  |  marta.sfredo@zerohora.com.br

Quando Porto Alegre ganhou o novo terminal de passageiros do Aeroporto Salgado Filho, em 2001, a expectativa era deixar para trás os tempos do "campo de aviação" – como as instalações eram chamadas devido a sua precariedade. No entanto, os vidros azulados do prédio moderno não refletem a mesma atualização depois de ultrapassados os portões de embarque.

Pista curta e irregular, dificuldade de operação sob nevoeiro – como registrado ontem – e a mesma falta de pessoal que gerou a rebelião dos controladores de vôo estão entre as maiores vulnerabilidades do Salgado Filho. Várias providências são previstas pela Infraero para sanar os problemas, mas há obstáculos físicos e orçamentários à decolagem das obras.

Embora não tenham cálculos dos prejuízos, empresários reclamam dos custos extras impostos pela limitação que o tamanho da pista impõe às exportações gaúchas por via aérea.

– Há produtos que somos obrigados a transportar por via rodoviária para São Paulo – diz Ricardo Portella Nunes, coordenador do Conselho de Infra-Estrutura da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs).

Quase todo o custo do transporte rodoviário entre o Rio Grande do Sul e o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), explica, representa um sobrepreço sobre a carga, porque a diferença do transporte aéreo Porto Alegre-Miami e São Paulo-Miami, por exemplo, é muito pequena.

– É praticamente só uma hora a mais de avião – acrescenta.

Nesse caso, os setores mais prejudicados são os que produzem mercadorias mais elaboradas, mas também partem de avião produtos perecíveis. Estão nessa lista alguns tipos de calçados, peças metalúrgicas sofisticadas, eletroeletrônicos. Esse desvio pode representar um frete em média 30% mais alto, considerado o custo do transporte aéreo direto Porto Alegre-Miami e o trecho rodoviário. O custo extra pode ser ainda maior dependendo do tipo de carga e o prazo de entrega.

– Muitas dessas perdas são ocultas, que só vamos poder calcular com mais precisão quando a extensão da pista estiver pronta – explica Portella Nunes.

Conforme estimativa do superintendente adjunto da Infraero no Estado, Marco Aurélio Franceschi, com a pista ampliada seria possível aumentar em três vezes a movimentação atual. De tanto ouvir queixas, o executivo tem na ponta da língua os impactos negativos provocados pela situação, mesmo os virtuais:

– Como o Estado está produzindo componentes para microeletrônica (chips), poderia atrair fabricantes de circuitos impressos, que não virão se não tiverem como escoar a produção.

A situação só vai mudar, calcula Franceschi, dentro de quatro anos:

– Como a área é muito molhada, precisamos de um ano só para o adensamento do terreno.

Para ampliar a pista, é preciso remover as vilas Dique e Nazaré, hoje instaladas no local destinado à obra, o que só deve ocorrer a partir de 2008. Um projeto de R$ 50 milhões prevê a realocação de 1,5 mil famílias. A Caixa Econômica Federal vai financiar R$ 31,5 milhões desse total. O restante, diz Nelcir Tessaro, diretor-geral do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), será bancado pela prefeitura de Porto Alegre como contrapartida do empréstimo e na construção de infra-estrutura de apoio, como escola, creche e centro comunitário, na área do Porto Seco, zona norte da Capital.

– Esperamos chegar ao final de agosto já com empresa vencedora da licitação definida, o que levaria o prazo final da retirada para agosto de 2008 – projeta Tessaro.

Se não promete saídas rápidas para o aperto dos exportadores, ao menos a Infraero pensa grande a longo prazo. Já está planejada a construção de um novo terminal de cargas, para garantir o aumento de movimentação quando a pista estiver ampliada.

– Será um dos mais modernos da América Latina – afirma Franceschi.

Solução para nevoeiro está na fila de espera
 
Um dia com pista fechada por quase cinco horas, como ocorreu ontem, ainda pode se repetir nos próximos dois anos e meio no aeroporto Salgado Filho. A operação sob mau tempo está na fila de espera de soluções. Problemas constantes em Porto Alegre, principalmente entre abril e setembro, nevoeiros e céu carregado de nuvens muitas vezes impedem pousos e decolagens.

Há anos está em preparativos a instalação de um equipamento mais sofisticado para permitir operações nessas condições. Parte do mecanismo para a implantação da categoria 2 do ILS, o sistema de pouso por instrumentos, já está disponível.

No entanto, a implantação de luzes na pista, essencial ao funcionamento, só vai permitir a operação a partir de 2009. A diferença é que o novo sistema reduz a exigência mínima de visibilidade, permitindo pousos e decolagens mesmo em condições mais adversas, como em Curitiba.

A previsão era ter começado em abril, mas as denúncias envolvendo a Infraero provocaram novos processos de controle – o que retardou o andamento do projeto.

As irregularidades da pista são reconhecidas como um problema e já têm solução encaminhada, e em prazo relativamente curto. Até outubro, deve ser aberta a licitação, informa o superintendente adjunto da Infraero no Estado, Marco Aurélio Franceschi. Além do recapeamento, está previsto o alargamento da faixa atual de 42 para 45 metros. As obras serão realizadas da meia-noite às 5h.

Embora o fato de ter apenas uma pista seja um ponto vulnerável do Salgado Filho, o coordenador do curso de Ciência Aeronáutica da PUCRS, Elones Ribeiro, pondera que o tráfego aéreo local não é tão movimentado a ponto de exigir outra.

Se a situação é precária na pista, ao menos o terminal de passageiros da capital gaúcha é muito bem avaliado. É o que atesta Cláudio Jorge Pinto Alves, professor de Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), que elaborou um estudo sobre seis aeroportos – Belém, Fortaleza, Salvador, Brasília, Curitiba e Porto Alegre.

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