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 | 24/10/2006 00h33min

Lula e Alckmin retomam acusações em debate

Candidatos repetiram temas e trocaram farpas em encontro na TV Record

A menos de uma semana das eleições, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) elevaram o tom do debate novamente. Já na primeira pergunta do tucano ao presidente, veio à tona o assunto corrupção. Em duas horas de programa na Rede Record os presidenciáveis optaram por um tom entre agressivo e irônico.

Este foi o terceiro embate entre os candidatos. Os dois têm novo encontro marcado para sexta-feira, na Rede Globo.

Primeiro Bloco

Os candidatos começaram o primeiro bloco se apresentando. Lula disse que gostaria de aproveitar a oportunidade para discutir as desigualdades sociais entre as regiões do Brasil, ressaltando a Norte, que considerada atrasada, e a Nordeste, que seria "tratada há décadas como se fosse de segunda classe". E apresentou dados positivos de sua gestão: "depois de reduzir a pobreza em 20%, depois de criar a possibilidade de o pobre ter acesso a computador (...), me sinto à vontade pra discutir o futuro do país e o que cada um de nós (Lula e Alckmin) construiu".

O tucano começou agradecendo à população pela oportunidade de disputar o segundo turno e citou notícias que teriam circulado na imprensa na última semana para criticar o governo petista. O candidato destacou informações que dariam conta de que o Brasil seria o penúltimo país da América Latina em crescimento, só perdendo para o Haiti, e que teria sido descoberto um superfaturamento de R$ 100 milhões em obras no Aeroporto de Congonhas.

Na seqüência cada presidenciável pode dirigir duas perguntas ao adversário. Alckmin começou indagando sobre os escândalos de corrupção surgidos nos últimos anos, e questionou se fato de diversas fraudes terem surgido na gestão de Lula era uma coincidência.

O presidente foi taxativo:

– Não é coincidência. Escândalos aparecem porque o governo aparelhou os sistemas de investigação. (...) Não há uma única denúncia em nosso governo que não apuremos, doa a quem doer.

E acusou Alckmin de ter bloqueado 69 Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) durante sua administração frente ao governo de São Paulo.

Alckmin contra-argumentou dizendo a imprensa era a responsável pela publicidade das fraudes. E acrescentou:

– Se há tanto apreço pela investigação, porque não dizer, olhando no olho do povo brasileiro, de onde vieram os R$ 1,7 milhão? (dinheiro encontrado com petistas e que seria utilizado para compra do Dossiê Cuiabá, contra políticos tucanos).

Na pergunta seguinte Lula introduziu um tema pouco discutido até o momento nesta campanha: indústria naval. Destacou feitos de sua gestão e indagou Alckmin sobre suas políticas para o setor.

O tucano partiu pro ataque. Disse que iria "beneficiar os investimentos" na área, ao invés de "favorecer os banqueiros". Conforme Alckmin, o Brasil pagou R$ 156 bilhões em juros durante a administração petista. Criticou as relações comerciais do Brasil com a China que, segundo ele, seriam desvantajosas, e afirmou que o país tinha 8 milhões de desempregados quando Lula assumiu, e hoje tem 9 milhões.

– Meu compromisso é com quem trabalha e com quem produz. No meu governo, a indústria brasileira não vai ser sucateada como está sendo hoje – disse.

Lula rebateu dizendo que o Brasil tem superávit na balança comercial com os chineses, que 50% das exportações brasileiras são de produtos manufaturados e que a balança comercial em seu governo deve alcançar R$ 134 bilhões positivos, contra R$ 60 bi da época do governo do tucano Fernando Henrique Cardoso.

Em sua segunda pergunta Alckmin acusou Lula de cortar verbas para as pessoas com algum tipo de deficiência. "Por quê?", indagou.

Lula disse que a questão não deveria ser feita pra ele, mas para os portadores de deficiência física, dando a entender que essa parcela da população estaria satisfeita com as políticas públicas direcionadas a ela. Citou a aprovação de leis de acessibilidade e cão-guia, além de apoio da Caixa Econômica Federal a campeonatos paraolímpicos.

– Discursos, discursos, discursos – respondeu Alckmin, acrescentando que a realidade é totalmente diferente da apresentada pelo presidente. Segundo o tucano, o petista "tirou R$ 1,6 bilhão da saúde e vetou aumento aos aposentados".

No seu último questionamento no primeiro bloco Lula entrou em um dos campos que está sendo amplamente abordado por seu adversário: gastos públicos. Afirmou que o PSDB, no governo FH, duplicou a dívida pública brasileira, e perguntou ao tucano como ele pretende reduzir despesas.

– Primeiro é na corrupção. Estudos da Fundação Getúlio Vargas mostram que o desperdício é de 3,5 bilhões de dólares – disse.

Como já tinha afirmado no último debate, no SBT, Alckmin indicou que 34 é um número excessivo de ministérios e que pretende cortar funcionários contratados em cargos de confiança. Também informou que economizou R$ 4 bilhões durante sua gestão no Estado de São Paulo com a informatização de processos de compras públicas.

