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 | 19/10/2006 22h41min

Lula e Alckmin fazem debate morno na TV

Em tom mais leve, candidatos trocaram ironias e discordaram sobre indicadores

O debate da noite desta quinta-feira entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin foi morno. No programa com duração de cerca de uma hora e meia exibido ao vivo pelo SBT, os candidatos adotaram um tom mais leve do que o apresentado no programa da Rede Bandeirantes que foi ao ar há 11 dias.

Entre ataques e ironias, os presidenciáveis apresentavam propostas. O tucano reafirmou que venderia o avião presidencial, conhecido como Aerolula, e questionou o crescimento de apenas 2% na economia do país. Também garantiu que não promoveria privatizações de instituições como o Banco do Brasil (BB) e os Correios, mas elogiou avanços no setor de telefonia (privatizado na gestão FH). Alckmin disse que sua prioridade é gerar empregos, que devem ser conquistados com a atração de investimentos.

Lula, por sua vez, afirmou que trabalhou para que o Brasil garantisse bases sólidas para atrair mais investimentos nos próximos anos. O presidente destacou avanços sociais e se valeu de indicadores do seu governo para mostrar que estava investindo em áreas como saúde e educação.

Primeiro Bloco

Quatro temas foram sorteados, e os candidatos tiveram tempo para exposição, réplica e tréplica. Lula começou colocando a agricultura como um dos pilares do desenvolvimento no país, e explicou que o setor sofre por estar exposto a pragas e intempéries climáticas. O presidente destacou que o programa de seguro agrícola implantado em sua gestão pode evitar a estagnação causada por problemas naturais.

Lula admitiu que o Brasil teve problemas sérios na área nos últimos dois anos "porque o mundo inteiro produziu demais, sobretudo na área de grãos", e apresentou números de seu governo. Segundo o presidente, foi disponibilizado recentemente um plano safra de R$ 60 bilhões (R$ 50 bi para o agronegócio e R$ 10 bi para a agricultura familiar), que seria o maior orçamento para a agricultura nos últimos 30 anos. Entre outros dados, Lula ainda disse que entre 2003 e 2006 R$ 140 bilhões foram investidos no setor, e que os recursos para a agricultura familiar saltaram para R$ 10 bilhões na safra 2007.

Alckmin rebateu dizendo que a "agricultura brasileira foi levada, pela omissão e pala falta de entendimento da importância econômica do setor, a sua maior crise dos últimos 40 anos". Segundo o tucano, impostos elevados, infra-estrutura e logística ruins e a volta de doenças como newcastle e febre aftosa são alguns dos exemplos de má gestão que acabam se refletindo no bolso do consumidor, exemplificado com a alta do preço do trigo.

Sobre corrupção, o tucano voltou a lembrar os escândalos surgidos durante o governo Lula. Citou a CPI dos Correios, o mensalão e o Dossiê Cuiabá, entre outros, classificando o assunto de "endêmico" na administração atual.

O candidato afirmou que um governo, começando por seu presidente, precisa dar o exemplo para a sociedade, e cobrou de Lula uma resposta para a origem dos R$ 1,7 milhão apreendidos em setembro com petistas em um hotel de São Paulo – o dinheiro seria usado na compra de documentos que ligariam políticos do PSDB com a máfia das ambulâncias. De acordo com Alckmin, a sociedade merece explicações.

Lula argumentou que os escândalos de corrupção só estão aparecendo porque seu governo, "como em nenhum outro momento da história do país", tem apurado as denúncias. Segundo o presidente, o costume de governos anteriores era de "empurrar a sujeira para debaixo da mesa". O petista ainda afirmou que foram afastadas de cargos públicos todas as pessoas que tiveram participação comprovada em alguma ação ilícita.

O petista também expôs números quando o tema sorteado foi saúde. Conforme o presidente, os investimentos na área em sua gestão subiram de R$ 28 bilhões para R$ 44 bilhões, o número de agentes comunitários cresceu de 175 mil para 270 mil e foram criados 400 centros de saúde bucal. Além disso, 10 mil agentes de saúde bucal foram contratados e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi criado, atendendo atualmente, segundo Lula, 817 municípios no país.

