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 | 07/03/2007 11h04min

Febre do etanol ignora trabalhadores explorados em canaviais

Trabalhador precisa colher pelo menos 10 toneladas para receber salário de R$ 413

Quando o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, busca na América Latina um "New Deal" de cooperação em torno do etanol, nos canaviais do Brasil se agrava a situação de milhares de trabalhadores que enfrentam condições desumanas, denunciaram especialistas. O Brasil é o principal produtor mundial de açúcar e etanol proveniente da cana, e destino de investimentos maciços no setor.

– Mas o açúcar e o álcool no Brasil estão banhados de sangue, suor e morte. Os trabalhadores são massacrados, ficam doentes o tempo todo por diversos motivos – afirmou a pesquisadora Maria Cristina Gonzaga, da Fundacentro, organização do Ministério do Trabalho e Emprego.

O Ministério da Agricultura prevê que a safra 2006-07 chegue ao nível histórico de 475,7 milhões de toneladas, com alta de 10% em relação a 2005-06.

A colheita provém de uma área de 5,84 milhões de hectares, que deve triplicar no médio prazo. Aproximadamente 17,4 bilhões de litros de etanol foram destilados em 2006, um nível que, em 2012, deve chegar a 35,4 bilhões de litros, em grande medida para atender aos mercados da Europa e dos Estados Unidos.

Os trabalhadores recebem seu pagamento segundo o peso da cana cortada diariamente sob o inclemente sol, em meio ao pó. O contrato coletivo vigente entre as filiais da Federação de Agricultura do Estado de São Paulo e os sindicatos rurais estabelece R$ 2,44 por tonelada cortada e empilhada.

São Paulo concentra 59,5% da produção brasileira de cana, e atualmente emprega cerca de 400 mil homens e mulheres por colheita. Cada um precisa colher pelo menos 10 toneladas para receber um "piso salarial" de R$ 413 por mês, segundo o contrato.

A este ritmo de trabalho é atribuída a morte por extenuação de pelo menos 17 cortadores de cana em 2006, denunciadas pela Pastoral do Migrante, somente nos canaviais de São Paulo, disse Luiz Bassegio, secretário dessa entidade da Igreja Católica. Se o trabalhador pára por alguns minutos para descansar, comer, beber água ou urinar, deixa de produzir e de ganhar por esses preciosos instantes.

De acordo com Boletim do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, cada cortador dá aproximadamente 30 golpes de foice por minuto. Esse esforço repetitivo feito com uma postura ruim de pessoas mal alimentadas, com poucas horas de sono e sem atendimento médico, provoca doenças relacionadas ao trabalho e envelhecimento precoce, segundo os especialistas.

A União da Agroindústria da Cana-de-Açúcar, que reúne cerca de 307 engenhos e destilarias e emprega cerca de 440 mil cortadores, nega as acusações.

A Fundacentro, organismo responsável pela área de saúde e segurança no trabalho, organizou no ano passado várias reuniões entre sindicatos e especialistas sobre a questão. Um relatório sobre esses encontros foi terminado na segunda.

O corte dos subsídios na União Européia (UE) para o cultivo da beterraba e a produção de etanol carburante suscitam interesse de europeus por comprar engenhos no Brasil, que domina a tecnologia e tem baixos custos de mão-de-obra, assinala. O esgotamento dos trabalhadores deve-se ao constante aumento das metas de produção, a novas técnicas de cultivo que buscam mais produtividade e a variedades de cana com mais sacarose, embora menos pesada.

– Se antes 100 metros (quadrados) de cana somavam 10 toneladas, hoje são necessários 300 metros – aponta o documento.

A avaliação médica para os trabalhadores é precária ou inexistente. Há dificuldades para comprovar intoxicações com produtos agroquímicos, e a fiscalização do Ministério do Trabalho é insuficiente para atender à atual demanda, acrescenta. O especialista Pedro Ramos, da Unicamp, assinala que cerca de um milhão de cortadores de cana são empregados em cada colheita em todo o Brasil.

– Muitos deles são trabalhadores em um regime de escravidão disfarçada – que não respeita a legislação trabalhista e no qual os capatazes costumam registrar o peso da cana cortada abaixo do verdadeiro, apontou em artigo.

Nos anos 80, um trabalhador cortava quatro toneladas e ganhava o equivalente a R$ 9,09 por dia. Hoje, corta na média 15 toneladas e ganha cerca de R$ 6,88 por dia, segundo os cálculos de Ramos.

AGÊNCIA EFE

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