Segundo Bloco

Lula abriu o segundo bloco perguntando a Alckmin sobre um suposto rombo de R$ 1,2 bilhão nas contas públicas de São Paulo, o que teria forçado o atual governador, Cláudio Lembo (PFL), a interromper obras. O tucano rebateu afirmando que há 12 anos São Paulo controla o déficit público sem aumentar impostos, tendo reduzindo taxas de 200 produtos e serviços. Alckmin ainda criticou Lula dizendo que o presidente preferia falar sobre uma gestão estadual – a de São Paulo – em vez de discutir questões relativas à União. Para terminar, o candidato do PSDB disse que a carga tributária está destruindo a indústria brasileira, obrigando as empresas a investir em outros países.

Lula rebateu ao afirmar que o Brasil chegou a devolver US$ 15 milhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e, assim, fez com que o órgão "parasse de dar palpite" na economia nacional.

Alckmin citou Mário Covas ao dizer que um governo precisa ter princípios e valores, e em seguida pediu explicações sobre o fato de o Ministério Público ter denunciado superfaturamento de R$ 100 milhões para obras no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Lula disse que ainda não houve julgamento do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o caso e buscou minimizar denúncias em época de campanha. Segundo o petista, o país tem instituições sérias, como Polícia Federal e o poder Judiciário. O presidente disse que não tem medo de investigar e, falando sobre economia, afirmou que se o país não cresce a taxas elevadas mas promove distribuição de renda. Lula acrescentou que na época do milagre econômico, quando a taxa de crescimento do Brasil era de 10%, cresceu a pobreza.

Alckmin rebateu ao afirmar que a carga tributária é alta, e que é necessário transparência na gestão do dinheiro público.

Educação foi tema da pergunta de Lula para Alckmin. O ex-governador de São Paulo citou planos para ampliar creches e o Ensino Infantil, além de priorizar o Ensino Fundamental, a exemplo do que ocorreu na sua gestão no Estado, quando foram ampliadas as horas-aula diárias. O tucano também disse querer ampliar o Ensino de Jovens e Adultos e garantir Ensino Superior a mais cidades brasileiras. Lula disse que havia aumentando de oito para nove anos o tempo de Ensino Fundamental, citou investimentos em Ensino Superior e na implantação de escolas técnicas, além de afirmar que pretende criar um salário mínimo nacional para estimular os professores. O tucano disse que Lula já teve quatro anos para promover melhorias na educação, o que não ocorreu.

Na última pergunta do bloco Alckmin se voltou à questão da saúde, perguntando por que Lula cortou R$ 1,5 bilhão para o setor. Lula ironizou ao dizer que esta era a terceira vez que o tucano fazia essa pergunta. O presidente disse que aumentou o número de médicos da família, equipes do Programa Saúde da Família (PSF), além de ter criado farmácias populares e investido em saúde bucal. Alckmin voltou à carga dizendo que a saúde tem problemas e que no Estado de São Paulo há distribuição gratuita de medicamentos como insulina. Lula rebateu ao afirmar que os Estados só investem mais no setor porque o governo federal ampliou a verba para a saúde.

Terceiro Bloco

No terceiro bloco jornalistas fizeram perguntas diretas aos candidatos, e as respostas puderam ser comentadas pelos adversários. Adriana Araújo perguntou a Lula qual a principal virtude de Geraldo Alckmin como homem público.

O presidente disse que via mais qualidade em Alckmin no período anterior aos debates, e que agora percebia um homem que não conhecia. De acordo com Lula, antes da série de programas, o tucano era totalmente civilizado:

– Não sei o que aconteceu ultimamente que eles (oposição) andam meio nervosos.

Alckmin argumentou que respeita as pessoas, é educado, mas que não pode ser exigido a compactuar "com a impunidade", fazendo relação com recentes casos de corrupção surgidos no governo federal. 

– Eu ando na rua e vejo os problemas. O candidato Lula não deve ficar bravo com as minhas críticas e sim com os fatos – disse.

Para Alckmin a jornalista indagou qual era o seu principal defeito como homem público. O tucano não citou nenhum em específico:

– Certamente que tenho muitos defeitos. Roubar não, nos meus 32 anos de vida pública (...) Também não jogo culpa nos outros. Se alguém errar no meu governo, fui eu quem errou. E não justifico erro com erros passados (...) posso ter muitos defeitos, mas tenho um compromisso com o povo: 'os fins não justificam os meios, e os meios precisam ser sempre corretos'.

O colunista Bob Fernandes trouxe à pauta o controle público e social dos meios de comunicação de massa, com ênfase na televisão. Ambos os candidatos se mostraram favoráveis à liberdade de imprensa, mas ressaltaram que, algumas vezes, a mídia abusa do poder que lhe é concedido. Lula destacou a implantação da TV Digital como forma de facilitar o acesso a canais por setores de classe e estudantes.