Alckmin afirmou que a saúde brasileira piorou nos últimos quatro anos. Argumentou que quase R$ 30 bilhões arrecadados com a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e que deveriam ser investidos na área, não foram devidamente aplicados. Disse ainda que o programa de remédios genéricos foi abandonado e que os hospitais do Rio de Janeiro "entraram em colapso". Também considerou ruim a qualidade do atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e afirmou que, "como médico", tem o dever de melhorar a saúde nacional.

No quesito segurança o tucano bateu no combate ao tráfico de drogas e de armas nas fronteiras do país. Afirmou que o atual governo prende apenas os bandidos de "terceiro e quarto escalão" e disse ver nos jornais de todas as grandes capitais manchetes sobre violência. Informou ainda que, caso eleito, irá criar o Ministério da Segurança Pública e trabalhará, "desde o início", em conjunto com os governadores.

Além disso, exaltou alguns números de sua gestão à frente do Estado de São Paulo. O tucano afirmou ter acabado com o Carandiru, eliminando os grandes presídios na capital paulista, e ter contratado 130 mil policiais.

Em sua réplica, Lula ironizou o adversário:

– Que o povo de São Paulo não ouça isso, porque eles vão pensar que tem um PCC em cada canto.

Também disse que o governo elevou, nos últimos quatro anos, 41% do efetivo da Polícia Federal e desmantelou 184 quadrilhas. Argumentou que o trabalho nas fronteiras é bom, mas que elas são muito extensas. Lula disse ainda que foi proposto aos Estados um sistema de integração na área de segurança, e o único Estado que não o teria aceitado foi exatamente São Paulo, governado pelos tucanos.

Alckmin rebateu, afirmando que "não tem nenhum líder do crime organizado em São Paulo que não esteja preso". Prometeu endurecer a legislação com os bandidos mais perigosos e cobrou que os "criminosos do colarinho branco" estivessem atrás das grades.

Segundo bloco

Lula abriu o bloco de perguntas de candidato para candidato questionando Alckmin sobre políticas para a educação. Segundo o petista, houve piora na qualidade do ensino em São Paulo. O tucano disse que responderia à mesma questão já proposta em embate anterior . Ele afirmou que, como governador de São Paulo, ampliou de quatro para até seis o número de horas de aula/dia. No governo federal, Alckmin promete investimento forte no ensino infantil e fundamental, além de universalização do Ensino Médio, inclusive com recursos para Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Os candidatos discordaram sobre sistemas de avaliação da qualidade de ensino e, ao comentar sobre votações de projetos no Congresso, Alckmin alfinetou o oponente ao dizer que havia votos para absolver mensaleiros, mas não havia maioria para ver programas aprovados.

Quando Alckmin foi perguntar a Lula, usou um ranking publicado pela publicação inglesa The Economist sobre países emergentes e questionou o presidente sobre a posição atribuída ao Brasil em um total de 27 países. Lula não soube responder e criticou o adversário ao dizer que ele acreditava em reportagens publicadas no Exterior. Segundo Lula, o atual governo criou uma base sólida que poderá garantir mais investimentos. Para o tucano, a taxa de 2% de crescimento é pequena.

– Eu não estou satisfeito com isso – disse Alckmin.

Lula trouxe ao debate o tema privatização. Disse que mesmo com a venda de estatais, o país não cresceu significativamente e ainda teve o aumento da dívida pública. Alckmin buscou centrar a questão na geração do emprego e criticou o fato de Lula "não reconhecer nada que venha antes dele". O tucano afirmou que houve avanços importantes com privatizações, como no setor de telefonia. Depois, negou que estivesse em seus planos a venda de instituições como Banco do Brasil (BB) e Correios.

Saúde foi outro tema escolhido por Alckmin. Ele criticou declaração de Lula de que o setor "estaria beirando à perfeição" no país e disse que não está satisfeito com o que vê, lembrando que já foi operado por meio do sistema público na Santa Casa de Pindamonhangaba. O tucano afirmou que o "sucateamento" do setor, como classificou, não deveria ter ocorrido porque há dinheiro, vindo por meio da CPMF. Lula se defendeu dizendo que a saúde é um setor que necessita de constantes melhorias e que somente com crescimento econômico é possível garantir mais investimentos. Para o presidente, o Brasil já cresceu 10% ao ano, mas sem proporcionar melhor qualidade de vida para a população de baixa renda.

