A instalação da Loya Jirga, a tradicional assembléia afegã que deveria começar nesta segunda-feira, dia 10, em Cabul, para escolher o governo de transição, foi adiada para esta terça. De acordo com o porta-voz da comissão da Loya Jirga, Abul Salam Rahimi, o excesso de delegados foi uma das razões do adiamento. Os organizadores esperavam a participação 1,5 mil delegados, mas pelo menos 2 mil afegãos acabaram comparecendo à tenda armada em Cabul.

O problema, no entanto, parece ser político. Instituição de decisões afegã que existe há mil anos, a Loya Jirga teria sido adiada por causa de divergências entre a facção do governo dominado pela Aliança do Norte e os seguidores do ex-rei do Afeganistão Mohammad Zahir Shah, 87 anos.

– Há delegados que querem que o ex-rei assuma o papel de chefe do Estado. Outra parte está contra porque se fosse eleito para esse cargo teria poderes, mas devido a sua idade, poderia delegá-los a um primeiro-ministro – disse Humayum Assefy Shah, um dos 1.551 membros da Loya Jirga e cunhado do ex-monarca.

O ex-rei voltou a afirmar que não tem intenção de restaurar a monarquia e que não é candidato a qualquer cargo no novo governo. A assembléia que deverá ser instalada nesta terça reunirá não mais de 1,7 mil delegados dos 381 distritos do Afeganistão. Os delegados vão deliberar durante uma semana para constituir um novo Executivo de transição encarregado de comandar os destinos do país nos próximos dois anos.

A comunidade internacional tem feito apelos para que o governo de transição seja mais representativo da diversidade afegã do que o atual governo interino, dominado pelo tadjiques da Aliança do Norte, coalizão antitalibã que, com o apoio dos EUA, entrou em Cabul em novembro quando a milícia fundamentalista retirou-se do poder. Os patanes, que representam 40% da população e constituem a etnia mais importante, se consideram desvalorizados pelos acordos de Bonn e contam com uma redistribuição dos cargos mais favorável.