Fernandes também perguntou a Alckmin como o candidato do PSDB pretende reverter a vantagem apontada por pesquisas recentes em favor de Lula. A menos de uma semana do pleito, institutos indicam que o petista receberia cerca de 24 milhões a 25 milhões a mais de votos do que o tucano.

– A eleição é só no domingo que vem. No primeiro turno, diziam que não teria segundo (...) Eu tinha cerca de 31% e acabei com 41,5%. Temos que ter cuidado com as pesquisas. A população já não dá muita bola pra elas – respondeu.

A última jornalista a participar foi Christina Lemos. Indagou se Lula havia abandonado a classe média, já que indicadores recentes demonstram lucros maiores que os dos bancos para grandes empresas.

O presidente novamente trouxe números de seu governo. Disse que grande parte da classe trabalhadora teve, durante três anos consecutivos, aumento real de salários. Além disso, informou que em sua gestão o poder de compra do salário mínimo subiu de 1,3 para 2,4 cestas básicas.
A Alckmin Christina perguntou se o candidato se comprometeria a acabar com a Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF) ou com algum outro imposto.

– A CPMF arrecadou no ano passado R$ 30 bilhões. Não dá pra deixar de arrecadar essa quantia de um dia para o outro (...) mas a CPMF deve ter um caráter regulatório – informou.

O tucano disse ainda que reduziria logo no início partes do imposto de renda e impostos sobre o óleo diesel e a eletricidade como formas de baratear os custos do transporte
público.

Quarto Bloco

O quarto bloco começou quente, quando Alckmin perguntou se a mentira na campanha de Lula era válida. Ao elencar as supostas mentiras do petista, o tucano avançou no tempo de pergunta e Lula aproveitou para ironizar:

– Eu sou democrático, dou 30 segundos para você.

O tucano negou que extinguiria o Bolsa-Família e promoveria privatizações. Lula afirmou que o PSDB tem uma história de privatizações e que Alckmin poderia dar seguimento a esta, já que promete vender o avião presidencial – o que Lula classificou como "privatizar o meio de transporte dele". Num tom mais uma vez irônico, questionou:

– Imagina o que fará com o que não é dele – afirmou, ao dizer que Alckmin gastou R$ 130 milhões em aluguéis com aviões quando governou São Paulo por ter doado as quatro aeronaves que o Estado tinha.

A resposta foi dura:

– A mentira é reiterada. Eu convido para amanhã (terça) nós chamarmos toda a imprensa para ver se os R$ 130 milhões é verdade ou mentira – rebateu o tucano, que disse ter doado os helicópteros para polícias e reafirmado que irá vender o Aerolula para construir cinco hospitais.

Em seguida a política externa mobilizou o debate. Lula perguntou o que o ex-governador de São Paulo faria. Alckmin disse que botará o interesse brasileiro à frente de outros e defenderá os trabalhadores do país, aprofundando a inserção internacional do Brasil. Ele criticou o que considera falta de avanço em relação à União Européia, Mercosul e Alca, além de questionar a negociação com a Bolívia sobre a Petrobras e a relação comercial com a China. Lula contra-atacou dizendo que o Brasil é protagonista em várias discussões e que participa de discussões econômicas com diversos países. Alckmin, por sua vez, afirmou que o presidente só viaja, sem trazer resultados práticos. Lula apresentou números sobre incremento em exportações para dizer que há avanços no tema.

Alckmin trouxe ao debate o tema do Nordeste, criticando Lula por reduzir em R$ 500 milhões o investimento na região, extinguindo programas de irrigação, entre outros. O candidato à reeleição disse que achava estranha a pergunta, elencando projetos voltados à região, com a qual disse ter uma relação sangüínea (o presidente é Pernambucano) e para a qual dava prioridade por ser a mais pobre do país.

Lula encerrou o bloco voltando ao tema da política externa, dizendo que seu governo havia conquistado avanços por não deixar que a Alca fosse imposta. O tucano rebateu que o país perde com acordos já firmados entre os Estados Unidos e outros países das Américas.

O quinto bloco foi de considerações finais.

Alckmin se colocou com um homem de fé, temente a Deus, filho de funcionário público, que morou na zona rural e precisou trabalhar para pagar seus estudos. Segundo o tucano, essa condição hoje lhe permite saber o que a população precisa.

Disse que seus sonhos são que "as pessoas tenham mais oportunidade" e que "a pobreza e a desigualdade sejam reduzidas através do crescimento". E estabeleceu como compromissos principais emprego, renda e trabalho.

Lula afirmou que teve a oportunidade, nos últimos quatro anos, de provar que é possível compatibilizar crescimento econômico e distribuição de renda. Destacou que conseguiu oferecer o mínimo para as pessoas mais humildes do país, e  ressaltou ainda ter muito a fazer pelos "190 milhões de brasileiros".

Confira aqui os principais pontos do debate

JANAÍNA SILVEIRA E JEFFERSON CURTINOVI
 
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