– É possível crescer com distrubição de renda, com forte política social no país – afirmou Lula.

Terceiro Bloco

Em novo bloco de perguntas de candidato para candidato, Lula começou falando sobre o programa Luz para Todos, implantado em sua gestão. Destacou que 5 milhões de pessoas já foram atendidas gratuitamente, e que seu compromisso é atender mais 7 milhões em 2008, caso reeleito. E criticou Alckmin, alegando que o Estado de São Paulo, até o início do período pré-eleitoral governado pelo tucano, não cumpriu compromisso de arcar com 10% dos custos do programa em seu território.

Alckmin não comentou a acusação e ironizou o petista:

– Lula é ótimo para mudar de nome os programas (...). O Luz para Todos era o Luz do Campo, surgido no governo FH.

O governo de Fernando Henrique Cardoso, segundo Alckmin, também tinha o Bolsa-escola (em prol da educação) e o Bolsa-alimentação (contra a desnutrição infantil), que teriam sido transformados por Lula no Bolsa-família. O tucano, que prometeu manter e ampliar a programa atual, ainda acusou a administração atual de ser a única que não irrigou um único hectare de terra no país.

Lula argumentou que o Luz para Todos não tem nada a ver com o Luz no Campo. Afirmou que o programa de FH era pequeno e atendia pouca gente, além de ter custos para a população.

Na vez de Alckmin, o tucano criticou os gastos do governo federal com juros de dívidas. Disse que foram dispensados, em três anos, R$ 329 bilhões, R$ 138 bilhões a mais do que em mesmo período de gestão de FH. Também bateu na concentração de renda, argumentando que os bancos tiveram lucro de R$ 20 bilhões por semestre, valor que seria o triplo do que era em governos anteriores.

Lula disse que as empresas brasileiras, pela primeira vez nos últimos 23 anos, tiveram mais lucros do que os bancos. Que a média de renda do trabalhador cresceu e que as pessoas estão comendo mais nos últimos anos. Voltou a admitir que "o Brasil não está uma maravilha, mas ninguém fez mais pelo país do que seu governo".

Na seqüência os candidatos retomaram a discussão do primeiro bloco sobre saúde. Alckmin disse que Lula reduziu em 7,49% os investimentos no setor, se comparado com o governo anterior, e outros 44% em saneamento e habitação. O presidente rebateu as críticas de Alckmin repetindo números sobre saúde que já havia apresentado.

Alckmin ainda cobrou cortes de gastos por parte do petista. Disse que Lula pretende manter os atuais 34 ministérios, número considerado alto pelo tucano, e bateu no número de funcionários contratados para cargos de confiança. Também afirmou que o Aerolula, avião presidencial, custou R$ 150 milhões, valor que, segundo ele, poderia ser utilizado em áreas básicas.

Lula disse que algumas dessas Pastas são mantidas porque têm um Orçamento baixo e valor imensurável para a sociedade. Citou como exemplo a da Pesca.

Considerações finais

Lula pediu que os eleitores refletissem sobre os dois projetos apresentados. Disse que Alckmin representava um governo que esteve oito anos no poder, se referindo à gestão de Fernando Henrique Cardoso, além de 12 anos à frente do governo de São Paulo, numa referência aos mandatos do próprio candidato tucano e de Mário Covas. O presidente elencou uma série de indicadores sociais e disse que seu sonho é transformar o Brasil em um país rico e numa das maiores democracias do mundo.

Alckmin criticou o que considera um "descalabro" do ponto de vista ético no governo Lula e criticou a gestão atual, que, segundo ele, não garantiu o bom funcionamento de áreas como saúde, educação e segurança pública mesmo mantendo 34 ministérios. Para o tucano, é preciso trabalhar pelo emprego, "o grande problema brasileiro". Ele prometeu baixar juros para garantir investimentos e, assim, criar novos postos de trabalho.

JANAÍNA SILVEIRA E JEFFERSON CURTINOVI
 
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